Corte de separações e recomeços

05

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Com movimentos lentos, deixo meu poder fluir. Meus olhos se fecham, aproveitando a sensação de liberdade. O calor da magia, ele seria perfeito, se não fosse pela dor irritante que toma conta de meus ossos, enquanto eles se alongam levemente, me deixando alguns centímetros mais alta. Meus dedos e minhas orelhas se alongam com graciosidade. Mesmo de olhos fechados, sei exatamente como minha aparência está. Como meus traços ficaram mais delicados, cada pedaço bem desenhado. Sei como meu nariz ficou mais arrebitado, meus lábios mais cheios, meus olhos assumindo um tom de azul profundo, quase violeta. Ao abri-los, vejo Olyster ainda na mesma posição. Se não fosse pela expressão de descrença em seu rosto, nada parecia ter mudado além de mim.

Ele não parece estar disposto a falar. Então eu observo. O tom de oliva em sua pele escura realçado pelos raios de sol entrando pelas grande janelas. O rosto em linhas duras, mas belo. Os lábios finos e rosados, nesse momento escancarados em um 'oh' de surpresa.

- Que porr...

- Eu tenho uma explicação...

Nós dois falamos juntos, ele, ainda em choque, eu, preocupada com o desenrolar disso. Recompondo-se, Olyster ajeita a postura e começa:

- Por que mentiu? O que você quer, invadindo esta corte? Quem é você?

As perguntas são tantas, que ele não sabe o que questionar primeiro.

- Por favor, me deixe explicar - peço. Um aceno curto é sua única resposta. - Eu não queria mentir para vocês, eu juro. Mas tente entender. Eu venho de um mundo só de humanos. Qualquer mínimo sinal de magia antigamente era motivo de morte, hoje, é motivo de piada. E são todos uns charlatões, não sabem o que falam e ficam se chamando de bruxos, videntes ou o que seja. Nunca lidaram com com a magia real. Eu precisava achar um jeito de me esconder. Me criei assim.

Nada em seu rosto demonstrava que estava sentindo compaixão.

- Quando eu vim para cá, estava no meu corpo humano, e não me pareceu inteligente trocar e revelar o que eu realmente sou, não quando esse é meu único trunfo, minha defesa, em um mundo completamente novo e com pessoas com instintos selvagens. Se eu pudesse ter o elemento surpresa na manga, então eu o guardaria até ter uma emergência. E, sendo sincera, não me sinto nem um pouco culpada pelo que fiz.

Pela janela, consegui ver um pássaro voando. A plumagem branca se destacando no imenso céu azul. Logo atrás dele, outros quinzes pássaros voavam apressadamente, sem nenhuma formação. Normalmente, eu teria estranhado, mas o motivo de tanta agitação os seguia de perto. Voando em alta velocidade, Petra os acompanhava, tentando capturar uma das aves. Seu cabelo castanho solto para todos os lados. Meu sorriso se abre com a lembrança das inúmeras vezes em que eu fiz o mesmo que Petra, momentos em que eu simplesmente saía voando, minhas asas batendo forte, o vento no rosto e meu cabelo se bagunçando, a sensação de que eu poderia voar até a lua e nunca me cansar.

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Eu não sei o que fazer. A revelação de Luna me deixou perdido. Eu sou um príncipe, caramba, deveria saber lidar com isso. Eu deveria ser mais frio, mandar prendê-la em uma das celas subterrâneas e deixá-la lá, até descobrir uma forma de me livrar dela. Mas não consigo levar a ideia adiante. Não quando ela está com o rosto em paz, feliz, enquanto olha Petra voar. Isso não é mentira.

E sei que o que ela me contou não é mentira. Pode não ser toda a verdade, mas ainda assim foi sincero. E ela não pareceu preocupada em contar. Não mais do que qualquer um ficaria ao ser descoberto. Ela não tentou discutir, sair, enrolar uma desculpa. Foi ela mesma. Foi surpreendente. Se eu não gostasse totalmente de machos, teria caído aos seus pés. Sua beleza é surreal, o cabelo castanho claro quase chegando em suas cintura ganharam mais brilho depois da transformação. As bochechas rosadas e fofas diminuindo, as poucas sardas surgindo, e os olhos... de um tom azul que facilmente pode ser confundido com lilás.