Deprê

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Tédio de tudo, em tudo falta um quê

Tédio do mundo, desse ser e não ser

Abraço o travesseiro, me dou o prazer

Transo comigo pensando em você.






— Vai pra sua casa, Moura... — disse, me espreguiçando no peito nu do policial baiano, procurando uma falha em específico da sua barba que eu gostava de tocar.


Coé, cê nunca me deixa dormir aqui, hein? — reclamou, murmurando.


— Ah, eu gosto do meu espaço. Cê sabe... faz essa carinha pra mim não, lindo. Não cola, tu me conhece melhor que ninguém. — disse, procurando meu robe verde pra despachar ele de lá. — Eu te levo até a porta, pra você voltar.


— É o que você sempre diz...


E iria continuar dizendo por um bom, bom tempo. Oh well, tenha paciência.


Contexto para que eu não soe como uma louca: Moura era um policial gatinho, ou melhor, um comandante gatinho do Batalhão de Operações Policiais Especiais que eu havia tido o prazer de conhecer num showzinho quaisquer uns anos atrás, e que vira e mexe, pintava na minha cama, um casual daqueles bem gostosos.


O sexo era uma beleza, mas era só sexo. Eu não via nada de especial nele que me fizesse realmente querer que ele ficasse ali, não tínhamos um papo em comum que não fosse sexo. Era um trato silencioso.


Segui ele até a porta da casa, 22h de uma segunda (sim, qual o problema?), cambaleando porque minhas pernas continuam fracas e bem... ele estava uma bagunça.


Eu me apoiei na mesinha do meio do hall com os braços cruzados sob a cintura, esperando que o elevador subisse, demorando mais que o ideal. Ding-dong, as portas abriram — e ele também.


Como se não bastasse o casual tentando passar para o seu momento prime, me saí do elevador o meu vizinho, lindo de morrer, com o crachá do Estúdio L, a camisa de botões erguida até o antebraço, gravata frouxa, blazer em mãos. Ao se bater com Moura, uma estranheza daquelas da mãe natureza: A lei da seleção sexual.


Eu estudei isso uma vez quando produzi meu livro de crônicas, e é interessantíssimo ver como funciona esse conceito da natureza na vida real.


Li que a exibição dos machos em arena, além de ser guia da competição natural pela reprodução, produz uma linha de gasto de energia que aumenta linearmente com a frequência de danças e exibições. Os machos que mais acasalam são aqueles que mais se movem, então o esforço é recompensado.


Bom, enquanto fêmea alfa, afirmo que... A preferência no mundo natural pode ser resumida de uma maneira simples: a genética.


Um queixo bem exposto, uma mandíbula forte, um olhar de petulância cruel: todas as coisas que gosto, reunidas num tipo único. No pior tipo do mundo.


— Gio, a gente se fala. — Moura respondeu, preguiçoso, me dando um beijo na boca bem devagar, na frente de Nero. — Boa noite.


— Boa noite, capitão. — bati continência, e ele sumiu junto ao elevador.


Virei as costas, reparando tanto nele, e em como as suas costas eram quase da largura da porta. Quel crueldade. Sinto que às vezes vivo um eterno período fértil.


Sex AppealWhere stories live. Discover now