Sacrilégio

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"E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão."
- Hebreus 9:22

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Veryesk, 13 de Janeiro de 2010

Nos seres de Deus, do nosso sagrado Pai, conseguiríamos viver sem este tolo líquido em nossas veias?

Naquela altura, quando ele perguntou isso ao rapaz, a criança não conseguiu responder. Mas hoje, sentindo o forte odor metálico, ele compreendeu o que o seu pai se referia:

O Homem, por natureza, não vive sem sacrilégio, assim como não sobrevive sem o fluxo escarlate.

"O sangue é uma evidência das almas corrompidas pelo pecado."

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Veryesk, 11 de Janeiro de 2010

- Viktor. - O rapaz levantou a cabeça, visivelmente assustado. Sua respiração estava irregular, e o coração parecia prestes a saltar-lhe pela boca. - Credo, parece que viste algum fantasma! - o mais alto resmungou, ele observava Viktor, com uma expressão fria.

- Riley... - Viktor sussurrou, desviando o olhar. Ele não estava no clima para ouvir as piadas do seu melhor amigo.

Riley estava sentado do lado de Viktor, com uma expressão fria e incompreensível. Ele apoiava a cabeça na palma da sua mão, enquanto segurava um livro com a outra. O cabelo de Riley voava com a brisa, assim como as páginas também perseguiam o vento. Apesar da maquilhagem, ele era naturalmente lindo. Era capaz de tirar o fôlego de Viktor apenas com um olhar.

- Você dormiu, e estava falando coisas sem...

- Que tipo de coisas? - Viktor interrompeu Riley, estava assustado com a ideia de falar durante o sono. Era a primeira vez que isso acontecia, pelo menos em público.

- Sem sentido. Obrigado por me deixar finalizar! - a voz do rapaz se tornou grossa, não era um dos seus dias pacientes. Viktor se sentiu mal pela interrupção, então abaixou a cabeça e pediu desculpas, o arrependimento estava evidente em seu tom. Riley suspirou e esticou os braços, então deixou uma das mãos cair violentamente contra o ombro do ruivo. - Você ficou repetindo versículos bíblicos - Riley contou, enquanto Viktor resmungava de dor pelo seu ombro dolorido - Isso faz sentido?

- Eu não sei... - O ruivo gaguejou, então olhou para as árvores à pouca distância deles. Esse era um dos poucos dias onde o sol aparecia, e poder ver a cor das folhas era tão lindo quanto Riley. O verde atraente lembrava o cabelo do rapaz, tinham o mesmo tom.

Viktor, durante o tempo que olhava para aquelas folhas e comparava com a tinta verde nos fios de Riley, não podia deixar de pensar no seu pai. A verdade era que Viktor mentiu. Ele sabia o porquê do sonambulismo repentino.

Nos últimos dias, ele não tem dormido o suficiente. Tem ficado até tarde da noite tentando decorar as inúmeras palavras do livro sagrado. Era isso ou seu pai trabalharia com punições. E Viktor não queria ficar com hematomas mais uma vez. Seu medo era chegar em casa e encontrar seu pai o esperando, sentado na poltrona com o bastão de ferro em sua mão. Pronto para confrontar o conhecimento do ruivo e, se não fosse o bastante, também estava pronto para o castigar.

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