POV João

Para a surpresa de João, o encontro estava indo muito bem. Daniela não era chata e nem cheia de si, e João começou a entender como as coisas acabam em um relacionamento. Se ele tivesse se interessado, mesmo que remotamente, fisicamente nela, ele poderia ter concordado com um segundo encontro. E talvez um terceiro, quem sabe?

- João, eu preciso me desculpar com você. - Daniela disse parecendo desconfortável pela primeira vez durante toda a noite. Seus olhos azuis circularam nervosamente pelo restaurante, e João começou a se perguntar se ele estava errada sobre ela o tempo todo. Talvez ela fosse um vigarista. Talvez a verdadeira Daniela Thornton estivesse arramada e amordaçada no porta-malas de um carro.

João abaixou a sua taça de Château Margaux e encarou a sua parceira com uma expressão que ele esperava que fosse 'estou curioso mas não em pânico'.

- Eu sei que as nossas mães arranjaram esse encontro, e eu estou realmente honrada de você ter aceitado esse encontro comigo, considerando quem você é e tudo mais. E eu sei que isso me faz a pessoa mais idiota em mais de trinta países. Quer dizer, quem não gostaria de sair em um encontro com João Romania, né? - Ela pegou a taça e virou tudo de uma vez antes de continuar. - O que eu to querendo dizer é que... O meu último relacionamento... Eu e ele estávamos muito sérios e eu... Eu não superei ainda. Deus sabe que eu estou tentando. E bem, ele quebrou o meu coração de todas as maneiras imagináveis. Só que eu... não. - Ela suspirou olhando para ela. - O que eu to querendo te dizer é que você é tão adorável e eu estou me sentindo horrível por ter concordado com esse encontro quando na verdade, eu não superei ele ainda.

João relaxou e ofereceu a ela um simpático sorriso.

Dizer que ele estava aliviado era pouco.

- Eu entendo completamente - ele disse e ficou feliz quando ela retribuiu o sorriso. - Porque a gente não aproveita o final do nosso jantar e assim nós podemos dizer as nossas mães que a gente não envergonhou as nossas famílias. Isso é tudo o que importa para elas, no final das contas.

Daniela gargalhou.

- É verdade, não é? - Ela o estudou por um minuto e pareceu pensativa por um momento. - Me desculpe por perguntar, mas porque você continua solteiro? Eu tenho certeza que tem uma fila infindável de mulheres só esperando uma chance para te levar para Jantar.

João abaixou o seu olhar se sentindo desconfortável com o assunto; como se ela fosse capaz de descobrir a verdade só por olhar para ele.

- Eu acho que eu sou meio seletivo.

Ela assentiu com a cabeça, como se ele tivesse dito algo muito sábio.

- Isso é bom. Não se acomode. Eu namorei muitos homens. Aprovados pela família, é claro. E eu tinha certeza que um desses garotos de Stanford seria o perfeito. Não aconteceu. Aí eu comecei a trabalhar e você sabe, as horas corridas no hospital me deixaram sem vida social. E um dia, depois de eu ter desisto de procurar por alguém, eu o encontrei. O filho da empregada.
Foi um desastre desde o começo. - Ela balançou a cabeça com tristeza e suspirou. - Mas você não escolhe quem ama, certo?

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Seu telefone começou a tocar no exato momento em que ele pisou em casa, e a imagem de Giovana se escondendo atrás das árvores passou pela sua cabeça.

- Você é impecável, está me stalkeando?

- Sempre - Giovana disse. - Seus contracheques financiaram todo meu arsenal de ferramentas.
Óculos noturnos, binóculos, tudo de primeira. E eu ouvi falar que uns meninos da faculdade criaram tipo um traje de camuflagem. Eu já estou encomendando.

O lado cego do amor - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora