2

33 6 0
                                    

_________

Confiável?

_________

Eu estava sendo tola e percebi apenas quando fui deixada dentro da cozinha sob a supervisão da cozinheira. Cassandra me deu uma concha e me empurrou para perto das panelas antes de cochichar no ouvido de Agatha e me forçou a encher tigelas fundas de metal.

— Há coisas mais importantes para serem feitas aqui, Charlotte. — Cassandra suspirou e voltou com sua correria pelo castelo.

Eu permaneci olhando para a porta, confusa demais para brigar e perdida demais para entender o que acabara de acontecer.

Comecei a despejar o líquido sem pensar muito, prestando a atenção apenas no barulho da conversa alheia na cozinha e do líquido batendo na tigela de metal.

Ouvindo um burburinho suave enquanto a festa corria, todos se divertiam, esperando que essa fosse a última vez que um homem com poder aparecia nas portas do castelo, que prometia mais do que realmente iria cumprir.

Mas o que um homem sem guardas e conselheiros ao seu lado poderia fazer por uma terra falida? Sem escolta, sem uma vestimenta adequada para tal posição?

Voltei levemente a minha alma para meu corpo, percebendo que o que acontecera, fora apenas um presságio de que algo ruim estava para acontecer assim como das outras vezes.

As terras de Bryon eram excepcionalmente belas, com campos e florestas tão densas que consumiam parte da província. Isso sempre atraiu muitos visitantes e comerciantes, trazendo novos tipos de sementes, tecidos e comidas exóticas.

Embora tudo fosse incrivelmente belo, aos poucos, as árvores começaram a morrer e com elas, o prado e consequentemente a terra. A morte corroeu até mesmo a grama verde de dentro dos pátios do castelo e ela viera como um gafanhoto faminto, levando tudo consigo.

Suspirei lembrando-me das frutas que o Senhor nos permitia pegar diretamente das árvores e do ar fresco que vinha de dentro do bosque, o que me fez perder a mão com a sopa e derrubar desajeitadamente na bancada inteira.

— Charlotte! — Agatha chiou puxando a concha da minha mão. — Onde anda com a cabeça, criança?

Franzi o cenho para ela, não me chamavam de criança desde os meus dezesseis anos e agora, com vinte e dois, elas sequer se lembravam desse pequeno detalhe.

— Sinto muito, não acho que eu vá ser útil por aqui nessa noite.

— Estou vendo — ela ergueu o olhar acinzentado para mim e um arrepio me percorreu, fazendo-me lembrar do maldito espartilho.

— Não irá...

— Espere! Podemos beber e comer antes que pense em observar o castelo. — O senhor resmungou com a voz embargada pelo vinho enquanto a cozinha era acometida por um intenso silêncio.

O barão havia invadido a cozinha, analisando o lugar com afinco, procurando o que somente ele poderia explicar nesse momento.

Nós paramos com nossos trabalhos e sutilmente abaixamos a cabeça enquanto o barão e o Senhor caminhavam pelo espaço quente e pequeno da cozinha.

— Como disse anteriormente, estou aqui para descobrir se há alguma salvação e não para abusar de sua hospitalidade, Benjamin. — Ele respondeu, me fazendo arregalar sutilmente os olhos, sem conseguir conter minha curiosidade pelo conjunto de vestes pretas que, agora, caminhava lentamente na minha frente, me fazendo morder a língua assim que percebi os finos fios de prata e ouro contornarem as bordas de suas vestes.

Your ReflectionOnde histórias criam vida. Descubra agora