Meus pés começam a doer e nada da luz voltar. Isso vai levar quanto tempo?
Minhas pernas queimam de dor e o jogo do homem sentado é chato pra caralho.
— Você pode abaixar o som dessa merda? — Digo já cansada do som que o celular fazia sempre que pulava de fase.
— Está incomodada, princesa?
— Você é sempre chato? — Me rendo ao cansaço e sento no chão, descansando a cabeça na parede de aço.
O de moletom da uma leve risada e desliga o celular, pousando as mãos na perna. E agora o elevador está num completo breu.
— Qual seu nome, esquentadinha?—
— Se eu te falar você para de me dar apelidos? — Pergunto sem olhar para o seu rosto.
— Talvez, se o seu nome me agradar..
— Presunçoso.. — Murmúrio apenas para mim, e viro o rosto de frente para o seu. Mesmo que fosse quase impossível de ver seus olhos naquela escuridão eu tinha certeza que ele também me olhava
— Vou fingir que não escutei e vou voltar a esperar você me dizer seu nome.
— Camilla, com dois L. — Levanto as sobrancelhas.
— Ok, Camilla com dois L. Meu nome é Rafael, com um L só.
Sua piada me faz rir, e tapar o rosto com as mãos.
— Olha só! Ela sorri. — Ele diz fingindo surpresa após escutar o som da minha risada.
— É óbvio! Achou que eu fosse uma velha rabugenta?
— É o que parecia até uns 2 minutos atrás. — Sua fala me faz revirar os olho, sorte minha que está escuro.
— Por que veio morar pra cá? — Pergunto cortando os segundos de silêncio que se instalaram no elevador.
— Foi minha única opção. O aluguel do meu apartamento antigo aumentou e eu precisava de um lugar mais barato.
Sua voz era calma, e falou daquilo com uma tranquilidade que me assustou.
— E veio parar nesse fim de mundo... boa sorte. — Ouço uma risada leve sair de seus lábios.
— Por que odeia tanto aqui?
— É um jogo de perguntas agora?
— Só estou querendo saber um pouco mais da pessoa que tá presa comigo numa caixa de metal.
— E depois me sequestrar, saquei seu plano.. — Finjo uma voz de suspense.
— Deixa de ser idiota garota! Agora conta.. por que odeia tanto aqui?
Um suspiro sai dos meus lábios antes de começar.
— O encanamento é horrível, a síndica é um cu, os vizinhos são insuportáveis, as crianças vivem quebrando os vazos de planta lá de baixo e o porteiro nunca tá acordado. — Falo tudo numa frase só. — E ainda tem mais..
— Não! Tá bom assim. Já entendi, eu acho!
— É simplesmente um dos piores prédios da região, mas pelo menos o preço é acessível.
— Acho que é por esse o motivo das pessoas virem pra cá. — O homem cujo eu ainda não sabia o nome encosta a cabeça na parede assim como eu, e parece um pouco pensativo.
Mesmo com a escuridão total dentro do elevador, eu podia ver sua silhueta, o formato do seu rosto e o cabelo completamente bagunçado. Isso era o charme, eu acho.
Não sabia que poderia ter alguém bonito nesse prédio.