🌸capitulo 1🌸

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16 de janeiro de 2010, Em São Paulo.

Aurora acordou na manhã de seu aniversário de dez anos com um brilho de expectativa nos olhos. Ela se esticou sob as cobertas, permitindo que um sorriso se espalhasse por seu rosto ao imaginar o dia especial à frente. Mas, conforme as horas passavam, esse brilho foi se apagando, substituído por uma sombra de desapontamento.

Ela desceu para o café da manhã esperando ser recebida com abraços e felicitações, mas encontrou apenas o habitual burburinho matinal. Seus pais estavam enredados em suas rotinas diárias, e não houve menção ao dia que deveria ser uma celebração dela. Aurora sentiu um aperto no coração, uma sensação de ser invisível mesmo estando em plena vista.

Na escola, ela esperava que seus amigos lembrassem, mas a data parecia ter se perdido para todos, exceto para ela. Cada “Feliz Aniversário” que não era dito pesava como chumbo em seus pequenos ombros. Ela se perguntava se talvez tivesse esperado demais, se talvez aniversários fossem algo que apenas crianças pequenas celebrassem com entusiasmo.

Aurora voltou para casa com os ombros caídos, arrastando os pés em um ritmo que refletia sua tristeza. Ela se refugiou em seu quarto, olhando para o calendário onde a data estava circulada em vermelho vivo. Lágrimas brotaram em seus olhos, não apenas pela ausência de um bolo ou presentes, mas pela sensação de que um pedaço de sua infância havia sido esquecido, deixado para trás como uma folha levada pelo vento.

Ela se sentia sozinha, uma ilha em um mar de indiferença. O silêncio de sua casa parecia gritar em seus ouvidos, cada tique-taque do relógio um lembrete do que não foi reconhecido. Aurora deitou-se em sua cama, abraçando seu ursinho de pelúcia, o único confidente de seus sentimentos naquele momento.

A luz do sol inundava o quarto de Aurora, banhando cada canto com um brilho dourado. Ela estava sentada na cama folheando as páginas de um álbum de fotos, quando dois estampidos secos romperam a tranquilidade do dia. Vieram da cozinha, um lugar onde a luz do sol não deveria permitir segredos sombrios.

Com o coração batendo contra o peito, Aurora deixou o álbum de lado. O silêncio que se seguiu aos tiros era ensurdecedor, como se o mundo estivesse prendendo a respiração junto com ela. Ela se levantou, a cama rangendo em protesto, e caminhou em direção à porta.

O corredor estava banhado em luz, mas isso não diminuía a sensação de algo errado no ar. O familiar aroma de café da manhã foi substituído por um cheiro metálico que ela não conseguia identificar. A cozinha estava a apenas alguns passos de distância, mas cada passo parecia levar uma eternidade.

Ela alcançou a entrada da cozinha, a porta da casa estava arrombada, a mão hesitante no batente da porta. O som de pratos sendo empilhados ou de água correndo seria bem-vindo, mas só o que ela ouvia era o zumbido do refrigerador e o tique-taque do relógio na parede.

Aurora respirou fundo e entrou na cozinha. A luz do dia revelava tudo, não havia sombras para esconder o intruso ou o perigo. Mas o que ela viu a fez parar em seco. Duas cápsulas de bala jaziam no chão de azulejo. Aurora sentiu uma gota de suor escorrer pela têmpora. O dia estava quente, mas o frio do medo era mais intenso. Sua mãe é seu pai estavam caídos no chão, mortos, suas cabeças estavam completamente estouradas.

Aurora, ainda trêmula, voltou seu olhar para a mesa. Lá estava um bolo simples, coberto de sangue, com uma única vela em forma de número dez cravada no centro, a chama tremulando como se estivesse compartilhando seu medo. As paredes, antes nuas, agora estavam adornadas com letras de papel colorido que formavam as palavras: “Feliz Aniversário, Filha!”.

LOVE ME: Um Quarteto ProblemáticoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz