Rebeca - Parte IV

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Quando Rebeca saiu, se armou com o mesmo machado que havia usado anteriormente, mas dessa vez não vestiu sua capa, pois aquele desafio a princesa fazia questão de enfrentar sem se esconder. Antes de chegar ao portão de saída do castelo, ela encontrou Ülv.

- Bom dia, Vossa Alteza. É assim que devo lhe chamar? Mesmo que seja minha noiva? - ele cumprimentou a princesa, que estava decidida a ignorá-lo, mas não conseguiu.

- Nós não somos noivos ainda.

- "Ainda" é a palavra chave - ele riu. - Posso lhe perguntar aonde está indo?

- Eu vou trazer a cabeça da bruxa para a rainha e convencê-la a poupar a vida do meu pai - sem saber porquê, não se sentiu na necessidade de esconder isso. Estava tão brava e determinada, pensando tanto naquilo, que dizer em voz alta era uma forma de liberar o turbilhão de sua mente.

- Existe uma bruxa também? - a frase lhe tinha soado estranha, pois ele não estava atualizado sobre o assunto.

- A bruxa da discórdia é alguém que já causou muito dano à minha família, ela é a mãe do monstro de Tordos e deseja vingança contra quem matou seu filho. Todos acham que é você, mas este fardo é meu.

- Você pode ser a princesa de Querates, mas é a rainha das ideias ruins - mais uma vez Ülv debochou da princesa e ela continuou séria. - Mas agora entendo. A rainha me convidou para ter comigo, eu estava a caminho agora mesmo - ele disse, pensativo, assimilando o que havia acabado de ouvir. - Mas tem uma coisa que não entendi. O que o seu pai tem a ver com a bruxa? - ele perguntou e Rebeca permaneceu em silêncio. Não estava confortável em compartilhar essa parte do ocorrido, ou nem sequer pensar nisso.

- Não tenho tempo para suas perguntas, tenho que ir - esquivou-se da pergunta e foi andando, mas Ülv a seguiu. - Não devia estar indo ver a rainha? - Rebeca perguntou tentando se livrar da companhia indesejada.

- De maneira alguma, não posso permitir que vá sozinha nessa missão. - A princesa revirou os olhos, mas seguiu andando. Vigiando o portão havia dois guardas que Rebeca conhecia desde a infância e com quem nunca teve problemas, mas eles se colocaram a sua frente e a impediram de passar.

- Bom dia, Vossa Alteza. Sinto muito, mas desde o incidente nós não temos permissão de deixá-la sair sem ordens expressas da rainha. - Antes que Rebeca pudesse responder, de repente Ülv já havia dominado o guarda e quebrado o seu braço, o outro tentou sacar a espada, mas o guerreiro foi mais rápido e lhe desferiu uma joelhada na barriga e um soco no rosto.

O outro guarda, mesmo com o braço quebrado, também tentou empunhar sua espada, ainda que com sua mão menos dominante, e dessa vez foi Rebeca que, em pânico, o estapeou sem pensar. Com os dois guardas derrotados, Ülv abriu o portão e saiu junto à Rebeca.

- A princesa não conseguiria sair do próprio castelo se não fosse por mim, mas acha que conseguirá derrotar a bruxa? - Ülv perguntou, e por trás do seu desdém havia uma genuína preocupação.

- Eu preciso ao menos tentar. - Rebeca tinha medo, assim como havia sentido medo em Tordos, mas apesar de não admitir em voz alta, a presença de Ülv a tranquilizava. Existia honra e bravura naquele homem tosco e ele parecia ser leal, mas nisso se recusou a acreditar, pois achava o mesmo do próprio pai e estava enganada.

O local indicado no mapa não era muito distante, mas era afastado de qualquer cidade, adentrando na floresta e seguindo uma trilha até uma clareira muito bonita, que exalava um ar puro, mas que logo começou a exalar uma energia pesada. Quanto mais se aproximava, mais tensa ficava Rebeca e os pêlos do seu braço se arrepiaram sem motivo, antes mesmo que ela visse que a bruxa já estava lá.

Se vestia de preto e tinha também os cabelos e as asas negras, asas negras que eram consideradas mau presságio em Querates desde a sua primeira aparição, mas que já eram temidas pela família de Rebeca desde muito antes, por conta do velho abutre que também possuía a mesma característica. Negras também eram as asas do corvo que assustou o cavalo em que estava Virgínia com seu irmão, que faleceu naquele dia, e a cidade de Tordos, de onde vinha o monstro, tinha esse nome por conta da abundância de tordos negros na região.

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