𝖢𝖺𝗉𝗂́𝗍𝗎𝗅𝗈: 𝟢𝟪

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O tempo voou desde o último encontro com Christian. Um mês havia se passado, e durante esse tempo, nossas conversas foram se tornando mais frequentes. Embora Christian permanecesse uma figura enigmática, comecei a sentir que estava desvendando pequenos pedaços de sua personalidade a cada encontro, cada um era um pequeno avanço.

Em uma manhã de domingo fria e nublada, encontrei-me mais uma vez diante do jardim do hospital, onde havíamos combinado de nos encontrar. O ar gélido da manhã cortava minha pele, fazendo-me encolher dentro de meu casaco enquanto esperava por Christian.

- Deveria ter pegado um casaco mais quente.. - digo para mim mesma.

Quando finalmente ele apareceu, sua presença silenciosa parecia preencher o espaço ao meu redor. Christian estava vestido com jeans surrados e uma jaqueta de couro preta, seu olhar tranquilo revelando uma determinação silenciosa.

- Oi, Estella - ele cumprimentou, sua voz suave quebrando o silêncio.

- Oi, Christian! - respondi, forçando um sorriso enquanto tentava ignorar o frio que se infiltrava em meus ossos.

Ele notou minha expressão preocupada e franziu o cenho levemente.

- Está com frio?

Assenti, envergonhada por admitir minha fraqueza diante do clima implacável.

- Um pouco. Daqui a pouco para de ventar, ai vou ficar com menos frio! - não sei de onde tirei que o vento iria parar.

Christian tirou sua jaqueta e a ofereceu para mim.

- Aqui, pegue isso. Vai te manter aquecida.

Fiquei surpresa com o gesto gentil, relutante em aceitar.

- Você vai ficar com frio! Não posso aceitar.

Ele sorriu, balançando a cabeça.

- Eu estou bem. Você precisa mais do que eu.

Agradeci, aceitando o casaco com gratidão e envolvendo-me em seu calor reconfortante, seu casaco tinha seu cheiro. Era estranho estar tão perto dele, compartilhando esse momento íntimo que parecia ir contra todas as minhas expectativas.

Enquanto caminhávamos pelo jardim, Christian parecia mais relaxado do que nunca, sua habitual reserva cedendo um pouco para revelar uma versão mais descontraída de si mesmo. Conversamos sobre tudo e sobre nada como sempre, mergulhando em assuntos banais que, de alguma forma, pareciam significativos naquele momento.

- Então, como está sendo para você aqui no hospital? - Christian perguntou, olhando para mim com curiosidade.

Dei de ombros.

- É difícil, às vezes. Mas estou tentando me manter positiva.

Ele assentiu, parecendo entender.

- É importante. Minha mãe...também está passando por isso. Ela tem câncer, por todo o corpo.

Meus olhos se arregalaram de surpresa.

- Sério? Eu... não sabia. Sinto muito, Christian.

Ele deu um sorriso triste, olhando para o chão.

- É difícil, mas ela é forte.

Ficamos em silêncio por um momento, compartilhando a dor e a compreensão mútua. Eu sabia o quanto era difícil lidar com a doença, e saber que ele também enfrentava algo similar criou um laço invisível entre nós.

- Você tem outros familiares aqui? - perguntei, tentando desviar a conversa para algo menos doloroso.

Christian balançou a cabeça.

- Meu pai morreu quando eu era criança. Então, é só eu e minha mãe agora.

Senti uma pontada de tristeza por ele e ao mesmo tempo, grata por ter meus pais comigo.

- Sinto muito, Chris. Deve ter sido difícil crescer sem ele.

Ele deu de ombros, tentando parecer indiferente.

- Foi, um pouco no início mas eu me acostumei.

O silêncio entre nós era confortável desta vez, cheio de uma compreensão tácita e um respeito mútuo pelas dificuldades que ambos enfrentávamos. A amizade que estava se formando entre nós era lenta, mas sólida, construída sobre a sinceridade e o apoio mútuo.

Christian me olhou de soslaio, seu olhar suave.

- E os seus pais? Como eles estão?

Suspirei, pensando em como responder.

- Eles estão sempre ocupados com o trabalho. Mal têm tempo para me visitar.

Ele assentiu, parecendo compreender.

- É difícil, não é? Sentir-se sozinho, mesmo quando há pessoas ao redor...

Concordei, sentindo uma onda de tristeza passar por mim.

- Sim, é. Mas estou tentando ser forte.

Christian colocou uma mão gentil em meu ombro, seu toque oferecendo mais conforto do que palavras poderiam expressar.

- Você é forte, Estella. Mais do que pensa.

Aquela simples declaração me aqueceu por dentro, fazendo-me sentir mais conectada a ele do que nunca. Estávamos começando a nos entender, a apoiar um ao outro de maneiras que talvez nem percebêssemos totalmente.

Enquanto o sol começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, percebi que, apesar das dificuldades e das incertezas, estava grata por ter Christian ao meu lado.

O dia frio começou a se transformar em noite, e sabíamos que era hora de nos despedirmos. Christian me acompanhou de volta ao meu quarto no hospital, garantindo que eu estivesse bem antes de partir. Quando ele se virou para ir embora, eu o chamei.

- Christian..!

Ele se virou, olhando para mim com curiosidade.

- Sim?

- Obrigada. Por tudo.

Ele apenas sorriu, um sorriso genuíno que iluminou seu rosto.

Com isso, ele se afastou, deixando-me com uma sensação de calor e esperança que não sentia há muito tempo. Entrando no meu quarto, tirei o casaco e me preparei para a noite. Ao perceber que o casaco que eu havia tirado era o de Chris, levei um pequeno susto.

Rindo suavemente da situação, pendurei o casaco com cuidado e comecei minha rotina da noite. Antes de dormir, peguei meu caderno de desenho e comecei a rabiscar, tentando capturar as emoções do dia.

Enquanto desenhava, percebi que, apesar de tudo, havia algo especial se formando entre mim e Christian. Uma amizade, baseada na compreensão e no apoio mútuo. E isso, eu sabia, era algo a ser valorizado.

Parece que o Stefan estava certo dessa vez.

𝖬𝖾𝗎 𝖯𝗋𝗂𝗆𝖾𝗂𝗋𝗈 𝖴́𝗅𝗍𝗂𝗆𝗈 𝖠𝗆𝗈𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora