Capítulo I

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O soar de passos apressadamente ansiosos dos sapatos de grife alheios ecoou pelo recinto matinal, dendo enfim vida ao silêncio da cozinha-americana fazendo com que, o antes único residente, bocejar ao aguardo das futuras possíveis fofocas indispensáveis da prima colombiana logo pela manhã. Como de costume entre ambos.

Luciano remexeu-se na confortável cadeira da própria mesa, observando a tela de seu notebook com várias abas de escrita, player de música e noticiários de esportes junto, o olhar de desinteresse era nítido pela timeline de acontecimentos mundo afora.
O moreno observava de canto Catalina adentrar com seu falatório com alguém por chamada, encerrando assim que seus par de sapatos refinados de grife adentrou o local, segurando as suas inseparáveis revistas de moda, dia-a-dia e tudo que remetesse ao cotidiano de famosos abaixo do braço - algo que, com toda a certeza, não era da bolha do brasileiro ou sequer dos seus gostos.

─ Ei. ─ Diz a voz aproximando-se. Ele ergueu o olhar do notion com suas anotações de finanças e algumas correções de álgebra.

─ O que você furtou dessa vez? ─ Luciano indagou ao indicar um dos quatro lugares vagos sob a mesa, assistindo a morena caminhar ao balcão da cozinha-americana, aparentemente procurando algo para beliscar como de costume.

─ Galletas de lluvia. ¿quieres? ─ Catalina respondeu ao pegar alguns bolinhos de chuva guardados em algumas vasilhas de plástico em algum canto, o qual o brasileiro não prestou atenção suficiente para saber de onde vinha as guloseimas.
Catalina trajava roupas suaves, algo como um shorts de tecido elástico preto junto a uma blusa lilás clara sem estampa e sapatilhas cor-de-rosa bico fino e salto mediano-baixo, e Luciano podia jurar vê-la estampar alguma capa de revista sobre moda simples para jovens práticas e profissionais, ou talvez até para fashion study.

Luciano se perguntou o que a irmã tinha feito o dia todo. A julgar pelas ligações anteriores, talvez estivesse comentando e fermentando sobre uma coluna da Latam Post, ou era uma sessão de fotos para algum blog internacional? Talvez, as duas coisas? Nem ele saberia, afinal ele nunca conseguia acompanhar.
E assim ela sentou-se na mesa esparramado a pilha de revistas junto e começou a ler.

─ Fazendo seu árduo trabalho para manter a indústria de fofoca sul-americana viva?

─ É para isso que fiz jornalismo, oras. - rebate Catalina ao morder um bolinho-de-chuva.

─ E qual é a boa dessa semana? - Luciano a pergunta, pegando um dos bolinhos.

- Vejamos. - Catalina diz. - A 'En contacto' diz que estou.. namorando um modelo francês?

- Sério? - Luciano indagou curioso.
- Quem me dera. - Ela folheia algumas páginas - Ah, aqui diz que você fez clareamento anal.

─ É verdade ─ Luciano confirma com a boca cheia de bolinho-de-chuva.

─ Imaginei. ─ Catalina diz, sem erguer os olhos. Depois de folhear quase a revista inteira, ela enfia embaixo da pilha e passa para a People. Ela a folheia distraidamente, ou quase desinteressada; afinal, a People só
escreve o que os assessores dela mandam. Não tem graça, ou algo meramente divertido em suposições de intrigas entre famosos e suas preciosas privacidades.
─ Não tem muita coisa sobre a gente
essa semana... Ah, sou uma dica nas palavras-cruzadas.

Acompanhar a cobertura dos tabloides é um passatempo de Catalina que às vezes diverte e às
vezes irrita a mãe dos dois, e Luciano é narcisista o bastante para deixar a irmã ler os destaques para
ele. Geralmente - em quase todas as vezes, são pura invenção ou frases prontas escritas pela assessoria de imprensa da
família, mas às vezes ajudam a desviar os rumores estranhos e especialmente maldosos, a fim de não ter a imagem da estimada família da presidente do atual país mais influente da América Latina. Se pudesse escolher, Luciano preferiria ler uma das centenas de fanfics apaixonadas que protagoniza na
internet, em que sempre aparece com um charme devastador e uma resistência física
inacreditável, mas Catalina se recusa categoricamente a ler isso em voz alta, por mais que ele insista.

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