Sagrada família

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Hoje era a vez de Ritinha iniciar a sua vida académica.   Mais 10 anos haviam passado e a nossa caçula voava.

Em breve seremos só eu e Rodolffo.

Apesar dela dizer que nunca nos deixará,  nos sabemos bem como é.

Laurinha e Rafael casaram tem 3 anos.

Formados e com um emprego estável, moram na antiga casa de Rodolffo.   Vêem todos os domingos almoçar connosco.  Foi o combinado.

Laurinha espera o nosso primeiro neto.
Está grávida de 8 meses e está a grávida mais linda, digo eu.  Já Rodolffo diz que a grávida mais linda era eu na gravidez da Ritinha.

O namoro deles era muito engraçado.  Na nossa frente comportavam-se como irmãos,  mas era só nós viramos costas e era uma agarração total.

Nunca foram zoados como eles diziam, porque entraram na Universidade como namorados e não como irmãos.

O Rafael nunca falou da mãe biológica durante este tempo todo.  Soube eu, através da Marta que ela havia falecido 3 anos após o nosso último encontro.

Tivemos muita dificuldade em explicar à Ritinha o processo de namoro dos manos.  Por fim lá compreendeu, ou se calhar não.   Preferiu não questionar mais.

Eu decidi deixar o trabalho e aposentar-me.  Espero cuidar do meu neto a tempo inteiro.  Laurinha a princípio não concordou porque dizia que eu precisava de viver a vida.

Rodolffo ainda vai trabalhar mais algum tempo, então  combinámos que quando os dois estivéssemos aposentados, iríamos viver mais para nós.  Por agora eu seria bábá do pequeno Francisco.

Era véspera de Natal.  A casa da mãe  e do pai estava decorada a preceito.

Um enorme àrvore de Natal a um canto da sala onde cintilavam luzes de variadas cores e sob ela diversos embrulhos com reluzentes laços

A mãe estava na cozinha de volta dos doces para a ceia.  Laurinha espiava o peru que estava já  bastante douradinho no forno.

Ritinha punha a mesa com as loiças antigas da mãe.  Aquelas que ela só deixa mexer em dias de festa especiais.  Fazia dobraduras nos guardanapos como se estivesse a fazer um origami.  Cada um tinha uma figura diferente.

O pai estava sentado no sofá  com o pequeno Francisco no colo e com a mamadeira cheia.  Laurinha tinha começado o processo de desmamar o bébé pois já tinha pouco leite.

Eu, de câmara em punho,  tentava filmar tudo e todos.  Sempre gostei de guardar momentos fotográficos.  Não tinha muitos registos da minha infância.  O meu pai não era muito dado a essas coisas, já Laurinha tinha imensos.  Desde a altura em que viveram com Miguel, como quando nos conheceram.

Só comecei a ter mais recordações a partir dessa data, porque mamãe tirava fotos de tudo.

Depois de jantar, já é de praxe.  Vamos rever todos esses registos e matar saudades.  Alguns são de períodos dolorosos para todos, mas que todos revemos com saudade.

Chamei a minha mãe.   Quero registar um momento dos meus pais com Francisco, junto à àrvore de Natal.

- Oh filho!  Estou cheia de farinha, chegou ela tirando o avental e sacudindo o vestido.

- Não faz mal.  Agora, Laurinha e Ritinha,  juntem-se aos pais.  Vou programar a máquina e vou correr para aí.

Flashhhh

- Ficou linda.  Vamos actualizá-la todos os anos.

A nossa sagrada família.

Feliz Natal

Fim

Escravo da saudadeWhere stories live. Discover now