Novos ares

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O aeroporto estava agitado, com pessoas indo e vindo, o som constante das chamadas nos alto-falantes e a movimentação frenética das malas de rodinhas pelo chão. Julie, recém-chegada de um voo, puxava sua mala com determinação, enquanto seu telefone estava colado ao ouvido.

— Sim, Thomas, eu cheguei bem. — A voz de Julie soava um pouco cansada, mas havia uma pitada de alívio em suas palavras. Ela navegava habilmente entre a multidão, seu olhar fixo no caminho à sua frente.

A mala de rodinhas seguia obedientemente atrás dela, deslizando suavemente pelo piso do aeroporto. O som abafado das conversas ao redor se misturava com o eco distante dos anúncios. Julie mantinha o telefone próximo ao rosto, garantindo que seu melhor amigo ouvisse suas palavras mesmo com o ambiente movimentado.

— Não se preocupe, vou pegar um táxi e logo estarei no hotel— Julie continuava a falar, sua expressão revelando um misto de cansaço e ansiedade para chegar ao seu destino final— Eu acabei de sair daí Tommy, já tá com saudade?

Ao se aproximar da saída do aeroporto, Julie ajustou o telefone entre o ombro e a orelha, liberando uma das mãos para retirar o bilhete do táxi do bolso. A brisa fresca do lado de fora acariciava seu rosto enquanto ela aguardava, com a mala ao lado.

— Tá bom, olha... Eu tô bem, você tá bem e se por algum motivo deixar de ficar, você me liga e eu largo tudo e vou pra aí outra vez, Ok? Te amo.

Julie desligou o telefone e entrou no táxi, dando o endereço do hotel onde ficaria. A cidade desconhecida se estendia diante dela, e Julie se deixou levar pela paisagem urbana enquanto o táxi se movia pelas ruas.

Após o banho longo e revigorante, Julie sentiu a água escorrendo pelo corpo, levando consigo um pouco do peso que carregava. Envolta pela toalha macia, ela se arrumou cuidadosamente, escolhendo um conjunto elegante para o dia cheio de compromissos.

O quarto de hotel, com sua decoração neutra e acolhedora, testemunhou a transformação de Julie, que agora exibia uma confiança renovada. Seu cabelo caía em ondas suaves pelos ombros, e a maquiagem destacava seus olhos, transmitindo uma mistura de determinação e graciosidade.

Com a bolsa a tiracolo, Julie partiu para seus compromissos. Primeiro, uma importante reunião com a editora para discutir futuros projetos e estratégias de divulgação. A sala de reuniões seria o palco onde as ideias fluiriam, e Julie estava pronta para compartilhar sua paixão pela escrita.

Após a reunião, se dirigiu ao local do grande evento que a levou até Seattle. O espaço estava preenchido com a expectativa de leitores ansiosos para conhecer a autora por trás das páginas cativantes de seu livro. Julie, ao subir ao palco, sentiu uma mistura de nervosismo e entusiasmo. A plateia atenta, ávida por insights sobre a criação literária, acolheu Julie com aplausos calorosos.

— Primeiro, eu queria perguntar como você está?— Uma garota de óculos e cabelos loiros perguntou fazendo Julie sorrir.— E agora sobre livro... É mesmo uma história real?

Eram muitas pessoas e muitas perguntas, a cabeça de Julie até travava em certas horas porque as respostas sumiam da mente dela. No entanto, ela se esforçava para compartilhar não apenas a trama de seu livro, mas também as emoções e lições que permeavam cada página.

As perguntas variavam, desde detalhes sobre o processo de escrita até as inspirações por trás dos personagens.

— Qual dos dois você ia escolher? — Uma garota de aparentemente doze anos, cabelos cacheados e aparelho nos dentes perguntou, fazendo Julie morder o lábio inferior.

— Eu não sei. Eu tava confusa na época e depois de tudo que aconteceu, não tinha como pensar nisso. — Julie refletia sobre a melhor forma de responder, mas nem ela sabia como fazer isso.

— Como você fez pra superar? Pra ficar bem?— Um garoto perguntou, e Julie respirou fundo.

— Eu não fiz. As pessoas me falavam pra sair, conhecer novos lugares, novas comidas, novas bebidas, novas pessoas, e eu tentei... Eu ouvi tudo o que me disseram, mas era estranho, os lugares pareciam ruins, as comidas sem sal, as bebidas amargas, as pessoas distantes, as músicas sem ritmo, o mundo sem cor. E aí eu percebi que o problema não estava nessas coisas e sim em mim. O Rafe se foi e levou consigo toda a graça de tudo no mundo pra mim. Eu não consigo voltar pra Malibu há dois anos, e quando eu tive uma folga de três meses, eu fui ficar com o meu melhor amigo em vez de voltar pra minha casa ficar com a minha família. Não posso dar conselhos de superação pra vocês porque a gente não esquece quem ama, mas a gente aprende a lidar com a falta.

A resposta honesta de Julie ecoou na sala, criando uma pausa reflexiva entre os presentes. O silêncio foi quebrado pelo som de aplausos, não pelo que ela superou, mas pela coragem de compartilhar a vulnerabilidade.

Julie ficou pensativa sobre o que iria fazer da vida, mas decidiu voltar para casa, escolhendo retornar a Malibu. Após cumprir seus compromissos, pegou o primeiro avião de volta para casa.

Ao desembarcar, Rose foi buscar ela no aeroporto. Julie, envolta em pensamentos, não tinha vontade de falar sobre o que passou ou o que decidiu. No entanto, a saudade dos amigos e a familiaridade de Malibu a chamavam de volta.

Durante o trajeto de volta para casa, Rose parou em um armazém, e Julie desceu para comprar o que a mãe havia pedido. Ao retornar em direção ao carro, seus olhos se fixaram no muro onde costumava passar momentos com seus amigos. Lá, ela encontrou os olhos de Luke, que estava sentado exatamente no mesmo lugar onde ela estava anos atrás quando se conheceram.

A troca de olhares foi carregada de lembranças e emoções compartilhadas. Julie, mesmo em silêncio, sentiu que estava de volta ao lugar que, de certa forma, sempre seria seu lar. O reencontro com Luke, através do olhar e da conexão silenciosa fez o coração de Julie arrepiar mas ela não disse nada, apenas entrou no carro novamente.

— Vamos pra casa, porfavor.

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