sonhos cinematográficos.

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Cinema, 16:30

A luzes estavam baixas e um filme passava na TV do local.

Fernanda estava ali com Bin e Leidy...e claro, com Alane. Estava um clima estranho e era quase palpável a tensão do lugar. Fazia poucos dias que uma briga intensa entre Leidy e Alane tinha acontecido. Fernanda não estava nos melhores dias de amizade com Bin e todos pensavam que Alane ainda odiava ela. Estava feliz que não.

Alane correu seu olhar para o lado e enxergou que os dois estavam bem concentrados na cena do filme que parecia emocionante. Ela cerrou os lábios formando uma linha, colocou sua mão do lado da de Fernanda. Sentiu quase como um calor da mão da outra o que provocou um sorriso leve em seus lábios.

Conforme o tempo ia escorrendo, os mindinhos de ambas se afastavam dos outros dedos a caminho de um encontro silencioso. Até que finalmente se encostaram provocando um choque que parecia percorrer o corpo das duas. Aquilo faz um sorriso bobo brotar nos lábios de Fernanda.

Apenas o que se passava pela cabeça de Alane era o quanto ela queria estar encolhida no abraço de Fernanda. Era uma sensação quase que sufocante e agoniante de ter que esconder tudo.

Pensava constantemente que era isso que a fazia pensar quase o tempo todo em como seria ao final do programa. O que lhe corroía era que ao mesmo tempo desejava que não acabasse para que ela nunca se livrasse do peso delicado que era estar com Fernanda o tempo todo sem mais preocupações externas.

Até que ascenderam as luzes e as mãos deslizaram rapidamente para perto de se seus próprios corpos. Escutou Fernanda suspirar de alívio e mordiscou o lábio inferior em ansiedade.

Até que finalmente eles estavam saindo do cinema. Leidy e Bin caminhavam a frente enquanto conversavam alheios as duas atrás. Fernanda e Alane andavam em silêncio num ritmo mais lento.

Até que enfim, os dois entraram e a porta se fechou. Fernanda sente a mão de Alane pegar na sua bruscamente e então ela olha para outra sorrindo.

Corriam de mãos dadas e Fernanda ria enquanto era levemente puxada por Alane. A garota pedia para ela parar para não chamar atenção e então elas estão novamente atrás do sofá. Sentadas uma do lado da outra com respirações descompassadas e ofegantes. Elas finalmente se olham.

Realmente, se sentiam duas adolescentes.

- Oi.. - diz Fernanda.

- Oi - responde Alane, sorrindo.

Um sorriso brota nos lábios de Fernanda. Alane gostava quando a outra sorria, pois parecia que ela estava a chamando para um beijo sem dizer nada. Então o fez puxando ela para um beijo tão requisitado.

Uma mão de Fernanda estava pousada na cintura de Alane, a outra fincada no chão gélido. Enquanto isso, Alane tinha as duas mãos no rosto de Fernanda enquanto deslizava seus dedos pela bochecha da mais velha acariciando.

Assim que o beijo se encerra as duas timidamente se encaram.

Finalmente, num ato de conforto, Fernanda deita sua cabeça no ombro alto de Alane. A garota se arrepia e fica completamente surpresa, tornando aquilo tudo ainda mais perto e real. No começo, Fernanda sempre teve dificuldade se mostrar o que sentia e agora era como se ela tivesse a ajudado a superar esse medo.

Brincava com os dedos da mais velha enquanto o peso de sua cabeça no seu ombro lhe confortava.

- Será que um dia nós vamos poder assistir filmes agarradas e talvez até fazer sexo no sofá sem se preocupar com essas coisas? - Alane pergunta.

Fernanda pondera um pouco.

- Bom, pra isso eu teria que viajar pra São Paulo - riu fraco.

Alane ri.

- Eu me mudo pra Niterói - sorri.

Fernanda sorri junto e coloca sua mão na perna de Alane fazendo carinho.

- Tá, mas o que a gente faria com as crianças? - Questiona Fernanda.

Alane murmura enquanto pensa.

- Acho que eu as colocaria pra dormir.

Fernanda ri e pensa como seria Dias cuidando de seus filhos as 23:00 da noite em quanto ela prepara um vinho na cozinha apenas para passarem a noite assistindo filmes. Então ela provavelmente diria que já leu o livro, obrigando Fernanda a ouvir um resumo antes de começarem o filme.

- Bom, de manhã elas estariam na escola e a gente teria tempo livre - Fernanda diz levantando levemente a cabeça pra olhar para Alane.

- Então eu ia te levar pra praia, apenas pra te ensinar altinha - sorri.

Fernanda balança a cabeça sorrindo e volta a posição. Tenta se imaginar de manhã na praia, em Copacabana, num sol leve e belo iluminando o rosto de Alane. A areia quente e fofa enquanto ela enche a bola.

Consegue quase sentir o vento se acalmando e as ondas da água pintando e enriquecendo a paisagem. Então ela diria que ela ficava linda fazendo embaixadinhas e observaria seu belo cabelo castanho voar em seu rosto o bagunçando.

Era uma cena quase utópica para Fernanda. Estranhamente tão real.

- Ei.

As duas se assustam se afastando quase que imediatamente. Até Fernanda subir seu olhar e ver a figura de Pitel de braços cruzados as encarando. A mesma que permanece com um semblante de indiferença.

- Eu fiz sobremesa. É bom vocês duas experimentarem antes que acabe.

Ela não espera uma reação de Fernanda e Alane. Sai do ambiente como se nada tivesse acontecido.

Elas riem.

- Por que minha vida não é normal?! - Fernanda diz rindo.

Alane coça os olhos e então suspira.

- Você acha que ela já gosta de mim?

- Acho que isso ainda vai demorar um pouco, mas oferecer sobremesa é um bom começo.

Alane imaginava como seria quando já tivesse se passado tempo o suficiente para que todos fossem amigos. Imaginava se se passaria tempo suficiente.

Pensava as vezes como seria Fernanda e Beatriz se dando bem. Era engraçado como seus mundos não pareciam se misturar nenhum pouco.

Achava que as vezes elas eram a única coisa que funcionava dentre os dois mundos e talvez por isso fosse quase difícil pensar em alguma coisa dando certo. Ao mesmo tempo, era impossível se imaginar querendo que algo mudasse.

- O que eu posso fazer pra ela gostar de mim? Vou fazer de tudo pra ela me adorar a partir de hoje.

Fernanda riu.

- Uma viagem a três pra Belém é um bom começo.

Pessoas Normais Where stories live. Discover now