Regressões à Vidas Passadas

53. Malefícios da Ausência

vi o egoísmo destruir o meu lar, nas poças de chuva dessa cidade enxergo o reflexo de alguém que cresceu com a sua ausência. clima fechado, cara fechada, barulheira ao cair noite, garrafas de bebidas alcóolicas, gritos sem necessidade, choro desesperado, lágrimas na infância, o medo de dormir, a falta do abraço, o incentivo que nunca existiu, o diálogo necessário que nunca tivemos, o abraço que eu gostaria de ter te dado, a decepção que não gostaria de ter, o medo, o receio, a frieza, a tempestade, a dor, o meu herói favorito que nunca pude dizer que era meu, os eventos que vi crianças vivendo oque eu gostaria de ter vivido ao seu lado, o filme que me fez lembrar de você, as músicas da rádio que tocavam no nosso antigo carro, suas ligações dizendo que voltaria em breve mas que nunca voltou logo para casa, as coisas escondidas durante muito tempo, desconhecer o alguém que divide o mesmo teto que você, a tristeza de se não confiar, a mentira, a destruição disfarçada em palavras, encontrar a sua figura em outras pessoas, querer ser o oposto do que você foi, me trancafiar no quarto me perguntando: por que logo comigo? dizer que não ligo para coisas que sempre me atormentaram, chorar escondido para nunca desconfiarem da falta que eu sentia de você, todos os dias em que ignorei nossos retratos juntos me recusando assumir a saudade que eu sentia de te ter por perto, a inveja que senti dos outros por terem oque não consegui ter, o privilégio, a falta de sorte, cadeiras vazias, um buraco, um aperto no peito, um nó na garganta, a falta de palavras, os olhares, julgamentos, receios, quando taquei fogo nas suas fotos por tanto desgosto guardado pela sua falta, pelo que aconteceu, pelo que fez, pelo que poderia ter sido, pelo que não foi, pelo que eu queria ser, pelo que eu desejava que você fosse, pelo mínimo que não você não me deu, pelos atos desprezíveis, por as noites que eu chorei escondido para ninguém perceber. por todo tempo em que eu cresci pois sei que isso dói, assim como doeu, até demais. algo torturante, esquecível, tenebroso. de todas as vezes que me perguntei se o problema era comigo, com o que não fui, com o que eu poderia ter sido ou se fui um bom filho para você. sobre o momento em que parei para refletir se você sabia que o problema nunca fui eu e sim o abraço sincero que você nunca veio me dar. nunca souberam da minha estrada, nem metade pelo que passei, assim como muitos ainda não compartilham sobre suas dores que os(as) fizeram chorar por noites e dias para que as outras pessoas não percebessem o quanto aquilo os(as) machucavam, assim como também aconteceu comigo.

- malefícios da ausência de um pai