Capítulo 2

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Ao entrar na luz, senti minhas pernas e braços formigando, como se tivessem ficado sem circulação de sangue por algum tempo. Mas não doía, na verdade era estranhamente agradável.

Quando o brilho diminuiu, vi minha mãe de costas para mim e meu sonho pareceu se tornar realidade. O lobo nos aguardava ao lado de um homem loiro.

— O que é isso? — minha mãe perguntou, visivelmente assustada. Ela deu um passo para trás, esbarrando em mim.

— Não faço a menor ideia — sussurrei com medo.

Nós havíamos atravessado a luz azul brilhante e não estávamos na reserva; olhei para trás e minha casa não estava lá, apenas árvores extremamente grandes nos cercavam. Minha cabeça girava tentando achar uma explicação razoável, mas eu sequer conseguia pensar em algo que fizesse sentido.

— Meu nome é Aodh — o homem falou, atraindo a nossa atenção. — Não vou machucar vocês, nem causar mal algum. — Sua voz era grossa e ele pronunciava as palavras de forma articulada, como quem pensa muito ou ensaiou aquilo várias vezes. Imediatamente, meu corpo estremeceu, reagindo àquela presença de uma forma que eu nunca tinha sentido, como se minha mente enviasse ao restante de mim um alerta.

— Onde estamos? — minha mãe arriscou perguntar. Sua voz saiu fraca e receosa.

O lobo, que continuava nos encarando, mexeu uma das orelhas ao ouvir a pergunta. Ele parecia calmo, contudo em alerta, e prestava atenção a tudo.

— Em Arcantatys — o homem respondeu. Seus cabelos loiros eram lisos e chegavam até seus ombros. Estavam presos apenas na parte de cima, deixando suas orelhas à mostra. Franzi a testa; elas eram pontudas!

Tive a impressão de tê-lo visto esboçar um sorriso. Depois, limpou a garganta com um pigarrear e continuou:

— Não vou machucá-las. — Descruzou os braços e mostrou as palmas das mãos, depois, apontou para o lobo. — Ariosto as trouxe aqui a nosso pedido. — Virou o corpo e indicou um caminho. — Venham! Se me acompanharem, logo vão entender o que está acontecendo.

Não tínhamos muita escolha, já que o lobo Ariosto resolveu rosnar quando eu quis virar e sair correndo na direção contrária a que o loiro de orelhas pontudas andava. Ainda segurando a mão de minha mãe, seguimos atrás deles.

A floresta era magnífica, com árvores grandes que tinham um espaçamento incrível entre os troncos, e suas copas se uniam no alto, como um telhado natural, formando uma proteção para o chão e para os seres que ali viviam. Algumas possuíam orquídeas em seus troncos, e o colorido das flores contracenava harmoniosamente com aquele verde todo. Não havia mato espalhado pelo chão, apenas folhas secas.

Não conseguia parar de pensar no homem que caminhava à nossa frente. Ele tinha uma aparência diferente e também uma forma estranha de se comportar. Suas roupas lembravam-me um filme medieval; botas de couro, uma camisa branca e surrada, calças justas e uma espada na cintura. Sua postura era sempre ereta, como alguém da realeza. Mas suas orelhas eram o que realmente chamavam minha atenção; pontudas como as de um elfo. Mas essas coisas não existem! Existem?

Ele olhou por cima do ombro, diretamente para mim, e franziu o cenho, como quem dá uma bronca com o olhar. Então parou e acenou para o ar. Olhei adiante, procurando alguém que viesse em nossa direção, mas nada vi. Ele se virou e pronunciou algo que não fui capaz de compreender. Enquanto eu desviava minha atenção até ele, para tentar compreender o que tinha dito, uma construção de madeira surgiu à nossa frente. Aos poucos, outras foram aparecendo.

— Vamos! — disse ele, fazendo sinal.

As estruturas eram como casas de campo; fabricadas em madeira com telhados do mesmo material. As cores eram diversas e algumas já estavam verdes por causa da umidade da floresta e de trepadeiras que aproveitavam para se enroscar.

As Faces da LuzOnde as histórias ganham vida. Descobre agora