Capítulo 2

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CAMISA DE COLARINHO. GRAVATA. CALÇAS CINZA ESCURAS.

Cabelos castanhos, olhos azuis, queixo pronunciado. Nada mau, amigão,
você está com tudo em cima.

Dou total aprovação à minha aparência nesta manhã de sexta-feira. Se eu
fosse personagem de um filme clichê, eu apontaria a mim mesmo na frente
do espelho. Mas eu não sou. Honestamente, que tipo de homem faz essas coisas?

Em vez disso, volto-me para o meu gato, Fido, e peço a ele uma opinião. Sua
resposta é simples: ele me dá as costas, afastando-se empinado, com o rabo
levantado, bem-alto, no ar.

Fido e eu temos um acordo: eu lhe dou comida e ele não atrapalha meus
encontros. Ele apareceu em minha sacada um ano atrás, miando atrás da porta de vidro, usando uma coleira na qual se lia "Princesa Poppy". Verifiquei a identificação do gato e descobri que ele pertencia a uma velhinha que morava
no prédio e que havia acabado de partir para o Outro Lado. Evidentemente a mulher pensava que Fido fosse uma fêmea. Ela não havia deixado contatos de parentes, nem instruções a respeito da pessoa a quem o animal deveria ser entregue. Eu o acolhi, joguei fora sua coleira cor-de-rosa e lhe dei um nome
compatível com sua masculinidade.
Em nosso relacionamento, nós dois só temos a ganhar. Amanhã à noite, por exemplo, Fido não vai ficar se lamuriando nem me enchendo quando eu chegar em casa tarde. Porque muito provavelmente eu vou entrar cambaleando pela porta, de madrugada.

Vou trabalhar hoje à noite, mas amanhã Jenny estará de volta e eu pretendo sair para festejar com o meu grande chapa, Sebastian. Seu programa de televisão, que é um sucesso, acabou de
ganhar uma nova temporada na Comedy Nation e nós planejamos comemorar em um bar em Gramercy Park. Além do mais, lá tem uma especialista em drinques gostosa com quem conversei algumas vezes. O nome dela é Lena e ela sabe preparar bebidas fantásticas. Ela colocou seu contato em meu celular; em vez do próprio nome, escreveu o de sua bebida mais famosa, "Sex on the beach”, e acrescentou: "Ou Onde Você Quiser". Soa mais do que promissor, não é?

Parece que Lena e eu logo passaremos
bons momentos juntos.

Saio de casa e tomo o metrô para Upper East Side, a região onde meus pais moram. Sim, eles são ricos, mas — surpresa! — não são cretinos. Bem,
esta não é a história de um cara com um pai rico e intratável e uma mãe fria e arrogante. É a história de um sujeito que gosta de seus pais, que, por sua vez, gostam de seu filho. E tem mais: meus pais gostam um do outro também.

Como eu sei disso? Porque eu não sou surdo, caramba! Não, eu não os escutei fazendo "aquilo" quando era criança. O que eu ouvia era minha mãe assobiando canções felizes todas as manhãs quando acordava. Eu aprendi boas lições com os dois.

Esposa feliz = vida feliz. E um bom desempenho na cama é uma
maneira de trazer felicidade a uma mulher.

Hoje, porém, meu trabalho é fazer meu pai feliz, e papai quer seus filhos
presentes nessa reunião durante o café da manhã. Brie, minha irmã mais
nova, também foi convocada a comparecer. Ela vem caminhando ao meu encontro na Rua 82. Quando me alcança, ela finge que vai tirar uma moeda de trás da minha orelha.

— Veja o que eu encontrei, espere, o que é isso aqui? — Ela agita a mão
atrás da minha orelha e faz aparecer um tampão feminino. Sua boca assume a forma de um "O", simulando espanto. — Chris Evans! Está andando com absorventes agora? Quando foi
que sua menstruação começou?

Eu caio na risada.
Ela passa a mão por trás da minha outra orelha e exibe uma pequena
pílula.

— Veja só, aqui tem um Advil para as suas cólicas.

— Muito bom — eu sorrio. — Você faz esse truque em todas as festas
infantis?

— Não — Brie pisca para mim. — Mas foi por causa desses truques que as mamães deixaram a minha agenda de trabalho lotada por seis meses.

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