𝑂𝑁𝑍𝐸

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𝐵𝑜𝑚 𝑑𝑖𝑎 𝑒 𝑢𝑚 𝑜́𝑡𝑖𝑚𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑠𝑒𝑚𝑎𝑚𝑎♡︎♡︎

          

                             ONZE
Wuxian 
Queria saber se ele viria

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                             ONZE


Wuxian
Queria saber se ele viria.
Eu estava no meio de uma conversa com alguns ex-colegas que não encontrava havia alguns anos quando tive a resposta. Vê-lo me fez perder a linha de raciocínio.
Lan Wangji  estava em pé do outro lado do salão, vestido com um smoking preto. Ele conversava com um senhor idoso, o que me deu uma oportunidade para realmente avaliar sua aparência. Alto, ombros largos, mas não exageradamente grandes, cintura fina, uma das mãos descansando casualmente no bolso da calça. Mesmo de longe, dava para perceber sua confiança. Tem alguma coisa em como certos homens se comportam que mostra que eles estão no comando, e isso funciona comigo. Pode levar um nota sete a uma nota onze no meu caderninho. Por outro lado, um bonitão nota dez com uma personalidade mansa pode cair para um cinco.
O sr. Confiante segurava um copo na mão esquerda e o levou à boca, mas parou antes de beber. Parecia sentir alguma coisa e olhou em volta. Quando seus olhos encontraram os meus, um sorriso lento e safado dominou seu rosto. Ele pediu licença, se retirou da conversa e caminhou em minha direção.
Meu corpo formigava enquanto eu o via se aproximar com passos largos, e me afastei do grupo com quem conversava.
— Que surpresa agradável — ele disse.
Tentei parecer casual e bebi um gole de champanhe.
— Vim no lugar de Bickman.
Ele assentiu.
— É claro.
Wangji  olhou para o grupo ao meu lado.
— Veio acompanhado?
— Não. E você?
Ele sorriu e balançou a cabeça.
— Um elogio seria inconveniente? Não quero te assediar sexualmente.
— Elogios são sempre bem-vindos, sr. Lan.
Os olhos dele brilharam. Segurando meu cotovelo, ele me levou alguns passos mais longe do grupo.
— Essa é uma coisa perigosa para dizer a um homem como eu.
— Qual era o elogio?
Os olhos de Wangji  passearam por meu corpo.
— Você está muito bonito.
Fiquei vermelho.
— Obrigado.
Wangji  parou um garçom que passava por nós. Bebeu o restante de líquido cor de âmbar de seu copo e tirou a taça de champanhe da minha mão, deixando copo e taça na bandeja.
— Eu estava bebendo.
Ele dispensou o garçom com um gesto e olhou para mim.
— Eu pego outra taça para você quando terminarmos.
— Terminarmos o quê?
Ele estendeu a mão.
— Quer dançar comigo?
Balancei a cabeça.
— Não sei se é uma boa ideia.
Ele sorriu.
— Tenho certeza de que não é.
Wangji  segurou minha mão e me levou para a pista de dança. Pensei em protestar, mas, quando ele me puxou para perto e senti a firmeza de seu peito e o delicioso aroma masculino, esqueci até contra o que ia protestar. Ele me conduzia com o mesmo tipo de confiança que exalava – um domínio discreto misturado com elegância natural.
— Por que veio sozinho, Wuxian ? — Ele olhou para mim enquanto deslizávamos pela pista de dança.
— Acho que não encontrei nenhuma companhia adequada.
— É claro que deve haver ao menos um solteiro interessante em toda a cidade de Los Angeles.
— Eu ainda não achei nenhum.
Wangji  sorriu.
Sem dúvida tínhamos uma interação boa. Até naquele primeiro e-mail enlouquecido.
— E você, por que veio sozinho? — perguntei.
— Acho que também não encontrei ninguém.
Nós dois rimos.
— Como vão as coisas sem Bickman?
— Francamente, vão bem. Ele não faz falta.
Wangji  assentiu.
— É bom saber. E não esperava menos que isso.

Um minuto depois, a música acabou e o mestre de cerimônias pediu que todos procurassem seus lugares no salão de jantar. Assim que nos separamos um do outro, um homem se aproximou de Wangji  e pediu para falar com ele.
Ele parecia não querer sair de perto de mim.
— Onde está sentado? — perguntou.
— Mesa nove. E você?
— Mesa um. Eu falo com você mais tarde. Obrigado pela dança.
Fiz uma careta.
— Não tive opção. Aproveite a noite, sr. Lan.
Wangji  e eu não voltamos a nos encontrar pelo resto da noite. Mas nem por isso meus olhos deixavam de segui-lo. Ele estava ocupado; todos no salão queriam sua atenção. E provavelmente era melhor assim, já que o tipo de atenção que eu queria dele não seria das decisões profissionais mais sensatas. Mesmo assim, nossos olhares se encontraram algumas vezes e trocamos sorrisos que eu considerava íntimos, quase um flerte.
Quando o café foi servido, decidi que era hora de ir embora. Logo seriam três e meia. Olhei em volta procurando Wangji , pensando em me despedir com um aceno, mas ele estava conversando com um grupo de homens que pareciam ter idade para ser pai dele. Pensei em qual seria a etiqueta profissional correta. Devia me aproximar e interromper a conversa para me despedir ou simplesmente ir embora? Indeciso,  me despedi das pessoas sentadas à mesa. Quando terminei, olhei para onde Wangji  conversava com o grupo, e ele não estava mais lá.
Decidi que o destino tinha resolvido o dilema por mim.
Porém, quando me virei para sair, dei de cara com um corpo forte.
Recuei.
— Desculpe. Ah, é você...
— Parece desapontado. Queria ter tropeçado em outra pessoa?
Dei risada.
— Não. Eu ia me despedir, mas você desapareceu.
— Acho que fui mais rápido que você. Eu te acompanho. Também estou indo embora.
Não era o que parecia alguns minutos antes. Mesmo assim, Wangji  pôs a mão na parte inferior das minhas costas e me acompanhou até a saída do salão.
Quando saímos, peguei meu celular.
— Veio de carro? — ele perguntou.
— Não, de Uber. Queria tomar uma taça de vinho.
— Estou de carro. Eu deixo você em casa.
— Não é necessário.
— Eu faço questão.
Um minuto depois, a limusine se aproximou de onde estávamos. Aparentemente, estar de carro significava ter um motorista à disposição. O motorista uniformizado desceu do automóvel para abrir a porta, mas Wangji  acenou para dispensar a cortesia e ele mesmo a abriu.
— Obrigado — eu disse.
Deslizei no banco para deixar espaço para Wangji . O banco de trás era suficientemente espaçoso para acomodar dez pessoas. Mas, quando ele entrou no carro, de repente tive a sensação de que o espaço era muito pequeno. Sentia perfeitamente sua coxa encostando na minha.
Quando partimos, continuei olhando para a frente, mas sentia os olhos de Wangji  em mim.
— Que foi? — perguntei.
— Nada.
— Está me encarando.
Ele olhou dentro dos meus olhos.
— Seu endereço?
Por algum motivo maluco, hesitei antes de responder.
Wangji  deve ter sentido o momento de dúvida e riu.
— O motorista precisa saber onde fica sua casa, Wuxian . Não estava pensando em me convidar para entrar.
— Ah, sim. É claro.
Recitei o endereço me sentindo um idiota. Wangji  se inclinou para a frente e deu a informação ao motorista. Quando se acomodou novamente no banco, sua perna pressionou a minha com firmeza.
— Conte alguma coisa sobre você, Wuxian .
— O que quer saber?
— Qualquer coisa.
— Ok... — Pensei um pouco. — Fui promovido quatro vezes na Lan Industries nos últimos nove anos.
— Alguma coisa que eu não saiba.
Arqueei uma sobrancelha.
— Você olhou minha ficha.
— De que outra forma eu poderia ter decidido devolver seu emprego?
Mudei de posição no banco para ficar de frente para ele.
— Tenho uma ideia. Eu conto alguma coisa sobre mim que você não sabe se prometer responder a uma pergunta com honestidade.
Ele assentiu.
— Pode ser.
Não é fácil apresentar um fato engraçado e pouco conhecido sobre si mesmo estando sob pressão, mas fiz o melhor possível.
— Consigo dar um mortal para trás sem impulso.
Wangji  sorriu.
— Interessante.
— Obrigado. Minha vez. Decidiu me contratar de novo por causa da minha aparência?
— Quer a verdade?
— Seria bom.
Vi as engrenagens girando na cabeça dele.
— Se eu disser que sim, isso seria  impróprio, baseado em nosso relacionamento profissional.
Eu me inclinei na direção dele e baixei a voz.
— Vai ser nosso segredinho.
Ele riu e balançou a cabeça.
— Decidi contratar você novamente porque vi que é corajoso e não aceita as palhaçadas de gente como Bickman. E eu respeito isso.
— Ah. Ok. — Por mais esquisito que fosse, meus ombros caíram um pouco.
Wangji  se inclinou na minha direção e sussurrou:
— O fato de você ser maravilhoso é só um bônus.
Se eu fosse um pavão, minhas penas estariam abertas. Sorri.
— Obrigado. Agora conta alguma coisa sobre você que eu não sei.
Gostei de ver que ele parecia pensar um pouco, quando podia ter apenas relatado alguma conquista profissional.
— Sou um de três filhos. Fomos todos adotados de diferentes famílias, depois de termos sido acolhidos em lares temporários.
— Uau. Isso é bem pessoal. Sinto que agora tenho que oferecer mais que um mortal para trás.
Os olhos de Wangji  desceram até meus lábios antes de voltarem aos meus olhos.
— Aceito tudo que você quiser me dar.
Eu podia contar um milhão de coisas. Que tinha uma cicatriz no tronco deixada por um acidente de bicicleta que sofri aos sete anos, que dormia com a luz acesa porque não gostava de ficar sozinho no escuro... Caramba, eu podia contar que número de cueca eu usava. Mas fui contar a coisa mais desgraçada sobre mim.
— Meu pai está preso. Ele matou minha mãe.
O sorriso de Wangji  desapareceu. Mas não havia nenhum sinal de surpresa, apesar de a revelação tê-lo deixado impressionado e mudado o clima.
Soprei o ar lentamente e fechei os olhos.
— Já sabia disso, não é?
Ele confirmou com um movimento de cabeça.
— Vi seu prontuário. Fazemos uma profunda pesquisa de antecedentes com nossos funcionários...
Forcei um sorriso conciliador.
— É claro.
Wangji  bateu o ombro no meu.
— Mas ainda é importante. Obrigado por ter me contado isso.
Graças à minha boca enorme, o clima divertido ficou triste. Mas pensei em uma coisa que podia mudar isso.
— Se olhou minha ficha, talvez tenha visto o “vídeo ofensivo”?
Wangji  pigarreou e olhou para a frente.
— Eu tinha que saber com o que estava lidando.
Olhei para ele por um segundo. Wangji  parecia pouco à vontade com a direção que eu dava à conversa, o que só me fez querer insistir nesse caminho.
Inclinando um pouco o corpo na direção dele, baixei a voz.
— Viu mais de uma vez?
Wangji  hesitou por um momento. Parecia aliviado quando o celular tocou.
Ele tirou o aparelho do bolso e leu o nome na tela.
— Com licença. Preciso atender.
Ele deslizou o dedo na tela.
— Que foi?
Ouvi uma voz de mulher do outro lado, mas não consegui entender o que ela dizia.
— Há quanto tempo ele saiu?
A mulher falou mais alto. Parecia aborrecida com algo.
— Tudo bem. Estou perto. Não saia de casa. Vou encontrá-lo.
Ele desligou o celular e se inclinou para a frente para falar com o motorista.
— Pegue a próxima saída, vire à direita na Cross Bay e à esquerda na Singleton.
— Sim, senhor.
Wangji  respirou fundo e franziu a testa.
— Desculpe. Vamos ter que fazer uma parada antes.
— Está tudo bem?
Ele balançou a cabeça.
— Meu avô sofre de demência. Ainda está no estágio inicial, mas às vezes ele some. Minha avó não consegue mais cuidar dele sozinha, mas eles não querem aceitar ajuda até ser inevitável. Essa é a terceira vez que ele desaparece nos últimos dois meses.
— Sinto muito. Deve ser difícil lidar com isso.
— Não teria acontecido se eles tivessem deixado a empresa que contratei instalar o alarme há alguns dias, quando o instalador esteve lá. Mas eles não me deixam nem instalar um monitor para minha avó ser alertada quando alguma porta abre enquanto ela está dormindo.
O motorista pegou a saída indicada e seguiu as orientações. Depois, Wangji  o guiou por algumas ruas secundárias de um bairro muito elegante. Todas as casas eram recuadas, separadas da rua por gramados amplos, e muito grandes. Ele pediu ao motorista que fosse bem devagar e ligasse o farol alto.
— Essa é a casa deles. Normalmente ele faz o mesmo caminho. Vá até o fim da rua e vire à esquerda e à direita logo em seguida. Siga pela ruazinha sinuosa até a água.
— Parece que você sabe para onde ele está indo — comentei.
Wangji  olhava pelas janelas e continuava procurando enquanto respondia.
— Ele sempre vai para o mesmo lugar.
Alguns minutos depois, vi alguém andando pela calçada.
— Ali! — Apontei. — Tem alguém ali!
Wangji  suspirou profundamente.
— É ele. — E instruiu o motorista para parar atrás dele bem devagar. Ele desceu do carro antes mesmo de termos parado completamente.
Vi a interação entre os dois homens pelo para-brisa da limusine. O avô de Wangji  vestia um roupão de banho marrom e calçava chinelos. Estava despenteado e se virou com uma expressão confusa quando as luzes chamaram sua atenção. Mas todo o seu rosto se iluminou quando ele protegeu os olhos com a mão e viu o homem caminhando em sua direção. Definitivamente, reconhecia o neto. Ele abriu os braços e esperou, enquanto Wangji , de smoking e evidentemente frustrado, se aproximava.
Não consegui evitar um sorriso quando Wangji  cedeu e se deixou abraçar. Os dois conversaram por um minuto, depois Wangji  o levou para a limusine.
Ele ajudou o avô a entrar.
O homem sorriu para mim com simpatia ao sentar-se.
— Que bonito você é.
Wangji  entrou e fechou a porta. Balançou a cabeça.
— Não se deixe enganar pelo charme. Ele é um velho sem-vergonha.
O avô de Wangji  riu e piscou para mim.
— É exagero dele. Não sou tão velho.
— Tem que parar de sumir, vô. É quase meia-noite.
— Eu precisava ver Leilani.
— A esta hora?
— Um homem não se importa com a hora quando precisa ver sua garota.
Wangji  suspirou.
— Tenho uma ideia. Eu te levo até Leilani, mas vai ter que me deixar instalar um alarme na casa amanhã. A vó fica preocupada quando você desaparece.
O avô de Wangji  cruzou os braços. Parecia um garotinho informado de que não teria sobremesa se não comesse todos os vegetais.
— Certo.
Wangji  passou a mão na cabeça e olhou para mim.
— Você se incomoda se fizermos outra parada? É perto, ali no fim da rua.
— É claro que não. Faça o que tem que fazer.
— Obrigado. — Ele se inclinou para falar com o motorista.
— Vamos para a Marina Castaway, por favor.
(.....)

𝑻𝑶𝑻𝑨𝑳𝑴𝑬𝑵𝑻𝑬 𝑰𝑵𝑨𝑫𝑬𝑸𝑼𝑨𝑫𝑶Onde histórias criam vida. Descubra agora