11 - Memória

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Luiza

Segundo pesquisas, a área da saúde é reconhecidamente uma das áreas em que os profissionais apresentam maior nível de estresse. Raiva, cansaço físico, cansaço mental, estresse, ansiedade, todas essas emoções nos consome dia a dia no ambiente hospitalar. E todos esses sentimentos me consumiam naquele momento.

O plantão estava caótico num domingo e eu não via a hora de poder ir pra casa descansar no meu próprio canto. Entre mil e umas admissões, exames, avaliações, chamei a Duda na área de descanso médico pra lhe contar sobre a noite.

- Não demora a falar que eu tô ansiosa, FALA! - Duda esfregava uma mão na outra demonstrando empolgação.

- Calma, garota - revirei os olhos - nós saímos para um bistrô que inclusive é maravilhoso, você precisa conhecer e...

- Luiza! Você é péssima contando as coisas, mana. Vai direto ao ponto, sabe?

- Que ponto? - Perguntei confusa.

- Ô, Lu... - ela ria com a mão sobre a boca - como foi a conversa de vocês? Você gostou da conversa? Gostou de sair com ela?

- Ahhh... Foi ótima. Nos demos muito bem, sabe?! Sinto que fiz a coisa certa em dar oportunidade de conhece-la um pouco mais e...

- E...?

- Tá, Eduarda! A gente se beijou. - Falei tímida.

Duda não conteve a alegria e saiu saltitando pela sala - por sorte, só tinha nós duas - batia os pés no chão enquanto me sacudia.

- Para. Com. Isso. Duda.

- Amigaaa! Eu vivi por esse momento. Meu VaLu aconteceu! - Disse animada.

- Hã?! Quem é VaLu?

- Puta merda, Luiza! Esquece. - Bufou - Mas então... Você gostou? Como foi a sensação?

- Foi... foi muito bom - eu sorri - Não esperava que beijar mulher de novo me faria sentir algo assim.

- Assim como?

- Ah, eu... Eu tive vontade de continuar, sabe? De ir além do beijo, de chama-la para ir pra minha casa ou vice-versa. Me entregar sem pensar nas consequências. - Desabafei fazendo a Duda rir.

- Ora ora, como essa doutorinha está! Mas por que não se entregou?

- Ah, amiga... não quero apressar as coisas. Uma vez uma colega minha me disse "Não se envolva com outra pessoa se ainda está superando alguém, você vai terminar machucando uma pessoa que não tem nada a ver com seus problemas amorosos." E isso ficou na minha cabeça, sabe?

- Sim, eu super entendo. Você está certa, mas aproveitando o gancho... como você está se sentindo em relação ao Heitor?

- Caramba... essa é uma pergunta que nem eu mesma me fiz. Mas sei lá, eu acho que eu estou bem. Me recuperando aos poucos, não digo que tenha que superar o Heitor em si, porque apesar de ter amado ele, estava tudo muito morno, muito chato então o sentimento foi se desfazendo aos poucos, sabe? Mas o que me doeu de verdade e eu ainda preciso superar cem por cento é a traição.

- Que bom te ver falante, tava sentindo falta disso! - Duda me abraçou de lado - Você vai superar. Mas sem querer confundir sua cabeça, homem é uma desgraça mas mulher quando faz sofrer... - Deu de ombros.

- Ah, claro. Obrigada pelo incentivo, madame. Tu és uma amiga maravilhosa! - Falei em um tom sarcástico.

Eu e Duda saímos rindo do descanso notando alguns olhares sobre nós. Sobre isso, estávamos acostumadas. Algumas funcionárias implicavam com a nossa amizade e achavam que Duda "enchia a bola da médica cardiologista", mal sabem eles que eu insisti pra ser amiga dela no início e pra a infelicidade delas, hoje somos inseparáveis e altamente talentosas.



GAROTA DA VITRINEOnde histórias criam vida. Descubra agora