2. Castigo

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Billie estava assustada e com raiva ao mesmo tempo, se é que fosse possível. Imaginava que já havia passado por vários tipos de humilhação, mas aquele era o pior deles. O jovem loiro a encarava com uma expressão difícil de interpretar. Anthony Killian havia salvo ela pela segunda vez e não sabia ao certo como se sentir com aquilo.

-Você não deveria ter feito isso, garoto!

-Vamos embora agora! O presidente ligou e precisa de você no conglomerado nesse momento...- Anthony falou exasperado. O magistrado se recompondo, ajeitou a gravata e saiu fuzilando a garota com um olhar. 

-Depois falaremos disso!  - disse o velho homem para o Tony.

Não se importava com o que ele havia pensado dela, Billie só queria sair daquele lugar sombrio em que havia se acostumado a ficar, onde qualquer um se perdia e era difícil encontrar volta. Tony queria gritar com o pai, queria dizer que odiava seu comportamento abusivo. Suspirou cansado por ter corrido até o local e virou-se para falar com a garota que havia procurado por anos, era ela e ele tinha certeza. 

-Espera! - ele gritou fazendo Billie parar de correr.

-Não precisa ter medo, não farei nada. - Tony disse calmo, finalmente. Sua respiração parecia estar desacelerando.

-É isso que acha que sinto quando vocês estão perto?- Billie se virou voltando em direção à Tony.

-O quê? 

Billie se aproximou encarando o velho conhecido que não havia mudado muito, apenas por suas feições antes de menino agora mais maduras e bem alinhadas.  

-Acha que sinto medo de vocês?

-Foi o que pareceu há uns minutos atrás. - respondeu sem tirar os olhos dos dela. A intensidade das emoções dela o deixavam a flor da pele.

-Quer saber o que sinto por vocês, filho do magistrado? Eu odeio vocês, são desprezíveis e nojentos. Além de nos roubarem aos poucos pra parecer que são compassivos. Conquistar pra dividir, já ouviu falar em colonização? - a garota estava visivelmente abalada e a raiva fugia por seu olhar. Tony sabia.

-O termo não me é estranho - provocou em resposta - ao contrário de você. - Deu de ombros-  Quando ajudamos alguém geralmente esperamos gratidão em resposta.

-Você realmente acha que me ajudou? Vou dizer o que fez, você só adiou a maldade do seu pai! Acha mesmo que ele vai parar? Isso te faz sentir melhor? Você não me ajudou, gente como você não faz nada para me ajudar. 

"Gente como você" atingiu Tony de alguma forma. Ele nunca quis ser filho do magistrado e conhecendo como o pai poderia ser perverso quando queria, sentia-se humilhado com aquela afirmação tão forte sobre ele, a verdade por trás de suas ações. Ele não poderia mudar ser filho de um dos homens mais maldosos do país e sabia daquilo. Billie continha tanta raiva guardada que quando despejou em Tony o fez recuar um passo. A garota baixou o dedo que havia apontado para o rosto dele. Ela conseguia se conter com frequência, só que ali não tinha explicações para ter mostrado sua raiva. Talvez fosse o cansaço de um dia cheio de trabalho e arrogantes a maltratando ou somente a presença do mesmo sobrenome que ela odiava tanto por tanto tempo ali à sua frente.

-Não preciso de sua ajuda Anthony Killian. Dá próxima vez, pode fingir que eu não existo. -Como da última vez, pensou ela se afastando.

Anthony sabia que não, poucas pessoas precisavam dele. Estava acostumado a ser odiado, talvez fosse ser pra sempre castigado pelo sobrenome que carregava. 

***

Alexandra Smith acordara cedo para uma pesquisa de campo, depois das últimas aulas de tecnologia que tivera na Universidade Central, mas havia algo muito errado nas últimas semanas de aulas. Seus professores cochichavam algo pelos cantos, mas quando ela se aproximava todos se afastavam. Era algo estranho até pra ela que estava acostumada com a atenção por ser filha do homem mais importante de sua sociedade. Ela já havia decidido não ficar na cidade central por aquele motivo, preferia voltar para sua cidade natal, onde ninguém a conhecia, pelo período de férias. Seu pai não gostava tanto da ideia, só aceitou quando o magistrado pediu a ele que a garota fosse. Ela sabia bem do plano dos dois em juntar os filhos em matrimônio num futuro próximo. Ela só não gostava daquela pressão toda, não teria problema em se casar com seu amigo de infância se ele a amasse. O que não era a realidade. Tony havia se distanciado dela e por mais machucada que estivesse não forçaria a barra. Sentia falta de Betsy e Simon também, queria ver os amigos. 

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⏰ Last updated: Mar 05 ⏰

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