O lado cego do amor - Pejão

27

POV João

João estava acordado quando a primeira batida veio, eleesteve olhando para o despertador por horas, maravilhado com a forma como o tempo passou lentamente na ausência de distração.

Ele não tinha dormido.

Ele se ocupou com pensamentos e com o programa ocasional na televisão, mas ele não tinha dormido. O relógio mudou para 07h04, assim que a segunda batida veio. João queria ignora-la, pensando que era provavelmente Giovana novamente. Ou talvez Malu. Ou pior ainda, um stripper.

Mas ele levantou-se de qualquer maneira, porque era a hora errada para qualquer desses visitantes, o que significava que poderia ser algo importante.

Sua mão estava na maçaneta quando a terceira batida veio e ele mal registrou quem era antes de abrir a porta.

- Pedro.

Pedro estava em pé no corredor, parecendo cansado e despenteado, vestindo jeans manchado de tinta e seu casaco preto de costume, seu cabelo incrivelmente hidratado refletia na luz do corredor e ele parecia perfeitamente sério quando disse

- Eu tenho perguntas.

João abriu a porta e deixou o artista entrar, tentando não se deixar sentir aliviado ou até
mesmo esperançoso.

Pedro tirou o casaco e sentou-se no segundo degrau.

- Eu fiquei acordado a noite toda lendo seus e-mails para mim. - disse ele, olhando para o chão, ou talvez para seus pés. - E então eu passei um tempo olhando coisas sobre você na Internet.

João se encolheu com isso.

- Um pensamento terrível...

Pedro olhou para cima.

- Há um monte de boatos sobre você e aquela mulher da sua série.

- Eu aposto. - João murmurou.

- Portanto, não é verdade? - Pedro pressionou.

João sentiu-se deprimido de repente.

Pedro queria fofocas de celebridades? Por isso que ele veio?

- Não. Não é remotamente verdade.

Pedro o observava com curiosidade, como se quisesse dizer mais, mas sem saber muito bem como se expressar. Ele olhou para baixo novamente.

- Foi estranho ler os e-mails de novo. - ele disse suavemente. - Tentando inserir o pensamento de você onde a minha imagem de Jão costumava estar...

João esperou, seu coração batendo fortemente em seu peito.

- E não foi difícil. O que era estranho, porque eu não o conheço muito bem. Mas você sempre foi tão vago sobre tudo nos e-mails... - Pedro olhou para cima novamente. Ele tomou uma respiração profunda. - Por que você me disse que era gay?

A franqueza da pergunta pegou João de surpresa e ele hesitou. Pensamentos paranóicos correram através de sua mente. Se esta conversa acabasse no YouTube, ele nunca iria perdoar a sua própria estupidez. Ele não tinha nenhuma razão para confiar nessa garoto. Nenhuma razão. E ele mesmo assim disse.

- Porque eu sou.

Pedro olhou para ele.

- Mas por que você me disse? Por que você confiaria em mim com isso?

João suspirou, relaxando um pouco.

Ele não aguentava mais ficar de pé, estava começando a se sentir tonto. Então ele foi até a escada e subiu passando por Pedro. Ele sentou-se dois degraus acima dele, obrigando o artista a se virar.