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FÉLIX NUNCA imaginou que pudesse se sentir de ressaca, mesmo sem ter colocado uma gota de álcool sequer na boca. Mas era exatamente aquela sensação que tinha naquele momento.
A única coisa que havia feito no fim de semana, além de curtir a preguiça e colocar a leitura atrasada em dia, ou ao menos tentar, fora refletir sobre suas tomadas de decisões mais recentes. Mas até onde sabia aquilo não era suficiente para causar nem a enxaqueca e muito menos a completa aversão à luz que estava sentindo.
Ótima maneira de começar uma segunda-feira, pensou consigo mesmo com um certo quê de frustração, enquanto observava a paisagem do campus da Universidade através da janela da biblioteca.
Havia saído da aula há certo tempo e internamente agradecia por aquela ter sido a última naquele dia — que nem havia começado a tanto tempo assim, mas já parecia longo demais pro seu gosto. Em contrapartida, ainda queria terminar um trabalho antes que pudesse ir para casa, e por isso se encontrava no local. Mas nem o silêncio sagrado da biblioteca o estava ajudando a se concentrar.
Concentração. Essa era uma coisa que vinha sendo difícil de se fazer nos últimos dois dias.
Um suspiro cansado escapou de seus lábios ao pensar naquele assunto, enquanto automaticamente pegava o celular que estava largado sobre a mesa de estudos, abrindo a câmera frontal e prontamente seguindo o olhar ao próprio pescoço.
Mesmo que tivesse tentado usar maquiagem para cobrir as marcas, agora nem tão arroxeadas, em sua derme, não obteve muito sucesso porque elas teimavam em aparecer, um pouco menos destacadas, mas que ainda se esgueiravam pela gola da sua camisa.
Sentiu o rosto esquentar levemente enquanto as encarava, puxando de leve o tecido da camisa, tentando cobrir melhor, embora sem muito sucesso. Lembrava bem dos olhos curiosos e surpresos que recebeu de alguns colegas e até dos professores, embora ninguém tivesse tido a audácia de comentar sobre.
Frustrado acabou desistindo, bloqueando o aparelho e o largando sobre a mesa, em seguida dando uns tapinhas nas próprias bochechas, desejando que a vermelhidão persistente sumisse. O que era um pouco complicado, já que toda vez que lembrava de cada detalhe que levou àquelas marcas a estarem em seu pescoço sentia-se envergonhado e consequentemente corava, não importava se havia alguém por perto ou não, era automático. E isso vinha acontecendo com frequência.
A questão era que Félix ainda estava, mais que tudo, surpreso consigo mesmo.
Era um rapaz tímido e desajeitado com certas coisas, se achava completamente sem graça. Então não é nem preciso dizer que não era do tipo que frequentava bares ou qualquer outro tipo de lugar agitado, muito menos que beijava garotos que havia acabado de conhecer, em banheiros públicos ainda por cima.
