Naruto e Hinata: Entre as cartas

Antes da quinta carta

Shibuya Tóquio.

Finalmente o momento havia chegado, Naruto parecia uma criança boba, a cabeça pra fora do carro, as vistas tentando se acostumar ao sol forte, ele ria pra tudo que via, de um simples grafite na parede ao cara fazendo malabares no sinal, era como se tivesse voltado a ser criança novamente. 

Kahashi observava o amigo animado, como Naruto tinha mudado, de um garoto franzino e assustado pra um homem feito, ele mais do que ninguém entendia perfeitamente toda aquela revolta que ele sentia, no fundo era medo, há quase dez anos atrás ele era apenas um jovem perdido e assustado com tudo que foi obrigado a vivenciar junto de sua mãe. 

Graças ao programa de acolhimento e a amizade aos poucos ele foi se encontrando novamente, tinha um grande coração e se tornou um bom exemplo aos demais, incluindo os que chegaram depois dele como o Sai. 

Kahashi nutria uma espécie de carinho paterno pelo loiro, ele não tinha esposa ou filhos, então ficou feliz quando Naruto viu nele a segurança que precisava, estava muito feliz por tudo que ele iria conquistar a partir daquele momento, a começar por Kushina Uzumaki. 

- É isso ai cara, chegamos. 

- Sério Kahashi? Eu posso sair? 

- Claro que pode, vai lá. 

Naruto saiu ressabiado, a mochila nas costas, parecia até alguém que voltava de uma longa viagem, andou até o velho portão de sua madrinha Yoshino, tantas lembranças, os tempos onde ia com seu pai visitar o padrinho Shikaku e então passava horas e horas de brincadeiras com seu amigo Shikamaru, seu melhor amigo. 

Agarrou firme aquelas grades, sensação de nostalgia o tomando por completo, mal enxergava a campainha devido as lágrimas que caiam fartas empapando sua camiseta, com o dedo trêmulo, apertou o pequeno botão azul, logo o barulho dos sinos ecoaram fazendo alguém do outro lado abrir a porta. 

Yoshino surgia no degrau da entrada, não havia mudado absolutamente nada, os mesmos fios negros longos, a postura austera e aquela cara de brava mas no fundo era um doce para quem a conhecia de perto. 

- Pois não? 

A voz de Naruto não saia, ele apenas a encarava com um sorriso enorme misturado as lágrimas, aquilo nem parecia real. 

- Posso ajudar? 

Diante da hesitação, Kakashi resolveu tomar a frente, afastou Naruto brevemente do portão, se identificou prontamente com o distintivo policial e logo Yoshino foi até ele, Naruto estava de costas, se sentia envergonhado por chorar como um bebê. 

- Obrigado por vir senhora, me chamo Kakashi Hatake, eu sou agente de condicional. 

- Agente? É sobre meu sobrinho moço? 

- É sim, vim até aqui informar que o Naruto finalmente conseguiu a condicional e a partir de hoje poderá sair da prisão de segunda a sexta feira até às sete da noite. 

Neste momento Yoshino entendeu tudo, aquele homem alto de costas pra ela, que soluçava sem parar só poderia ser uma pessoa.

Se aproximou com cautela, acariciando as costas largas e trêmulas, ele continuava a soluçar enquanto em vão tentava secar suas lágrimas. 

- É você Naru? O loirinho da dinda, é mesmo você filho?

- Ma-madrinha...

- Por Deus, é você filho! 

- Sou eu sim madrinha, eu to de volta! 

Nada mais precisou ser dito, Naruto abraçou Yoshino pela cintura a tirando do chão, sentia aquele cheiro calmante tão familiar, cheiro de família, de seja bem vindo. 

Kahashi fazia o possível pra manter a pose de durão mas estava difícil, Yoshino se afastou brevemente encarando o loiro, acariciava aquele rosto agora mais maduro, porém o olhar de menino ainda estava ali intacto. 

- Você ficou tão lindo meu solzinho. 

- Você também continua linda dinda, linda mesmo. 

Naruto beijava as mãos da madrinha com carinho, logo Yoshino o levava pra dentro de casa, estava em êxtase, nem imaginava como Kushina iria reagir. 

- Por favor senhor Hatake, venha também, lhe devo um chá com muitos biscoitos por ter trazido nosso garoto.

- Quer saber senhora Yoshino, vou aceitar. 

- Sentem por favor.

Naruto estava afoito, simplesmente não conseguia ficar parado, precisava ver Kushina o quanto antes.

- Madrinha e minha mãe? Preciso ver ela agora! 

- E verá meu lindo, mas antes vamos conversar um pouquinho.

- Acho melhor dar privacidade a vocês.

- Não se preocupe senhor Hatake, pode ficar. Naru a Kushi está lá em cima no quarto, está dormindo, eu sei o quanto você está louco pra vê-la mas preciso que você seja cuidadoso.

- Por que? O que minha mãe tem madrinha? 

- Nos últimos meses ela perdeu muito peso e acabou sendo diagnosticada com anemia leve mas já estou cuidando disso não se preocupe, ela anda muito triste e desanimada Naru mas agora com você aqui tenho certeza que ela vai se recuperar de vento em popa! 

- Por favor me leva até ela. 

- Tudo bem, vamos lá querido. 

- Vai Naruto, eu aguardo aqui embaixo. 

- Obrigado Kakashi.

Subiu as escadas tentando não parecer apressado, sentia o quanto sua mão estava suada e o coração acelerado dentro do peito, Yoshino bateu na porta e abriu devagar, Naruto logo a viu, estava de costas pra eles, os longos fios rubros se sobressaindo da coberta. 

- Kushi...

- Agora não Shi, prometo que mais tarde eu como alguma coisa. 

- Quer dizer que eu saio pra viajar e essa pimenta começa a dar trabalho pra minha madrinha? 

Aquela voz, era rouca e potente mas também muito familiar, Kushina se virou bruscamente se deparando com seu menino, Naruto estava ali parado ao pé da cama a encarando, ou será que era só mais um dos mil delírios que ela tinha? 

Era a personificação exata de seu falecido e amado marido Minato, Kushina se demorou admirando aquela figura e só caiu em si quando Naruto tocou sua face com carinho. 

- É você mesmo filho? Ou já enlouqueci? 

- Sou eu dona Kushina, em carne e osso, sou eu mãe. 

- Ooooh meu filho, meu menino! 

- Mãe! 

Se agarraram com força, Naruto puxou o pequeno corpo pro seu colo, abraçava Kushina com força aspirando o perfume dos longos fios, e contrapartida, Kushina o beijava em toda face, se acariciava o rosto do seu menino tateando com delicadeza, desenhava cada traço dele. 

- Você está lindo meu amor, um homem feito! O Naruto que saudades meu sol. 

- Eu também mãe, me perdoa por tudo, me perdoa por ter te afastado de mim, por tudo mãe, por favor, me perdoa!

- Shiuu, não tenho nada pra te perdoar amor, filho você me salvou duas vezes, daquele desgraçado e agora que voltou pra mim.

- Eu voltei sim mãe e juro que dessa vez é pra sempre, te amo dona Kushina, te amo, te amo, te amo! 

Ambos riam alto em meio aquele abraço apertado, lágrimas ainda rolavam mas agora de felicidade, o pássaro estava novamente no ninho, nada e nem ninguém atrapalharia aquele momento, nunca mais.