Capítulo dois

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Novo irmão mais velho.

Anne saiu do colégio acompanhada de Gilbert que a levou até a porta de casa. Ela estava impressionada com tudo que havia escutado, ele realmente era convincente, e apesar de aliviada, ficou ainda mais chateada por imaginar que ele possivelmente não fora totalmente sincero quando elogiou seus cabelos (depois de compará-los a uma cenoura).

A caminhada foi tranquila e silenciosa, Anne buscava em seus pensamentos uma forma de agradecer sem jogar na cara dele que tudo aquilo foi devido a falta de noção do outro dia, e ele pensava no quanto foi constrangedor se passar por outra pessoa, mas não tinha outra escolha, havia partido o coração daquela pobre garotinha e talvez ferido inconscientemente sua autoconfiança, ela nunca mais se olharia no espelho da mesma forma.

Ele estava preocupado de verdade, e pensava seriamente em conversar com Ethan sobre isso… o que ouviu lhe partiu o coração, e mesmo sem querer se lembrar de todos os adjetivos negativos que Anne abordou sobre si mesma, inevitavelmente se prendeu a frase: “Você não tem medo de ser rejeitada pelo resto de sua vida por se preocupar com uma cenoura magricela e sardenta?”

Quanto tempo será que ela havia demorado para se aceitar, e ele, já com vinte anos, fora capaz de “enterrá-la em sua própria angústia”. Simplesmente por ser um jovem sem nenhuma noção.

As garotas são delicadas e devem ser respeitadas, amadas e protegidas, principalmente na fase da adolescência, onde se deparam com a realidade e descobrem que a infância era a melhor fase de suas vidas.

— Obrigada — Anne cortou o silêncio e os pensamentos de Gilbert — obrigada por me livrar dessa enrascada… você está livre agora, não me deve mais nada e eu perdoo você.

Gilbert parou e a encarou, fazendo com que ela murchasse discretamente, era como se o olhar dele fosse ultrapassar todas as barreiras de seu coração, que palpitava enlouquecidamente dentro de seu peito.

— Obrigado por me perdoar — ele bagunçou os cabelos dela, algo que já estava virando um costume.

Mal imaginava ele, que ela odiava ser tratada daquela maneira.

— E me prometa que irá se concentrar mais nos estudos.

— Eu sou uma aluna exemplar — ela diz com orgulho, se esquecendo brevemente do quanto ainda estava irritada com o tratamento que recebia dele — exceto em física, álgebra e qualquer coisa que envolvia cálculo.

— Justamente uma das notas mais importantes para entrar em uma boa universidade.

— Você está parecendo o meu pai — Anne ajusta a mochila e abre o portão de sua casa — obrigada pela companhia e não se esqueça — ela o encara com um olhar intimidador — esse segredo será levado para o túmulo, ninguém pode descobrir que você se passou pelo Ethan.

— Não se preocupe, esse será o nosso segredo e eu prometo que a partir de hoje serei um irmão melhor.

Anne só assentiu e fechou o pequeno portão que embelezava a entrada de sua belíssima casa. Fingiu caminhar em direção a porta, enquanto o observava ir embora pelo canto de olho, quando ele ficou totalmente de costas, ela correu para o portão e só saiu de lá quando ele já não estava mais à vista.

E agora? O que seria daquele pobre, imaturo e apaixonado coração?

. . .

Dois anos depois.

Foram dois longos anos que proporcionaram a Anne uma transformação natural. Ela já havia crescido, não só fisicamente, mas possuía uma maturidade invejável.

Finalmente, havia ingressado em seu último ano do colegial e estava animadíssima para prestar os vestibulares, aproveitaria o máximo para se aprofundar nos estudos e mais do que nunca, se dedicar às matérias que tinha dificuldade. Tinha tempo o suficiente para isso, já que não tinha mais amigos por perto.

Diana estava na França, depois de ser obrigada por seus pais a se mudar para lá e morar com sua tia Josephine após um escândalo sobre seu suposto namoro com um garoto do lado leste, o lado perigoso da cidade. E Anne teria sido proibida por seus pais de manter o contato com ela, apesar de às vezes quebrar as regras.

E apesar da suposta promessa de Gilbert, depois daquele dia, ela nunca mais o viu. Aparentemente a faculdade e o emprego dele estavam muito puxados e ele não tinha tempo para mais nada além de trabalhar, e por uma grande pegadinha do destino, quando ele passava por alguns instantes em sua casa, ela não estava lá.

Anne nunca o esqueceu, de vez em quando se dava conta de que estava pensando nele e fazendo promessas mentalmente para si mesma de que ele seria para sempre o seu grande amor, e obviamente, mesmo não sabendo nada sobre esse sentimento, tinha certeza que o sentia desde a primeira vez que viu Gilbert a encarando com aquele olhar adorável que ele possuía.

Estava em sua casa, sentada no chão da sala estudando física quando ouviu a voz de Ethan. Pela tonalidade e principalmente por não ouvir nenhuma outra voz, ele estava ao telefone.

O irmão mais velho entrou em casa e se jogou no sofá, tirou os sapatos quase em sua cabeça e falava confortavelmente aos gritos com alguém.

— Tenho dó de quem está do outro lado — Anne murmurou — provavelmente muito em breve precisará de um aparelho auditivo se continuar falando com você.

— Cala a boca — Ethan a encarou e logo depois soltou um pum estrondoso e terrivelmente fedido.

Anne se levantou rapidamente o atacando com os sapatos que ele havia quase jogado em sua cabeça.

— Você é um nojento! Eca, eu vou morrer sufocada.

— Vai para o seu quarto, pirralha!

A ruiva começou a arrumar suas coisas, mas logo foi interrompida pela conversa de Ethan, e atentamente prestava atenção para saber com quem ele conversava.

— Pirralha, chega mais.

Ela o encarou, sem se aproximar tanto, se bem o conhecia ele iria repetir a provocação e eles acabariam nos tapas.

— Cara, ela não quer falar com você.

No mesmo instante, Ethan ligou o viva voz.

— Então liga o viva voz!

Anne quando percebeu que quem estava do outro lado da linha era Gilbert, sentiu seu corpo ferver. Só ela sabia o quanto havia pensado nele nesses dois longos anos.

— Já está no viva voz, mané!

— Oi garotinha, como estão os estudos?

— Olá Gilbert, muito bem, obrigada por perguntar.

Ethan rapidamente perdeu a paciência e desligou o viva voz, logo em seguida colocou o sapato enquanto Gilbert falava algo no telefone.

— Você é tão ajeitadinho que dá vontade de te dar uns tapas — Ethan falou — então nos vemos lá, tchau.

Anne ficou o encarando por alguns instantes até que por fim teve coragem de perguntar.

— Para onde vai, irmão?

— Ué, para o dormitório, estamos terminando a nossa mudança e terminaremos o curso aqui na cidade mesmo, é a última fase e agora somos em cinco, precisávamos de um espaço maior.

— Entendi, então posso ir com você?

— O que? Pra que?

— Te ajudo a carregar as caixas pesadas se você quiser.

Ethan encarou ela pensativo e concluiu que tê-la como burro de carga seria uma ótima ideia.

— É claro que pode ir, maninha.

Entretanto, ele não imaginava que a única expectativa dela, era finalmente reencontrar o seu primeiro e único amor.




























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⏰ Last updated: Feb 24 ⏰

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Amor oculto - Shirbert Where stories live. Discover now