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- Eu estou bem, Clara.

- Você tem certeza, filha? Está bem mesmo? Precisa de alguma coisa?

- Não.

- Não tem certeza,  não está bem, ou não precisa de nada? Seja mais clara, Lauren Michelle!

- Não preciso de nada, mãe - respondeu, tentando não revirar os olhos. Até podia fazê-lo, já que a ligação era por voz e não vídeo, mas estava tentando se controlar mais em alguns aspectos.

Sua mãe bufou, daquele jeito que ela fazia quando perdia a paciência consigo.

Lauren esperou. Deu a ela o seu tempo, enquanto aguardava do lado de fora da lojinha de conveniência.

Após a mensagem que recebeu em celular, com o endereço do local marcado, correu para chegar a tempo. Entendia o motivo de ser ali, pois era um local mais público, bem no centro da  Harvard Square, mas teve que fazer uma viagem como se estivesse indo a faculdade.

O cara devia estar ali, porque estava mais perto do local do que ela, que veio de Boston. Mas seguia o esperando. O fazia do lado de dentro, quando acabou surpreendida pela ligação da mãe.

- Michelle... - Clara começou, e Lauren teve de segurar o impulso de dizer que precisava desligar, não querendo ouvir algum sermão acerca do seu jeito estranho de ser. Estava cansada de todo aquele discurso. Era como se ninguém aceitasse o jeito que era. Sempre tinha que tomar cuidado com as palavras, sempre tinha que se esforçar para se abrir, ninguém nunca a entendia. Era exaustivo. Não estava pedindo para seguirem-na ou amá-la, não obrigava ninguém a ficar em sua vida. Mas ainda tinha que agir com tato para não ferir aqueles ao seu redor. Talvez devesse simplesmente ficar sozinha e ponto. Não ligava mesmo para isso. As pessoas que queria a sua volta eram poucas, ela poderia lidar com uma lista ainda mais enxuta.

Ao invés disso, porém, enfiou a mão no bolso do casaco verde musgo que vestia e esperou.  

Naquela manhã de sexta fazia frio, então decidiu se agasalhar adequadamente. Não ir a faculdade foi uma brilhante ideia, e agora poderia se dedicar para tratar daquele assunto pendente. Precisava dar um jeito na situação o quanto antes e fazer o seu plano andar. Tinha os amigos de Bryant de olho na latina, após mostrar uma foto dela a eles, mas essa proteção não seria suficiente e nem protegia a si mesma.

Sua mãe voltou a falar, aquela mesma e velha ladainha de sempre, e Lauren a ouviu com o sentimento de tédio.

Fria. Não era isso?

Indiferente.

- ... não deveria ser tão difícil assim se abrir um pouco comigo. Eu sou sua mãe, Lauren, acaso acha que não quero o seu bem? Pensa que vou te fazer mal ou contar seus segredos para os seus inimigos?

Cara, as vezes sua mãe dava uma viajada.

Lauren nem tinha segredos. Não muitos, ao menos. Tampouco inimigos.

Bem, talvez agora poderia dizer que sim.

De toda forma...

- ... veja seus irmãos. Por que você não pode ser como eles?

Sempre a mesma coisa. Sempre as mesmas comparações.

Perguntava-se se sua mãe tinha aquele discurso memorizado na ponta da língua, e como ela não se cansava dele? Nunca surtiu efeito, por que agia como se algum dia fosse fazê-lo?!

Sendo honesta, só estava se irritando com ele. Era como uma lembrança constante da sua incapacidade de se abrir. E isso a fazia lembrar de Camila. Do seu término no banheiro. A última coisa que queria era ter a menina em sua mente.

Ossos do AmorWhere stories live. Discover now