04 de Dezembro - Pele de borboleta

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Hoje pela manhã eu realizei uma bateria de exame e depois fui levado para a minha cela. Eu acho que estava chovendo, não sei, parece que eu tenho um faro aguçado para o cheiro de chuva e eu nunca erro. Era possível sentir um leve aroma de terra molhada e os militares que entravam na prisão estavam com o pé todo sujo de lama, logo eu acredito que realmente estava chovendo.

Chegando na sala eu encontrei os meninos ainda dormindo e não me aguentei, pulei em cima do Stein e acordei ele com cosquinhas. O Stein então levantou e me deu um belo soco na cara, depois limpou os olhos e disse:

-Eita, desculpa. Toomas?

Eu então pulei nos braços do Stein e dei um abraço bem apertado, depois puxei a meia do Vincent e ele também despertou. Depois de todo esse rebuliço nós fomos tomar o nosso café enquanto eu contava sobre tudo o que aconteceu enquanto eu estava fora. O Stein não pode conter a raiva, ficou todo vermelho e só faltou pular no pescoço dos guardas. O Vincent já levou mais na tranquilidade, apenas disse que é algo normal, segundo ele aquele local não deixa de ser uma solitária sofisticada.

Nossa manhã passou tão rápido. Quando mal esperamos já estava quase perto do almoço e nós não tínhamos nem terminado o café da manhã de tanto conversar. Hoje de café recebemos algumas castanhas e um iogurte de uva. Tudo estava uma delícia, principalmente aquele iogurte, bem suave e cítrico.

Pela tarde, por volta de mais ou menos uma hora o nosso almoço chegou e eu me surpreendi com o que era. O almoço era simplesmente um prato de camarão ao molho, eu sou apaixonado em camarão e sei lá, camarão em um presídio? Que utopia é essa? Já o Stein não pode comer, ele é alérgico a camarão e não pode nem se quer sentir o cheiro. Já eu e o Vincent comemos até rapar o prato. Quando terminamos de comer eu fui colocar uma roupa mais fresca e depois fui bater papo com o Stein. Segundo o estranho de olhos azuis ele amava brincar com os bichinhos empalhados do pai dele, algo que me assusta, porém era a realidade da família dele né? Um pai biólogo, fazer o que? O Stein não parou de contar sobre as altas aventuras com seus animais empalhados, mas quando ele levantou o braço para imitar um macaco prego eu acabei reparando no colar que o Stein estava usando e me lembrei do colar que o Adrus me deu. Eu não pensei duas vezes peguei e o colar e disse:

-Olha Stein, esse é o colar que você deu para o seu irmão lá na cabana né?

O Stein então com os olhos brilhando disse:

-Sim, mas como? Como conseguiu ele?

Eu não pude conter a felicidade e contei um pouco sobre a minha conversa com os meninos e falei um pouco sobre a Raquel também. O Stein e o Vincent faltaram me apedrejar pelas coisas que eu falei para a Raquel, o Stein então quase pulou no meu pescoço. Sabe? Esses garotos são fantásticos, são simplesmente versões minhas que eu gostaria de presenciar. Eu sempre quis ter um lado mais animado que nem o Vincent e sem dúvidas gostaria de um olhar mais crítico como o do Stein. É meninos, eu amo vocês.

Por volta das três da tarde um militar veio nos buscar para o banho de sol, que na verdade nem sol tinha, mas não podemos reclamar né? Eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser no que o Santiago me disse, porém eu estava convicto da minha decisão, eu não queria fazer algo diferente daquilo que eu decidi.

Chegando no pátio o vincent nem sequer deu satisfação, se deitou em um banco e começou a cochilar. Já eu e o Stein ficamos próximos da árvore e deitamos na grama de barriga para cima enquanto visualizamos o nosso reflexo no vidro que cobre o teto do pátio. O Stein então começou a sorrir com aquele sorriso branquinho e alinhado e disse:

-Toomas? Sei que pode parecer clichê e tudo mas sabe? Posso te contar uma coisa?

Eu não consegui conter a risada, e o Stein não falou nada engraçado mas eu estava tão eufórico que apenas ri e depois falei:

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