Capítulo XVII - O alicerce do futuro é o sangue

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Um delicado tom alaranjado dança entre as nuvens com a companhia de uma vibrante coloração rosa, este é o ato final da grande peça apresentada pelo dia antes do sol sumir atrás das escuras cortinas da noite. Os resquícios de iluminação ainda existentes pairam sobre as avenidas de Tokyo, que são adornadas por prédios gigantes e uma multidão de pessoas locomovem-se por ela com uma pressa destruidora de qualquer sentimento de serenidade ou até mesmo de felicidade.

O pequeno duque é apenas um entre as inúmeras vítimas do atraso da extrema agitação que qualquer cidade grande possui. Ele está aguardando o semáforo fechar para, junto de seu "cachorrinho", atravessar a faixa de pedestres. Daisuke mantém na coleira um pit bull que pode muito bem ser maior do que ele, entretanto não possui a agressividade que muitos esperariam, ao contrário, possui uma cara de bobão. Os dois, com uma bela e serena postura solene, onde qualquer um os julgaria nobres caso este cargo ainda existisse entre os humanos japoneses, atravessam a avenida, indo cumprir uma das intermináveis responsabilidades políticas que caem nas costas de um duque.

Não demora para Daisuke e seu cachorro, Susano, saírem da avenida e encontrarem uma rua residencial. Ambos prosseguem destemidos a caminho do destino que anseiam chegar o mais rápido possível porque se trata de um assunto da mais extrema urgência. Nem mesmo uma loja de dangos, uma comida muito apreciada por Daisuke, é capaz distraí-lo com o seu doce odor de açúcar que domina os ares da calçada que ambos caminham. De cabeça erguida como um leão desfilando entre seus súditos, Daisuke evita até mesmo olhar para o lado da loja e não desvia o seu passo em nem um milímetro na direção dos dangos.

Daisuke para na frente de uma casa de aspecto ocidental pintada de bege e adornada com vigas de madeira, passando a impressão que um estrangeiro vive nela; mais especificamente, um alemão. Ele se estica para alcançar a campainha e aperta-a. Daisuke espera alguns segundos que, para uma criança, aparenta ser uma eternidade e aperta de novo. Não vindo ninguém nos próximos segundos, ele aperta de novo, desta vez, a porta é aberta.

Daisuke levanta o seu rostinho fofo para fazer contato visual com este homem que certamente acabara de acordar e seu cachorrinho imita-o, mostrando a linguinha em uma expressão pitica enquanto também olha para quem abrira a porta, que, apesar de ser sábado, ainda utiliza um uniforme em um estado tão bagunçado quanto os curtos cabelos negros dele.

- Boa tarde, Otto - diz com um doce e inocente sorriso infantil.

- Boa tarde, Daisuke. Algum problema? - ele ainda está fazendo o download da alma.

- Posso entrar?

- Claro - ele vai para o lado da porta, deixando o Daisuke passar.

Apenas o ato de atravessar a porta concede a ele a chance de vislumbrar como é a casa do duque alemão, o chão é feito de madeira, as paredes são pintadas de tons de bege e móveis possuem uma coloração acastanhada, tudo isso organizado em uma perfeita ordem. O pequeno yokai ordena que o Susano permaneça sentado na entrada, e depois, segue o Otto, que o convida para sentar-se no sofá junto dele.

- Precisamos dos lobisomens para procurar por dois desaparecido no reino humano.

- Faz quanto tempo que eles sumiram?

- No nosso fuso horário, nos avisaram às duas horas da madrugada de hoje; no fuso horário dos desaparecidos, foi às dezenove horas de ontem.

- E onde eles estão?

- Perdão, o que?

- Desculpe-me, é o sono. Onde eles estavam quando foram vistos pela última vez?

- Eu não sei.

- Sabe ao menos o país?

- Eles estavam na região sul de Israel, na cidade Bersheeva.

- Como é a aparência deles?

O Lado Oculto - Vingança de Ferro e Sangue Where stories live. Discover now