ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ𝗢 𝗔𝗧𝗥𝗔𝗘𝗡𝗧𝗘 𝗖𝗔𝗢𝗦 𝗗𝗔
ㅤㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤㅤ𝗧𝗘𝗠𝗣𝗘𝗦𝗧𝗔𝗗𝗘
ㅤㅤㅤㅤ ㅤ (marionetes anarquistas #1)
Ele não sabe quem ela é.
Ela o odeia por sua ousadia.
Ele está obcecado pelo seu fantasma.
Ela não quer sua atenção.
Um jogo de gato e rato, e...
Me prenda em uma jaula Meu coração está cheio de fúria É um bom dia para meus amigos E um dia ruim para meus inimigos
—— bad day for my enemies,
Adam Jensen
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Todos nós já passamos por aquele momento da vida que a chave gira em nossa cabeça, em que percebemos que houve uma ruptura dentro de nós, aquela que divide a gente em duas partes, quem fomos antes do acontecido e quem seremos depois do que aconteceu. A minha ruptura veio após minha mãe gritar em meu rosto, o rosto de uma criança de oito anos e dizer que eu era o próprio demônio encarnado, que eu era uma fera, um monstro que ela desejava ter morrido no parto invés de ter dado a luz.
Ela me disse com toda a clareza do mundo que se soubesse que estava dando vida a um demônio como eu, teria me matado antes que eu crescesse em seu corpo.
Papai nunca veio ao meu consolo, mesmo depois de ouvir sua esposa dizer tudo isso sobre o seu filho primogênito, meu pai nunca se posicionou ou, me ajudou. Tudo que ele me disse era que mamãe estava com abstinência dos remédios que tomava e que eu deveria ser bonzinho com ela, mesmo que ela me ferisse, mesmo que ela me tratasse feito merda em seus saltos caros, eu ainda deveria ser bom com ela, independente de tudo.
Eu sempre entendi que era diferente das outras crianças, que não me encaixava nas normalidades desse mundo, já que enquanto as crianças gastavam seu tempo tentando entender quebra-cabeças, eu estava louco para desvendar as entranhas de um coelho, assistir como seu coraçao bate e ver o tom de vermelho que seu sangue possui.
O que eu não sabia, era que essa minha anomalia era vista como uma maldição, como um presente direto dos demônios que queimam no inferno. Só tive essa percepção quando a ouvi gritar isso em meu rosto com tanta convicção que eu jamais esqueci a densidade de suas palavras e até hoje, elas estão instaladas em mim, em minha cabeça, em minha carne e principalmente na minha alma, me atormentando com a realidade de que deveria estar morto invés de estar caminhando livremente por esse mundo.
Olho o meu reflexo no espelho a minha frente, o vapor causado pela água quente do chuveiro, embaçando a minha própria imagem, me resumindo a um borrão. Não estou vestindo nada, há apenas uma toalha branca em volta da minha cintura cobrindo a minha intimidade, os fios molhados do meu cabelo loiro médio caem sobre os meus olhos, tampando ainda mais a minha visão. Passo minha mão já gelada sobre o espelho, trazendo a nitidez para a minha figura retratada no reflexo do vidro. Penteio meus cabelos com os dedos, jogando as mechas loiras para trás.
A tatuagem escrito "até jesus é um pecador e eu sou como ele" grita por atenção, bem convicta no meu peito. A tinta preta se espalha perfeitamente cicatrizada em minha pele no formato das letras do alfabeto russo, sendo algo que nunca poderá ser arrancado ou apagado de mim, é a minha marca registrada, uma das poucas coisas de valor que me pertencem.