33. Dia de festa (Por Isabela).

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                                                                               Dois meses depois  


          ─César, traz os brigadeiros!

Tentei me esquivar de duas crianças que passaram correndo ao meu lado e quase, por muito pouco, não deixei o bolo se esparramar no chão. Eu avisei a César que, em aniversário de criança, não se pode deixar as arrumações pra última hora. Crianças não têm senso de horário – se têm uma festa para ir, querem chegar lá o quanto antes. Foi isso o que aconteceu com aquela dezena de crianças que corria pela minha sala e pulava sobre meu sofá. Enquanto não estivessem com as barrigas cheias de doces, salgados e refrigerante, não se cansariam em destruir minha casa.

Agradeci aos céus por ter chegado à cozinha com o bolo inteiro e o coloquei sobre a mesa. Combinei com César que, até a hora de Zoé apagar as velinhas, seria melhor guardar o bolo em meu quarto, trancafiado com chave. Isso porque no aniversário de um aninho de Zoé, os queridos irmãos de César enfiaram o dedo no bolo, destruíram o rosto da pobre Magali e Zoé engatou a chorar pelo resto da festa. Esse ano era a Peppa Pig que estampava o bolo. Se alguém deformasse seu rosto, minha filha só pararia de chorar se conseguíssemos um bolo novo. Melhor não correr o risco.

─São só esses? – César perguntou, chegando à cozinha com quatro bandejas cheias de brigadeiros. Eu não achava que fosse pouco, já que esse ano só tínhamos chamado os irmãos de César, uns coleguinhas da creche e algumas crianças do prédio. Cheguei à conclusão que, quanto menos crianças, menos dor de cabeça.

─Só. Coloque aí. – Apontei para o espaço vazio ao lado dos salgadinhos. – Onde está sua filha, César?

─Você não a deixou com a mamãe?

─Não, eu a deixei com você.

Ele olhou pra mim com uma cara de quem já se desculpava por ter perdido a filha em algum canto da casa infestada de crianças. Só precisei estreitar os olhos pra ele sair correndo para procurar a menina. Terminei de organizar as bandejas sobre a mesa e coloquei a velinha com o número 2 no centro do bolo.

Caminhei até a porta da sala e senti uma leve pontada na cabeça ao ver toda aquela bagunça que eu teria que arrumar mais tarde – e César, com certeza, me ajudaria.

─Vamos, crianças! Hora do bolo! – Gritei, ao que toda a criançada passou como um furacão por mim. É só falar em comida, que um dispositivo de alerta é acionado na cabeça desses pequenos seres. – Agora só preciso que a aniversariante seja encontrada. Ótimo.

─Problemas com a organização, querida? – Perguntou Angélica, a namorada de papai e também minha sogra.

─Só um pequeno problema de troca de informações. Mas César já está resolvendo. – Era engraçado como eu me referia normalmente ao desaparecimento de minha filha em seu próprio aniversário. – Cadê o papai?

─Ah, ele está numa ligação de negócios. Falou que chegaria a tempo para a hora de apagar as velinhas, então vai estar daqui a pouco aqui.

─Ah, tudo certinho, então! – Sorri e senti meu celular vibrando em meu sutiã. Eu estava usando um vestido tubinho laranja em homenagem à mãe da Peppa, então aquele era o único lugar que me restou para guardar o telefone.

Desbloqueei a tela do celular e logo apareceu a foto de Carolina. Atendi no mesmo instante.

─Na hora certa. – Falei.

─Sou boa nessas coisas. – Ela disse do outro lado da linha.

Atendi a chamada de vídeo que ela solicitou e voltei para a cozinha. Coloquei o celular em pé sobre o balcão, encostado num pote de arroz, e vi a cara de sono de Carol.

─Há quanto tempo você não dorme?

─48 horas. – Respondeu. – Mas não podia perder o aniversário da minha pipoquinha.

Sorri porque aquele apelido era o pior do mundo.

─Vamos lá então. – Pisquei para ela e me virei para a criançada. – Estão prontas, crianças?

Uma gritaria de animação foi o que se sucedeu, enquanto Angélica pegava nos braços um menino que escalava o armário. Não sei como ele conseguiu.

─Onde está a aniversariante?

─Está aqui! – César irrompeu pela cozinha, trazendo uma Zoé toda descabelada nos braços.

─Onde ela estava? – Sussurrei para ele.

─No corredor com seu pai. – Ele sussurrou de volta

─Tudo bem. Vamos começar essa festa!

Colocamos Zoé em pé numa cadeira e as crianças começaram a cantar os parabéns antes que eu pudesse começar a musiquinha. Papai apareceu na cozinha e se juntou a nós, enquanto Carolina assistia tudo através do Skype. Já se faziam dois anos que Zoé tinha surgido em nossas vidas e ainda era difícil de acreditar que eu era mãe do bebê mais lindo que esse mundo já viu. E vendo aquele sorriso enorme em seu rosto enquanto batia palminhas com aquela roupa ridícula da Peppa Pig, eu tinha a certeza de que não havia nenhum outro lugar do mundo onde eu quisesse estar, se não ao seu lado.

Eu, você e o tempo entre nósWhere stories live. Discover now