Sete Canções Para Annelise, Amanda Condasi

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Importante: as histórias ainda estão sendo editadas e revisadas. O conteúdo disponibilizado aqui é um rascunho e pode sofrer alterações. 

Canção 1

Meus pés não se movem
Embora eu pareça já estar muito atrasado
Eu sinto raiva do mundo inteiro
(00:00 - BTS)

Anne

Meu corpo todo dói. Sinto que corri uma maratona, uma queimação que vem da panturrilha e vem subindo por toda a minha perna. Ao mesmo tempo, meu coração está palpitando e sinto a falta de ar, como um soco invisível na boca no estômago. Perco um pouco de equilíbrio e me escoro na parede, sentindo como se tudo fosse desabar e me engolir. Quando vejo, estou sentada no chão, ainda sentindo tudo doer, ainda sem respirar direito e com muito medo. Não aguento mais me sentir assim. Sufocada, infeliz, triste. Olho para cima e não vejo nada. Um vento gelado me abraça e tento me desvencilhar, já sabendo o que pode vir depois.

Não consigo, ele é mais forte e me aprisiona. Me debato e sinto o aperto me sufocar mais do que tudo. Não consigo sair. Vozes tremulantes, como espíritos, vagam lado a lado e repetem a todo momento o quão fraca e insuficiente sou. O aperto começa aos poucos a ganhar forma, enquanto me debato. Braços brancos e pálidos agora sobem pelo meu rosto, e uma mão gelada, acompanhada de unhas grandes, me arranham. Sinto dor e parece sangrar. As vozes continuam, e o coro parece aumentar. Meu coração parece que vai sair pela boca e quando não tenho mais forças, sou abatida pela escuridão.

Meu grito é a primeira coisa que chega aos meus ouvidos quando desperto. A testa gelada, mesmo no calor infernal, é algo que percebo quando volto a tomar consciência do meu corpo. Pego o celular embaixo do travesseiro e vejo a hora. 03:13 da madrugada. Mais um pesadelo, daqueles que parecem mesmo a realidade. Hoje completa uma semana que não consigo dormir em paz. Tenho vontade de chorar só de pensar em dormir de novo e cair na realidade daqueles braços, vozes e unhas me machucando. A ansiedade por não estar satisfeita com meu futuro parece ganhar vida e se faz presente nos meus sonhos. Levanto da cama, usando o celular como lanterna e vou até a cozinha. Bebel, minha gatinha laranja, está deitada em uma das baquetas do cômodo e nem ao menos se mexeu quando cheguei.

Encho um copo e bebo tudo em um gole só. Tento controlar a respiração e no que fecho os olhos, me vejo novamente naquele lugar escuro e perseguida por algo sem forma. Vasculhei os armários em busca do meu remédio para dormir, uma vitamina natural que foi manipulada para mim. Enfio dois comprimidos na boca e bebo mais água. Não fazia uso dela há meses, mas, nessa uma semana sendo atormentada por sonhos tive que recorrer.

Encho meu copo mais uma vez e volto até o quarto. A escuridão não me assusta tanto, repito mentalmente que isso foi só um pesadelo, logo vai passar e não é a realidade. A manta fina me abraça e me sinto embalada pelo sono, como se estivesse no colo de Morfeu. Quando percebi, já estava mergulhada em um sono profundo.

***

Sinto algo macio apertar minha bochecha enquanto abro os olhos. Bebel, que não sabe o significado de espaço pessoal, me acorda. Agarro seu pescoço, dou um beijinho e me levanto na cama, rumo à sala. Abro a janela para arejar a casa e sinto um vento gelado entrar, sinal que o tempo está mudando. Sento no sofá e fico observando o céu, com as nuvens indo e vindo, e lembro do pesadelo. Já virou rotina não ter uma boa noite de sono e quando consigo dormir sem ajuda dos remédios, sou atormentada por sonhos nada bons.

Acho que tudo começou quando tranquei a faculdade para cuidar da minha saúde física e mental. Não estava em condições de sustentar essa responsabilidade e eu nem sei se ainda gosto de Jornalismo. É muita crueldade ter que jogar no colo de um adolescente a decisão de escolher a profissão que vai seguir o resto da vida.

Magic Book (RASCUNHO - PRÉVIA EXCLUSIVA)Onde histórias criam vida. Descubra agora