Parte 1

0 0 0
                                    

Enquanto os olhos da pequena criada encaravam a imagem cinzenta de chuva pela janela do chalé, a senhora Raabe subia as escadas para mandá-ila dormir ao invés de gastar sua vista com aqueles contos antigos.
A porta do quarto foi aberta pelo lado de fora, e a senhora de cabelos grisalhos apareceu com uma lamparina na mão.
- Durma criança, amanhã você terá que levar uma cesta com queijo de cabra até o castelo Egerkov - disse a velha.
Mia assoprou a vela acessa sobre uma mesinha ao lado de sua cama de palha e se enrrolou nas cobertas.
Seus cabelos desgrenhados e cor de palha sua pele livida parecia irritar a senhora Raabe naturalmente.
Ela morava na fazenda com os Hans desde que se lembrava, mas sabia que ela não tinha parente nenhum, eles deixavam bem claro.
Por algum copalso da Condessa, ela havia sido adotada em um acesso de caridade e a jogou no chalé com a senhora Hans, e os dois filhos.
Eles cuidavam das macieiras e das cabras e ovelhas, enquanto Mia era responsável por todo tipo de escravidão possível.
Eles jamais foram fraternais com a menina, mas o servilismo os unia.
Ela encontrava seu refúgio quando podia se misturar aos bosques e florestas da ilha Fionia.
E antes que ela pudesse sonhar com aquilo, o dia raiou e ela enfiou as botas na neve.
A cozinheira principal do castelo a recebeu pela porta dos fundos e caridosamente lhe ofereceu um chá quente antes de retornar.
- Como está crecida criança - disse Mamina enquanto esvaziava a cesta - Quantos anos já têm?
- Quinze - respondeu Mia.
- Você e jovem lorde Efraim possuem a mesma idade, mas são bem diferentes - a senhora bufou.
O jovem lorde, era sobrinho do Conde para quem ela trabalhava. O garoto havia sido mandado para morar com o tio a três meses após um incendio na sua casa de seus pais na Holanda.
Dizem que a mãe dele escreveu uma biblia na parede com o próprio sangue na sala, e que o menino havia enlouquecido desde então.
Ele recebia visitas excessivas de médicos, padres e até pastores e só saia do castelo acompanhado por um guarda e sua cadela.
- O rapaz foi cavalgar, e caiu do cavalo, ao inves de levantar, ele deixou o cavalo esmagar seu rosto - murmurou uma das criadas.
- Silêncio - Mamila a corrigiu - Volte ao trabalho.
Silênciosa e cautelosa, Mia bebeu o chá e avançou em direção ao chalé.
Enquanto passava pelo estábulos, viu Efraim com o lado direito do rosto coberto pir ataduras alisando um enorme cavalo branco.
O guarda que o seguia, estava ao seu lado, como uma estátua.
Mia sentiu o frio se instalar em seus ossos, e após fazer uma reverência a criatura débil de cabelos vermelhos, ela correu de volta ao chalé vermelho.

Sobre os LiriosWhere stories live. Discover now