Lar Doce Lar

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                  《《 Tyler 》》

Enquanto vejo  esse felino manhoso adormecer, me encontro viajando  em músicas as vezes um tanto melancólicas.Por mais que minha vida seja quase sempre  só alegria, uma música com uma letra triste, cai bem de vez em quando. Ver Alex novamente em meu colo me trás  lembranças aconchegantes.

Sempre fomos aquela dupla colegial imbatível, indo para a diretoria rindo sem medo algum, matando aulas, ficando de recuperação e se metendo em encrencas com os pais. Acho que nessa parte, não éramos uma boa influência para o outro e pelo menos não continuamos desse jeito, nos esforçamos e paramos de brincar tanto na escola, até por quê mais tarde seria o nosso futuro que encarariamos.Hoje eu ainda moro em Tokyo a capital do Japão,  aonde nascemos e crescemos.Nossas familias seguiram rumos diferentes por conta do trabalho que era mais lucrativo para os pais do Alex.Eles foram morar em Kyoto uma região de mil metros acima do mar, bom, nas montanhas. Eu o visitei poucas vezes pois a distância entre Tokyo  e Kyoto é  de quatrocentos e cinquenta e  oito quilômetros.De carro é  em torno de cinco horas  e de avião  apenas três e meia, e de carro é  mais barato obviamente porém nem todo mês eu posso ir lá vê-lo mas tentamos trocar as despesas.Em algumas oportunidades ele vem e quando ele não vem, eu vou e quando não dá para nenhum dos dois, é  um mês  onde eu me sinto extremamente sozinho e acho que ele também Foram trinta dias afastados e no dia primeiro de janeiro, dia do nosso aniversário, ele chegou e deixou claro toda a sua saudade e inquietação. Não há  muito o quê negar  a ele, não há quase nenhum segredo restante na minha mente, apenas um. Não me sinto preparado pra contar, as coisas podem mudar  e eu perderia um amigo de berço, literalmente.Nesses últimos anos, a sua mudança para longe  me deixou ainda mais medroso, hoje e daqui  um mês, o  terei de braços abertos e sorrindo porém me machucando um pouco mais.Sempre quando o olho pela primeira vez na manhãs  e última vez antes de dormir me pergunto: "até quando? Até quando vou sustentar essa mentira, e quando vai parar de doer ?".

– Hey... – Alex se movimentou  lentamente, eu nem havia sentido esses movimentos, quando me dei conta,  o encontrei me encarando, me chamando a atenção, calmamente.

Parei de olhar além da janela do ônibus e agora voltava minha atenção  a ele.

– Oi? Não dormiu nem meia hora ainda, descansa... – Pedi o induzindo a voltar seu rosto à minha coxa e dormir novamente, e ele o fez.

– O quê  estava pensando ? Você fica muito sério  pensando e isso me assusta.– Confessou.

Olhando o seu corpinho reprimido entre as poltronas nada aconchegantes da última filera, me peguei novamente pensando um pouco mais.

– Estava pensando no que faríamos quando chegarmos. – Sorri ainda que ele não visse.

– Hum... suspeito.– Desconfiou.

– Acha que estou mentindo ? – Perguntei confuso com sua resposta.

– Eu te conheço, bobão,  você não está mentindo mas não foi só isso que pensou.  Eu já descansei um pouco, podemos conversar... – Alex se virou de barriga para cima e agora sua nuca estava pesando em minha coxa e seu rosto me encarando, me acusando.

– Tá bom! Eu estava voltando ao passado, okay ?  Satisfeito !? – Não era um tom de voz bravo, nem uma feição mas sim dizendo o fato em bom som e também derrotado por sua insistência.

– Um pouco. Agora olha pra mim! – Pediu e eu obedeci e então ficamos em silêncio,  eu esperava um próximo movimento seu. – Eu tô aqui agora e não quero você melancólico! Eu vou mudar essa playlist agora !. – Eu continuei o encarando, vendo seus movimentos ágeis  e bravos, ou chateados.

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