4. Isabela: o início de tudo.

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                                                                              861 dias antes


Olívia Marzano era, provavelmente, a garota mais bonita que eu já tinha visto na minha vida. Eu não sabia muito sobre ela, a não ser que era uma grande fã da Katy Perry e que tinha um carro cor-de-rosa que poderia facilmente ter saído do cenário de Meninas Malvadas. Apesar dos cabelos ruivos perfeitamente enrolados que exibia, dos olhos verdíssimos e de roupas que pareciam ter sido roubadas do guarda-roupa da Kate Moss, Olívia esbanjava simpatia por onde passava, destruindo qualquer estereótipo ou preconceito que eu pudesse criar a respeito de uma garota patricinha.

Nós estudávamos juntas no curso de inglês e, uma vez ou outra, fazíamos trabalhos juntas. Numa dessas vezes, fui até sua casa, num condomínio fechado de Brasília. Sua casa era completamente diferente de tudo que eu havia imaginado, assim como sua família. Ela tinha dois irmãos pequenos, igualmente ruivos, uma mãe de quem provavelmente havia herdado a simpatia e um pai de quem certamente havia herdado os genes. Eles viviam aparentemente felizes numa casa de três quartos, pequena, porém confortável. Eu não sei bem o que eu esperava encontrar ali, mas fiquei muito feliz com o que encontrei.

Uma semana após aquela visita, eu descobri que ela tinha um namorado, o Mateus. A princípio, me pareceu um pouco forçado demais, dono de umas piadas sem graça, sempre tentando ser o engraçadão da turma, mas não era uma pessoa má; era um cara legal. Os dois se davam muito bem juntos, embora fossem completamente o oposto um do outro. Eu me divertia assistindo-os discutir sobre quem estava certo ou errado sobre quem pertencia a música que tocava na sorveteria ou até mesmo quando discutiam sobre quem havia provocado o início da Primeira Guerra Mundial. Nessas discussões eu me abstinha porque concordava com Mateus que fora tudo culpa do arquiduque.

A questão de tudo isso era: eles se completavam, mesmo em suas imperfeições.

Eu gostava de vê-los juntos porque, de alguma maneira, eu me projetava num relacionamento como o deles. É claro que eles brigavam sério também, corriqueiramente. E mesmo assim continuavam a ser um perfeito exemplo para mim de como um casal deveria ser. Mesmo que passassem dias sem se falar, quando se entendiam voltavam a ser o mesmo casal apaixonado e bobo que sempre foram.

Quando pude perceber, Olívia e eu já estávamos saindo juntos todos os fins de semana. Íamos ao cinema, à piscina, e, principalmente, à Sorveteria do Mr. Mix que adorávamos. Uma vez ou outra Mateus nos acompanhava, exceto quando íamos ao cinema, porque era um tormento ouvir os estalos dos beijos entre os dois enquanto eu tentava prestar atenção no filme. Tentamos isso uma única vez e nunca mais me pus numa situação como aquela novamente. Era humilhante demais, até mesmo pra mim.

Tudo andava nos conformes, até que em um dia aparentemente comum como qualquer outro, na saída do curso de inglês, ouvi passos apressados descendo as escadarias. Quando me virei para olhar, vi que era Olívia.

─Ei, Bela! Espere aí!

Franzi a sobrancelha.

─Aconteceu alguma coisa?

─Não. Ainda. Bem, é que essa semana vai lançar esse filme no cinema e a gente estava pensando ir e, é claro, eu não poderia deixar minha amiga linda de fora.

Olhei pra ela com os olhos semicerrados, pressentindo o que aquele a gente significava e, desde já, lamentando a minha humilhação em ter que servir de vela mais uma vez.

Eu, você e o tempo entre nósWo Geschichten leben. Entdecke jetzt