Cap. IX

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Fomos dormir tarde mas acordei cedo.  Afinal para mim era dia de trabalho.

- Rodolffo,  eu preciso ir trabalhar.

- Uhmmm!  Não quero.  Fica aqui.

- Quando tens show?

- Só quinta.  Viajo quinta ao final do dia.

- Então fazemos o seguinte:  hoje eu vou trabalhar e peço o dia de quarta e quinta, está bem.

- Está bem.  Vamos tomar café e deixo-te em casa.  Depois vou buscar-te à noite.  Vou escolher um local legal para ficarmos.

- Está bem.  Anda, não quero atrasar-me.

- Nem conversámos nada.

- Tínhamos outras prioridades.  Conversamos logo.

Juliette entrou no escritório já um pouco atrasada.  Tratou logo de pedir dispensa para os dois dias seguintes e iniciou os trabalhos.  Hoje era só trabalho burocrático.

À hora de almoço pediu um lanche e seguiu trabalhando para adiantar o serviço e não deixar acumular.  Saiu um pouco depois da hora pelo mesmo motivo. 

Chegou a casa, tomou banho e preparou uma pequena maleta com duas mudas de roupa.  Não sabia para onde Rodolffo a ia levar mas juntou também alguma maquilhagem.

Rodolffo chegou pouco tempo depois.

- Para onde vamos?  Não sabia que roupa levar.

- Só roupa desportiva e prática.  Uma roupa extra para se nos apetecer jantar fora.

- Então deixa refazer a mala.

Juliette trocou tudo.  Colocou um modelo de academia, umas calças jeans com croped e um vestido um pouco mais formal além dos sapatos.

Nos pés já levava uns ténis e pronto, estava pronta para sair.

A uma hora de distância chegavam a  um chalé de montanha tal qual nos contos de fadas.

Tinham à sua disposição um verdadeiro banquete e em cima do sofá um lindo buquê.

- Andaste o dia todo a preparar isto?

- Andei.  Quero que tudo seja perfeito.

- Não é obrigatório que seja perfeito, basta que seja verdadeiro.

- Não sentes verdade?  Ainda tens dúvidas quanto a nós?

- Está tudo tão maravilhoso que eu tenho medo de acordar e descobrir que não passou de um sonho.

- Aquele Rodolffo ficou para trás.   Este é o Rodolffo que tu conheceste numa versão melhorada.
Não vou deixar que ninguém se intrometa entre nós.   Só peço uma nova chance de te provar o meu amor.

Aquele Rodolffo que se deixava influenciar ficou para trás.

- Eu amo-te.   Até  tentei esquecer-te com o Marcus, mas não havia química.  Não deu.

- Dormiste com ele?

- Não.   Nunca consegui avançar até aí, mas isso é passado.
Conta-me do teu sumiço.   Para onde foste?

- Para o Tibete.

- Onde?

- Tibete.
Fui fazer um retiro espiritual.  Meditar, orar, ler, ouvir música e ajudar o próximo.   Basicamente é isso que fazem os monges tibetanos.

- Que coragem.  Tão longe.  E como é?  Tu não falas inglês,  como se comunicavam?

- Há pouca comunicação.  Passava horas sózinho com um livro na mão.   Felizmente a biblioteca deles é farta de livros em todos os idiomas.

Juliette fazia festinhas no meu rosto enquanto eu explicava o processo.

- E o cabelo.  Quando decidiste cortar?

- Rapar, queres dizer.   E a primeira coisa que fazemos à chegada.

- Rapar?  Tudo?

- Sim.  Cabelo e barba.  Sabes?  Não custa assim tanto como pensamos.
Se estamos predispostos para fazer o retiro, torna-se fácil.

Sabes o que sentes mais falta no início?

- O quê?

- Comida.   Os monges só comem o que os aldeões lhes dão. Quase sempre arroz e vegetais.  Não comem carne.
Ao fim de uma semana tu já não estranhas.

- Juro que se outro me contasse que tu tinhas feito isso eu jamais acreditaria.

- Depois mostro-te as fotos e vídeos que fiz.   Algumas coisas não podia filmar.   Sou capaz de fazer um documentário.   Ainda não mostrei a ninguém.

- Que bom.  Vou gostar de ver.

- Agora,  mudemos de assunto.  Amanhã volto aos shows.  Vamos ficar algum tempo sem nos vermos, mas eu quero saber se posso ter a minha namorada de volta.

- Prometes ser o meu namorado, sem ciúmes, sem mimimis?  Aquele por quem eu me apaixonei e não o machista e possessivo?

- Prometo.  Sou um novo homem.

Rodolffo colocou Juliette no colo e beijou-a.

Lá fora o vento ouvia-se na copa das àrvores.  À volta do chalé tudo era escuro, apenas ao longe se avistavam as luzes do casario mais próximo.

- Estamos sózinhos.  As pessoas mais perto estão lá onde se vêem aquelas luzes.  Sabes o que me apetece fazer?

- Diz.

- Gritar EU TE AMOOOOO.

Juliette gritou também.

- TAMBÉM TE AMOOOOO.

Me conta o restoOnde histórias criam vida. Descubra agora