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CAPÍTULO DEZOITO



No meu escritório, reorganizei as pilhas de papel mais uma vez. Alinhei as pastas, posicionei-as de modo que ficassem em ângulos perfeitos em relação à lateral da mesa. Inspecionei o vaso de flores e retirei três pétalas de rosas, que se mesclavam com varas-de-ouro.

Jillian chegaria a qualquer momento.

Assim como Yibo e eu tínhamos passado o nosso primeiro fim de semana na nossa casa nova, ela e Benjamin passaram ajeitando a casa deles depois do longo período fora. Jillian tinha me avisado por mensagem que eles tinham chegado, e nós  combinamos de nos encontrar no trabalho na segunda-feira. Era chegada a hora de devolver a chave do castelo.

Eu tinha adorado brincar de Jillian por alguns meses. Tinha durado mais tempo do que eu planejara, mas foi uma amostra do que seria a vida dali a uns anos. Eu sempre me vi como parte de um time, e a minha função atual era exatamente o que eu ambicionava. Eu tinha lidado bem com a responsabili-dade adicional, mas será que no fundo eu era um gerente de verdade? Não. Eu queria administrar um negócio ou simplesmente criar ambientes lindos e encantadores para uma família ou mesmo para uma empresa?

Eu era um designer de interiores. E queria continuar sendo uma designer de interiores. Assim, eu devolveria as chaves, Jillian me parabenizaria pelo trabalho brilhante, não resistiria a me dar um puxão de orelha pelo carpete do terceiro andar, por mais que soubesse não ter sido minha culpa, e tudo voltaria ao normal.

Sim? Sim.

Escutei a voz dela antes mesmo de vê-la. Aquela voz capaz de fazer qualquer um titubear ou dançar. Esperava que fosse dia de dança.

– Cadê aquele garoto? Cadê a Xiao Zhan ? – eu escutei conforme ela se aproximava da porta do meu escritório.

Sorri, me levantando para ir até a porta.

Jillian flutuou sala adentro, bronzeada, saudável, radiante. Ela literalmente brilhava.

– E aí, chefinha? – perguntei, e ela me deu um abraço apertado.

– Que bom te ver, Zhan. – Ela me afastou um braço de distância e me examinou. – Você parece cansado. Mas eu tenho a cura pra isso. – Ela me entregou uma bolsa enorme.

– O que é isso? – indaguei, colocando a bolsa na mesa.

– Presentes, claro! Da França, da Suíça… Tem bugiganga de todos os lugares.

– Esta é a parte em que eu falo: “Ah, Jillian, não precisava”? – Espiei uma caixa no topo da bolsa. Nela, se lia… Não. Não pode ser. Hermès? – Jillian, não precisava! – Eu suspirei, abrindo a caixa com cuidado. Um lenço de seda. Salmão e vermelho-sangue, permeado por detalhes cor de ranúnculo. – Não precisava, mas eu estou tão feliz! – guinchei e dei pulinhos.

– Era o mínimo que eu podia fazer. Agora, me mostra o terceiro andar. Depois que resolvermos isso, vamos almoçar e você me atualiza sobre tudo.

Na nossa mesa favorita do nosso restaurante favorito em Chinatown, comemos lámen de bifum. Eu me senti deleitado só por tê-la de volta. Ela me contou histórias da viagem, as quais absorvi tão rapidamente quanto o chá-verde. Palácios, castelos, iates, grandes restaurantes, pequenos bistrôs. O romance, a aventura – tudo parecia mágico.

– E Nerja… meu Deus, nem te conto! Você sabe o quanto aquele lugar é lindo? Eu não queria ir embora – ela contou.

– Eu sei, parece um pedacinho do paraíso! – Eu suspirei ao lembrar a viagem com Yibo.

Eu tinha ido para lá já um pouco apaixonado por ele, e aquela viagem só consolidou as coisas. Vê-lo trabalhando, descobrir um lugar novo com ele, viver tudo o que aquele cantinho do globo tinha para oferecer, totalmente imersos no momento. Eu tinha me apaixonado completamente por Yibo ali. Nerja sempre terá um lugar especial no meu coração.

– E a comida! Não sei como consegui passar na porta do escritório de tanto que comi! – Jillian exclamou, e eu a olhei dos pés à cabeça.

– Você está fantástica, como sempre.

– Por falar em fantástico, quando eu vou conhecer a casa nova? Não acredito que somos vizinhos!

– Ah, a casa está uma zona agora. Mas você sabe como é, já passou por isso.

– Nem me fala, a pior coisa que existe é morar dentro da reforma. Mas vale a pena no final.

– Estou tentando me convencer disso.

– Fiquei surpresa quando você me contou. Achei que Yibo adorava a cidade – ela comentou, me observando com certa cautela.

– Acredite, ninguém ficou mais surpreso do que eu quando ele veio com essa ideia maluca. Mas Yibo se adaptou a Sausalito mais rápido do que eu imaginava. Ele realmente ama aquele lugar. Eu também.

– O Benjamin me contou que ele está de férias…?

–  Mais ou menos isso. Ele cancelou alguns trabalhos. Quer estar aqui durante a reforma. Mas, quando vir o quanto a coisa pode ser insuportável, ele vai fugir pra Bali ou Madagascar – eu brinquei, fitando o fundo da minha tigela de sopa. E evitando o olhar de Jillian. – E aí, depois daqui, você quer passar no Claremont pra ver como estão as coisas?

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– Meu Deus do céu, a coisa está feia!

– Feia é pouco. Quanto ele pagou nesse fogão verde-vômito?

– Com certeza ela vai se livrar dele. E não foi ele que pagou. Foi o Yibo.

– É mesmo. Deve ser bom namorar o senhor Carteira Aberta. Mas por que uma casa tão grande?

– Ah, pensa um pouco! Hoje eles são dois, mas daqui a um tempo…

– Não é porque você planeja engravidar no ano que vem que todo mundo pensa igual!

– Ah, para de ser estraga-prazer, sua cocozenta. Olha essa vista!

– Só vejo ervas daninhas.

– Sério, não acredito que você…

– Pollyanna, amiga, eu só acredito no que eu vejo, e eu acho que…

Parado sob o batente da porta, apenas observei as minhas duas melhores amigas. Pigarreei, e elas congelaram, prendendo a respiração.

– Desculpa, Xiao Zhan , a gente só estava comentando que… – começou Mimi, e eu ergui uma mão.

– Eu escutei tudo que vocês disseram. Continuem. Me avisem quando quiserem o tour completo… Ou eu posso sair e deixar vocês à vontade pra se pegarem. Já estou bastante familiarizada com as preliminares das duas.

Sophia bufou e apoiou a bolsa em um dos cavaletes.

– Ok, Xiao, apresente-nos seu novo barraco.

E eu as conduzi por um tour completo pela casa nova. A minha casa nova. A nossa casa nova. Que neste momento era uma zona de guerra.

Além dos cavaletes, tinha escadas, gesso, máquinas de polir, latas de tinta, lonas e, sim, aparelhos verde- vômito. Para ser sincero, quando fabricados, esses itens foram classificados como abacate. O que era uma ofensa ao abacate.

A experiência tinha me ensinado que, por mais dinheiro que um cliente tenha, por mais mão de obra que ele contrate, por mais criativo que seja o arquiteto ou habilidoso o designer, sempre haveria contratempos. Contratempos que eu simplesmente deixava para trás no final do expediente.

Mas agora eu vivia com eles. Todo santo dia. E com Yibo, que estava levando tudo muito mais na boa do que eu. Ele nunca tinha feito algo assim antes, porém estava determinado a ajudar o máximo que podia. Até comprou um cinto de ferramentas que, aliás, lhe caiu maravilhosamente bem. Se eu o fiz posar para mim usando o cinto e nada além do cinto? Talvez. Um pouco.

A inspeção da construção tinha revelado mais problemas do que eu imaginava ser possível. Embaixo da superfície, havia madeira sim, só que podre. E vazamentos. E canos enferrujados. Vigas de piso precisavam ser substituídas, a laje de concreto do porão, provavelmente derrubada. Um golpe atrás do outro. Tudo era perfeitamente executável, mas demandava tempo. E dinheiro.

Eu tinha contratado um arquiteto com quem havia trabalhado antes; nós traçamos os planos, chamamos um empreiteiro, e as paredes começaram a vir abaixo. Estávamos reconfigurando todo o layout do andar de baixo, aumentando a entrada de luz, abrindo corredores e criando um ambiente mais amplo sem comprometer o projeto original da casa. Não existe nada pior no meu manual de designer do que uma casa vitoriana por fora e ultramoderna por dentro.

A coisa estava uma loucura neste momento, porém eu sabia que ficaria linda. E a obra caminhava num ritmo alucinante, contando com mais trabalhadores do que o normal, para ficar pronta mais rápido.

É incrível o que você consegue fazer quando tem dinheiro e pressa – duas coisas que Yibo parecia possuir de sobra quando o assunto era a casa. Voltar a fotografar? Hum, não. Mas vamos deixar esse abacaxi para lá e nos concentrar nesta maravilhosa casa antiga.

Embora “nós” a tenhamos comprado, usar o pronome nós é forçar um pouco a barra. Eu jamais teria condições de bancar uma casa como esta, avariada ou não. Estava localizada numa área privilegiada, possuía uma vista incrível, ocupava um terreno gigantesco num bairro estabelecido. Eu não me sentia confortável com o fato de Yibo estar pagando tudo, independentemente de quanto ele possuísse guardado. Por isso, tinha insistido para que a casa ficasse apenas no nome dele e eu contribuísse com as despesas mensais. Yibo me ofereceu uma quantia enorme para o design, e, embora eu me sentisse meio culpado ao ver as faturas, tenho de admitir que estava gostando de ter um namorado rico.

Pronto, falei. Pode revogar a minha carteirinha de ômega independente. Pode retirar o meu… ah, o que quer que se retire quando um ômega admite gostar de coisas boas. Eu estava prestes a ter a casa dos meus sonhos, com o homem dos meus sonhos. E fazia questão de recordar isso a mim mesmo toda vez que tropeçava num balde ou removia serragem do meu sanduíche ou ficava tenso sempre que Yibo recusava um trabalho… Olha o abacaxi de novo.

Além da reforma na minha própria casa, eu estava na fase final no Claremont, o que preenchia os meus dias. Jillian tinha visitado todos os projetos nos quais eu trabalhei durante a sua ausência; tinha passado um pente-fino nos registros contábeis; testou JiLi a ponto de eu ficar com medo pelo meu estagiário… para depois dizer que eu havia feito um trabalho incrível. Eu falei que ela poderia demonstrar isso no meu bônus trimestral, o que ela fingiu não escutar. Mas ela iria demonstrar, eu sabia.

Agora, Jillian estava passando boa parte do tempo em reuniões com os seus advogados e contadores, o que me deixava livre para dar os retoques no hotel. A festa de lançamento estava próxima, e nós estaríamos prontos para exibi-lo a todos de Sausalito.

Eu me concentrei na espada que estava apontada para a minha cabeça naquele momento, e não no abacaxi que dormia ao lado. Porque nem era um abacaxi de fato. E daí que ele não estava trabalhando? Yibo tinha bastante dinheiro, ele não precisava trabalhar. (Então, por que esse abacaxi me incomodava tanto?)

Pft. Deixa para lá. Eu tinha um tour para fazer.

Conduzi as minhas duas amigas pela casa, explicando nos mínimos detalhes cada acabamento e textura escolhidos, dando uma ideia de como tudo se harmonizaria quando a reforma estivesse completa. Nenhuma das duas comentou o fato de que havia uma privada na minha sala de jantar, pelo que sou muito grato. Deixei a melhor parte por último e, quando abri as portas francesas do quarto principal, eu vi uma mobília lustrosa e um assoalho de carvalho polido, montes de travesseiros e a baía azul nos espreitando através das cortinas. O que elas de fato viram foram vigas de madeira e fios amarelos pendendo do teto – e aquele maldito colchão inflável. Mas, quando ambas puseram os olhos na banheira vitoriana, até Sophia se rendeu.

– Puta que me pariu, Xiao Zhan ! – ela exclamou, sentando-se na borda. É a maneira dela de se render.

– Vocês precisam entrar nela, não fazem ideia do quanto é funda! – Eu me sentei na beirada oposta e vi os olhos de Sophia se arregalaram quando ela se deu conta do quanto aquela banheira era luxuosa. E eles se arregalaram ainda mais quando eu deixei as minhas pernas penderem sobre o fundo.

– Vai ficar incrível quando estiver pronta. Quanto tempo pra terminar tudo? – perguntou Mimi.

–  Se continuar assim, vamos terminar antes do prazo, mas tenho até medo de dizer isso em voz alta. Vai saber o que mais pode surgir? – Como a fiação interna que precisou ser arrancada, o assoalho podre do andar de baixo e o fantasma que habitava o porão. Tecnicamente, o fantasma era uma família de texugos que tinha sido realocada em um local de preservação natural, mas isso não importava.

– Preciso admitir que nunca pensei que vocês dois seriam os primeiros a comprar uma casa no subúrbio. Como o Yibo está lidando com toda essa mudança? – perguntou Sophia, agora dentro da banheira comigo.

– Ah, ele está se divertindo. Ontem, passou uma hora testando qual era a melhor medida de lixa pra usar na bancada da cozinha. E nem conto a felicidade dele com as marcações de giz que o pessoal da reforma fez pra demarcar a nova passagem da cozinha! Tinha marca de giz azul por todos os lados. Eu tive que seguir as pegadas de giz pra achar o Yibo.

Eu não podia reclamar, podia? Quem não gostaria de ter um namorado determinado a construir a casa mais perfeita do mundo? Além disso, depois que o encontrei, ele me fez esquecer as pegadas rapidinho. Bastou me mostrar o cinto de ferramentas.

Contudo, nem o cinto bastara para tirar O do seu esconderijo temporário. Era temporário, certo? Bem, era difícil entrar no clima quando havia uma camada de poeira de gesso cobrindo tudo o que se encontrava pela frente, mas mesmo assim… Nem o cinto de ferramentas estava adiantando.

Se visse He Peng na minha frente de novo, eu castraria o maldito.

Agora, falando sério, era temporário. Sim? Fazia alguns dias que eu vinha evitando transar com Yibo, algo que eu nunca tinha feito. Ele estava começando a desconfiar. E eu, a me frustrar. Mesmo agora, eu sentia a tensão se formando no meu corpo.

Por que ele estava recusando trabalho?

Ops, tensão errada.

Era por isso que eu precisava parar de encanar com esse abacaxi.

– Ainda bem que a gente decidiu procurar uma casa só depois do casamento. Seria muito estresse fazer isso junto com os preparativos. Além do quê, não quero viver no pecado. Você vai arder no inferno, Xiao Zhan ! – Mimi falou, com um olhar perverso.

– Onde vocês pretendem morar? – eu indaguei, me aconchegando mais no fundo da banheira enquanto Mimi cruzava as pernas no parapeito da janela (um parapeito na janela do banheiro? Afe!) e observava a vista.

– Acho que vamos ficar na cidade por enquanto, embora eu entenda muito bem a tentação de mudar pra cá. – O terreno era ladeado por árvores, e algumas que ficavam no fundo tinham sido removidas para permitir a vista para a baía. A casa era isolada, embora não estivéssemos longe dos vizinhos. Luzes douradas a iluminavam, e o silêncio reinava. – Mas eu aposto que a Sophia jamais deixaria a cidade. – Mimi se virou para nós duas.

Sophia não respondeu de imediato, e foi aí que percebemos as lágrimas.

– Ei, o que foi?

– Nada – ela sussurrou, revirando os olhos ao ver que Mimi se aproximava da banheira.

– Não vem com essa. O que aconteceu? – eu perguntei, me esforçando para sentar ereta e assim poder olhá-la nos olhos. A banheira era funda mesmo.

Sophia soltou uma risada, e outras duas lágrimas caíram.

– Eu quero uma banheira vitoriana, porra!

Mimi a puxou para a frente e escorregou atrás dela na banheira, jogando os seus bracinhos minúsculos ao redor de Sophia.

– Tem certeza de que é só por causa da banheira?

– Sim. Não! Droga. Preciso falar?

–  Você queria que o Neil estivesse na banheira com você? – Eu peguei um lenço na minha bolsa e o entreguei a ela. Ela assoou o nariz ruidosamente.

– Sim. Eu me odeio por dizer isso, mas sim. – Ela olhou ao redor da banheira, depois riu. – O pior é que ele nem caberia aqui, aquele cretino. Ele é muito alto. – Ela assoou o nariz de novo. – Sinto tanta saudade dele. Eu contei que ele não me liga mais? Parou de ligar.

Ela fungou uma fungada de respeito, então ergueu a cabeça com determinação.

– Eu acho… eu acho que preciso ligar pra ele. Vou ligar pra ele – Sophia afirmou e esticou o braço para alcançar a sua bolsa.

Mimi e eu trocamos um olhar.

– Miga, tem certeza? – eu questionei, agarrando a bolsa dela e mantendo-a fora do seu alcance. Impulso + ex = nem sempre dá certo.

– Como assim? Vocês vivem dizendo que eu devo falar com ele.

– Sim, Sophia! Liga! Liga! Liga! – Mimi encorajou, sempre bancando a princesa da Disney.

Entreguei a bolsa a Sophia e cruzei os dedos. Ela nunca tinha dado o braço a torcer como naquela hora. E se não funcionasse, mesmo depois de Sophia colocar o dela na reta? Cruzei não apenas os dedos das mãos, mas os dos pés também.

Sophia pegou o celular, então hesitou. Começou a digitar, então parou.

– Talvez seja melhor pensar melhor antes de… – eu comecei.

– Ah, se liga, Xiao Zhan ! Deixa ela ligar pra ele! – Mimi gritou. – Liga – ela sussurrou na orelha de Sophia, como o melhor tipo de fada madrinha. Ou seria bruxa?

Sophia respirou fundo, percorreu os seus contatos e selecionou o nome dele. A foto na tela a fez sorrir. Neil, coberto de Gatorade numa partida do San Francisco 49ers, depois de ter se empolgado um pouco demais com uma vitória emocionante. Esse era Neil. As pessoas o amavam. Por isso, ele era o comentarista esportivo mais famoso da região da baía, talvez de toda a Costa Oeste.

Talvez fosse uma boa ideia, afinal de contas. Ele ainda arrastava as asas por Sophia, e, com base nas histórias que ela tinha contado sobre ele entre quatro paredes, não eram só as asas que ele arrastava!

Enquanto o telefone chamava, amplificado pela acústica de porcelana da minha banheira, nós três ficamos grudadas uma na outra.

Tocou três vezes, então alguém atendeu. Uma mulher… ofegante. Em seguida, ouvimos Neil dizendo:

– Ei, me dá esse telefone, vai? – E uma risada. Sophia desligou.

Ninguém disse uma palavra.

– Uau – murmurou Sophia, apoiando o corpo em Mimi. – Eu esperei demais, não foi?

– Talvez? – eu me permiti dizer.

Ela suspirou longamente, depois assoou o nariz mais uma vez. Nenhum palavrão. Nenhum grito. Nenhum acesso de raiva. Tudo isso seria melhor do que esse silêncio perturbador.

O celular dela tocou, e a cara de Neil apareceu na tela. Ela arremessou o aparelho contra a parede do outro lado do banheiro, e ele se quebrou com o impacto.

Mimi apertou Sophia entre os seus bracinhos minúsculos.

– Xiao Zhan ? – Sophia disse, a voz abafada pelo lenço.

– Sim?

– Odeio sua banheira.

– Eu sei, miga – disse, me virando e me apoiando nela.

Eu e Mimi a apertamos tal qual um panini. Passei a Sophia a caixa de Kleenex enquanto Mimi começou a fazer uma trança no cabelo dela. Nós três na minha banheira do século passado, o sol se pondo a distância.

Quando  Yibo  chegou  em  casa  e  nos  encontrou, sabiamente não disse uma palavra sequer. Nem quando foi empurrado por Sophia.

Antes de ir para a cama naquela noite, escutei Yibo ao telefone com alguém de uma revista para a qual ele tinha trabalhado por anos. Estavam oferecendo um trabalho na Groenlândia, propagandeando as piscinas naturais e as termas primaveris que atraem milhares de turistas todos os anos. Yibo adorava a Groenlândia; era um dos seus lugares preferidos.

Ele recusou a oferta.

Um milhão para quem me ajudar a lidar com esse abacaxi.



(....)



Amor entre as paredes ( livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora