VINTE E TRÊS
Wangji
Wuxian estava estranho. Eu havia notado na outra noite, durante a sobremesa, mas atribuí isso ao cansaço, já que ele acordava de madrugada. Ontem mandei uma mensagem perguntando se ele queria pedir o almoço, e ele só respondeu quando já estava em casa, alegando que tinha trabalhado muito. E hoje ele havia lido minha mensagem havia uma hora, mas ainda não tinha respondido.
Portanto, contrariando o bom senso, atravessei a rua e peguei o elevador para o andar da emissora.
Wuxian estava em pé, falando ao telefone, quando nossos olhares se encontraram. A mudança em sua expressão confirmou minha suspeita de que algo estava errado. Ele desligou assim que entrei e fechei a porta.
— Não gosto de vir aqui porque não quero criar situações difíceis para você no trabalho.
Ele forçou um sorriso.
— E eu agradeço por isso.
— Mas você me deixou sem opções quando começou a me evitar.
— Não estou te evitando.
Fiz uma careta para demonstrar que sabia que ele estava mentindo.
Wuxian suspirou e sentou-se.
— Tudo bem.
— O que está acontecendo?
— Acho que aquela mulher do restaurante me fez surtar.
Franzi a testa porque não entendera de imediato a quem ela se referia.
— Shannon?
Wuxian assentiu.
— Parei de sair com ela há uns dois anos. Não sabia que ela trabalhava lá.
— Eu acredito. Mas ela disse uma coisa...
Tentei pensar no que podia ser, mas não me lembrava de Shannon ter falado muito depois que Wuxian havia chegado.
— O que ela disse?
— Ela ficou me esperando no corredor quando eu estava lá e disse que vocês ficaram juntos por uns seis meses. Não foram só algumas vezes...
— Sinceramente, não sei quanto tempo durou... Talvez tenhamos saído umas seis vezes em quatro meses, no máximo. Parece que ela tentou dar a impressão de que foi algo mais importante do que realmente era.
— Ela também disse que levou quase um ano para superar você.
A ruga persistia em minha testa.
— Eu não sabia que ela tinha ido atrás de você no banheiro. Lamento que ela tenha passado por isso. Mas, como eu disse, fui honesto desde o início com todas as pessoas com quem tive algum tipo de relação.
— Eu sei. E ela também disse isso. Mas... — Ela balançou a cabeça.
A culpa disso era toda minha. Eu estava estragando tudo. Wuxian tinha medo de ficar comigo porque eu não dava nenhuma razão para ele se sentir seguro. O melhor que fiz foi dizer que não sabia ao certo do que seria capaz. Quando não era eu recuando, era ele. Nós dois fazíamos um jogo contínuo de esconde-esconde, e era hora de eu sair de cena de vez ou mandar um foda-se e me jogar de cabeça nisso.
Inclinei o corpo para a frente.
— Sou maluco por você, Wuxian. Só disse isso para uma mulher antes e me casei com ela. Peço desculpas se estou deixando você em dúvida. Sei que fiz isso. Mas... Fiz questão de olhar dentro dos olhos dele.
— Quero fazer dar certo. Nos últimos sete anos, não quis fazer nada dar certo. Penso em você às onze da manhã quando estou ocupado em uma reunião. Nos últimos sete anos, só pensava em alguém às onze da noite quando estava sozinho. Tem uma grande diferença.
Os olhos de Wuxian começaram a se encher de lágrimas.
— Também quero que dê certo.
Sorri.
— Então vamos nessa, baby. Vamos fazer dar certo.
Ele ficou parado por um minuto, talvez digerindo alguma coisa, não sei.
Depois sorriu.
— Ok.
Suspirei aliviado.
— Quer almoçar?
Ele concordou.
— Só preciso de uns vinte minutos para terminar tudo aqui.
— Vou pedir alguma coisa para nós. Espero você no meu escritório. Vai para lá quando acabar aqui.
— Combinado.
Virei para sair, mas parei com a mão na maçaneta da porta.
— Tira a cueca antes de ir. Porque, depois do almoço, vou comer você em cima da minha mesa.
—
A noiva deve ser o centro das atenções em um casamento, mas eu não conseguia desviar o olhar do homem de smoking. O smoking envolvia cada curva suculenta de Wuxian, e o cabelo deixava à mostra um pescoço longo e eu amava. Wuxian me olhou desconfiado, sorrindo debochado ao se aproximar de onde eu estava sentado, olhando para ele do outro lado do salão.
