03- Lisa

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— Realmente acho que você devia cantar a última nota em mi maior

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— Realmente acho que você devia cantar a última nota em mi maior. – insiste
Cass.

Parece um disco arranhado, repetindo a mesma sugestão absurda toda vez
que terminamos de repassar nosso dueto.

Considero-me uma pacifista. Não acredito em resolver problemas na base da
violência. Para mim, lutas organizadas são uma verdadeira barbárie, e a ideia de
uma guerra me dá náuseas.

No entanto, estou a um passo de dar um murro na cara de Cassidy Donovan.

— A nota é baixa demais para mim – digo, com firmeza, mas é impossível
esconder a irritação.

Frustrado, Cass ajeita o cabelo escuro ondulado com uma das mãos e se vira
para Mary Jane, que está inquieta, pouco à vontade, na banqueta do piano.

— Você sabe que tenho razão, M.J.
– implora a ela. — Vamos criar muito mais impacto se terminarmos na mesma nota, em vez de seguir a harmonização.

— Pelo contrário, o impacto vai ser muito maior com a harmonização. – argumento.

Estou prestes a arrancar os cabelos. Sei exatamente o que Cass está tramando.

Quer que a música termine na nota dele. Desde que a gente resolveu se juntar para
o festival de inverno, ele tem aprontado esse tipo de coisa, fazendo o possível para
ressaltar a própria voz e me colocar de escanteio.

Se eu soubesse a diva que o cara é, teria corrido desse dueto como o diabo foge
da cruz, mas o filho da mãe resolveu só mostrar a que veio depois que começamos
os ensaios, e agora é tarde demais para pular fora. Investi muito neste número e,
para falar a verdade, sou completamente apaixonada pela música.

Mary Jane escreveu uma canção fantástica, e parte de mim não está com a menor vontade de decepcioná-la. Além do mais, tenho provas concretas de que a faculdade prefere duetos a solos, porque as últimas quatro apresentações dignas de bolsa foram duetos. Os juízes ficam loucos com harmonias complexas, o que essa composição tem de sobra.

— M.J.? –  insiste Cass.

— Hmm…

Dá para ver a loura mignon praticamente se derretendo sob o olhar magnético
de Cass.

O sujeito tem esse poder sobre as mulheres. É bonito de doer, além de ter
uma voz fenomenal. Infelizmente, tem total consciência de ambas as qualidades e
nenhum escrúpulo em usá-las a seu favor.

— Talvez Cass tenha razão. – murmura M.J., evitando meus olhos ao me trair. —: Por que a gente não tenta o mi maior, Lisa? Só uma vez, para ver qual dos dois
funciona melhor.

Até tu, Brutus?! Tenho vontade de gritar, mas mordo a língua. Como eu, faz
semanas que M.J. tem sido forçada a lidar com as exigências absurdas de Cass e
suas ideias “geniais”, e ela não tem culpa de se esforçar para encontrar uma
solução.

O Acordo - LiskookOnde histórias criam vida. Descubra agora