Capítulo III

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Há algo de vagamente familiar nos aposentos de hóspedes do Palácio do Congresso Argentino, embora Luciano nunca sequer tenha estado ali antes. Shaan mandou um atendente levá-lo até seu quarto, onde sua bagagem esperava por ele em cima da cama de madeira entalhada e coberta com lençóis dourados de aparência extremamente luxuosa.

Muitos dos quartos da residência presidencial brasileira eram luxuosos em partes, mas nada supera a estética acolhedora do casarão de sua avó em manaus, têm o mesmo ar antigo e familiar bem-cuidado em partes, um peso histórico que pende feito teias de aranha, por mais impecáveis que os aposentos sejam mantidos.
Ele está acostumado a dormir com boas memórias de infância e seus fantasmas, mas não é esse o problema.

Aquele lugar o faz lembrar algo ainda mais antigo em sua memória, por volta da época em que seus pais se separaram.
Eles eram o tipo de casal de advogados que mal conseguiam pedir delivery de comida chinesa sem fazer uma documentação jurídica, então Luciano passou o verão antes do sétimo ano indo e voltando entre a casa da mãe em Brasília e a casa nova do pai em São Paulo capital, a até eles finalmente conseguiram firmar um acordo definitivo.

Era uma casa bonita e luxuosa de classe média-alta de toda capital metropolitana; tinha uma piscina azul cristalina e uma parede de vidro sólido nos fundos. Ele nunca conseguiu dormir bem lá.

No meio da noite, saía escondido do quarto improvisado, roubando sorvete Helados do freezer do pai e tomando direto do pote, em pé e descalço na cozinha, sob a luz azul refletida da piscina. De alguma forma, é assim que ele se sente aqui — acordado à meia-noite em um lugar estranho, obrigado a fazer isso funcionar.

Ele vai até a cozinha anexa à ala de hóspedes, onde o pé-direito é alto e os balcões são de mármore brilhante. Falaram para ele enviar uma lista para estocarem sua cozinha, porém, aparentemente era difícil demais conseguir helados em cima da hora —  tudo que tem no freezer são sorvetes de casquinha de marcas argentinas e norte-americanas, extremamente sem graça.

—  Como é aí? —  diz a voz de Catalina, metálica pelo celular. Na tela, ela está de cabelo preso, mexendo em uma das dezenas de plantas em sua janela, sua máscara para a pele tinha tom verde abacate.

—  Esquisito —  Luciano diz, erguendo os óculos sobre o nariz — Tudo parece um museu com muita inspiração da coroa inglesa. Mas acho que não posso mostrar pra você.

— Aah  —  Ela responde, erguendo as sobrancelhas. —  Que sigiloso. que chique.

—  Até parece —  Luciano diz —  Na verdade, é meio medonho. Tive que assinar um termo de confidencialidade tão gigante que tenho certeza que, se bobear, um alçapão vai abrir sob meus pés e vou acabar em uma masmorra de tortura a qualquer momento.

— Aposto que ele tem um filho bastardo secreto —  Catalina diz arteira — Ou é gay, ou tem um filho bastardo secreto que é gay.

—  Acho que é para o caso de eu ver alguma coisa das desinteressantes partes do príncipe metido a sabichão. —  Luciano diz —  Enfim, esse assunto é chato. E você? Sua vida está muito melhor do que a minha nesse momento.

— Bom —  Catalina diz ao guarda o regador em algum lugar longe da tela —  Nada demais, os jornais e revistas de fofocas não para de me ligar pedindo colunas ou entrevistas. Comprei umas cortinas novas da cor violeta. Reduzi a lista de pós-graduações para estatística ou ciência de dados.

—  Me fala que as duas são na George Washington —  Luciano, pulando para se sentar em cima de um dos balcões limpíssimos, balançando os pés —  Hermanita você não pode me largar em São Paulo e voltar para Massachusetts.

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⏰ Última atualização: Apr 27 ⏰

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