Cap VIII

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Ao me distanciar notei o quão difícil era evitar olhar para trás, era como se algo me atraísse para conferir se eu ainda estava sozinho.  E talvez eu esperasse olhar para trás e ver alguém parado me olhando partir, ou no último segundo me chamasse, porém era só eu em um branco sem fim do teto ao chão.
Entrei na sala e todos estavam reunidos, só me aguardando para realmente conversar, é um tanto novo esse começo de vida, mas fará parte dos meus dias agora.
_Ele chegou, podemos começar, respondeu Josh que se endireitava na cadeira
_Como sabem uma guerra se aproxima, e qualquer ajuda é bem vinda, porém Josh me ressaltou algo um pouco importante todos estão envolvidos com os humanos e vivem de acordo com eles, tem um lugar para voltar
_Vai nos mandar para a Terra enquanto uma guerra se aproxima? Perguntei um pouco curioso
_Liam, seus treinamentos podem ser conduzidos para que não afete seu estilo de vida e ...
_Se voltarmos faremos o que? Estudaremos? Se não ficarmos fortes o bastante para defender a Terra e os humanos, não haverá mais um planeta para voltar quem dirá alguma vida ou escola, falei o interrompendo
_Eu sei, mas leve isso como uma despedida, caso queira ficar no céu depois da nossa luta será bem recebido, porém se não quiser iremos respeitar sua decisão. Mas com tudo, é bom manter uma aparência de normalidade, porque desaparecer do nada não é conveniente. Respondeu o que me fez pensar que talvez esteja certo
_E quando voltamos? Perguntei me jogando para trás na cadeira me dando por vencido
_Hoje mesmo, ninguém notará nada e sem contar que se aquela demônia está perto será bom averiguar.
_Então vamos, respondi indo até a porta
_Estamos logo atrás de você, falou Josh me seguindo
_Vamos lá, respondeu Mia
_E como ficamos na escola? Perguntou Nathaniel encarando a garota
_Normal, ou quer andar por aí de mãos dadas segurando uma plaquinha, somos anjos unidos?
_Que? Credo que breguice!
_Exatamente, respondeu a garota o deixando calado até chegarmos na Terra
_Então, a gente se vê! Falei levantando a mão e seguindo só
Poderia ir com Josh, afinal agora não preciso esconder nada sobre minha vida e sei que ele entenderia cada expressão minha, mas saber que mentiu por mais pequeno que fosse não consigo lidar. Acho que a convivência com os humanos afetou um pouco algumas emoções e princípios que eu tinha comigo.
Minha expressão, meu jeito de lidar ou até falar com ele não é mais o mesmo, e eu sei que aqui seria bom continuar sendo o seu amigo, mas isso é um detalhe que não vou conseguir seguir tão fácil.
_Olha quem voltou? A margarida! Respondeu Sofia me surpreendendo
No dia em que saímos pela cidade, conversamos o bastante para saber que ela é uma humana extraordinária e cheia de vida, não digo no sentido literal mas sim de vontade de estar aqui respirando mesmo que não seja fácil às vezes.
Descobri que temos coisas em comum, e posso dizer que me tornei próximo o bastante para considerar uma possível amiga.
_Pois é, queridaa voltei! Brinquei o que fez ela sorrir
_O que aconteceu que sumiu? Abduziram você não foi? Perguntou já dando uma risada travessa
_Quase, cuidar de um doente me deixou igual, falei encolhendo os ombros e o levantando até a cabeça me rendendo a uma condição humana
_Eu sei como é, quando meus pais adoecem eu também estou na lista de possíveis doentes, é sagrado! Falou caminhando comigo até o corredor
_Acontece, não é? Falei não tendo muitas opções de assunto no momento
_É, bom a gente se vê depois. Falou apontando para sala como se dissesse que entraria sem falar qualquer coisa
_Claro, boa aula! Falei me despedindo e pude ouvir seu desejo de boa aula para mim antes de não tê-la mais em vista naquele momento
Passaram quatro dias, todos eles iguais aos outros, desde  minha falta de interação com Josh até minha nova companhia que deixou meus dias mais leves. Sofia até tentou entender o que havia acontecido comigo e com Josh, dizendo que era bom tentar uma reconciliação que talvez o que tinha acontecido pudesse ser superado.
Mas o que havia para superar?
Era uma questão de reconquistar a confiança!
_Cara, sério, vocês eram mais irmãos que você é com o seu irmão de verdade.
_Eu sei, mas vamos ficar bem! Quem sabe um tempo ajuda a arrumar qualquer mal entendido? Comentei a deixando convencida o que evitou o assunto, o que para era uma vitória
Ele me encarava, abaixava a cabeça e seguia o corredor, eu não fazia nada de diferente só que íamos para lados opostos, o que tornava tudo dramático.
Fazia exatamente onze dias na Terra, incluindo os finais de semana. Estava tudo tão tranquilo que era algo difícil de acreditar, mas isso mudou uma noite quando estava voltando do mercado para casa e vi um grupo de homens cercar uma menina. Eu não faria muita coisa se fosse um tempo atrás, talvez uma interação indireta de buzinar, mas não faria um confronto direto coisa que eu estava fazendo naquele momento.
_Deixem ela em paz, respondi me aproximando devagar sendo iluminado pelas luzes do farol do meu carro
_Liam? Falou a voz
_Sofia? Respondi notando que a garota em perigo era ela _O que faz aqui? Perguntei preocupado
_Eu estava indo para o mercado, mas fui parada ...
_Cala a boca, e você moleque vaza daqui antes que as coisas compliquem para o seu lado! Respondeu aparentemente o líder
_Deixem a garota! Respondi firme
_Liam cuidado! Eles estão armados! Respondeu assustada e os mesmos mostraram suas facas apontando para mim na intenção de me assustar
_Fique tranquila, eu não vou te deixar sozinha! Respondi a tranquilizando
_Vamos ver se vai ter coragem depois de morto, falou o cara avançando em minha direção
_Cuidado! Gritou preocupada comigo
_Ahh, gemi depois de usar meu corpo como base para apoiá-lo em cima e o lançar no chão
_Você vai se arrepender disso! Falou vindo os outros dois me cercando
Foi automático, os desliguei ao tocar em suas testas, senti o poder percorrendo minhas veias para os nocautear com precisão.
_Uau, você foi incrível, Liam!  Foi... Suas palavras cessaram e seus olhos se abriram de uma forma como se tivesse visto algum fantasma
_Você está bem? Perguntei me aproximando
_Fica longe! Falou se afastando
_O que? Perguntei voltando passos para trás
_O que é isso nos seus olhos? Eles não eram pretos? Por que estão verdes? Perguntou se mostrando um pouco assustada
_Acho que você está confundindo, falei deixando a cabeça baixa para os trazer a cor habitual
_Eu não sei! Falou ainda desconfiada
_Talvez foi o reflexo dos outdoors?! Comentei mostrando minha face e meu olhar recuperado
_Talvez... Desculpa! Respondeu colocando sua mão esquerda em sua testa ainda confusa
_Tudo bem, vem eu te levo para casa! É perigoso aqui, ofereci com receio que recusasse, mas ela concordou balançando sua cabeça em positivo  entrando no carro comigo
Deixei em casa e ela entrou sendo recebida com abraços por seus pais que estavam preocupados com sua demora. Fiquei um pouco intrigado, mas deixei a situação passar, afinal era normal acontecer isso com as pessoas, principalmente com mulheres. Nesse mundo grande e cheio de leis, elas ainda são vítimas de abusos de todos os tipos e de mortes por pessoas que um dia chamaram de amor.
Desconsiderei qualquer tentativa proposital naquela hora, mas se eu soubesse o que aconteceria a seguir não teria descartado tão facilmente. Se eu soubesse que em algum lugar ali perto, estava uma mulher não muito alta de cabelos longos e cacheados com olhos amarelados, jamais teria facilitado.
Em algum momento, não tão distante, eu saberia.
E saberia logo, muito logo!

Os demônios que habitam em mimWhere stories live. Discover now