VADIA E EGOÍSTA

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Tem saiu do prédio com o coração despedaçado. Olhou para trás e viu a luxuosidade do lugar. Apenas de olhar, ele deveria ter previsto que não fazia parte daquele mundo. Porsche saiu do nada para viver um conto de fadas, mas ele não teve a mesma sorte.

Pegou o carro e fechou os olhos, respirando fundo. Queria esquecer, queria ser transportado para aquele dia fatídico em que lhe fizeram a proposta. Aquele dia em que foi seduzido e apresentado ao charme e ao prazer de ser o brinquedo dos dois.

Ao chegar em casa, a realidade o atingiu como um soco. Sabia que não era um sonho. Era um pesadelo. Deixar Time era a última coisa que queria, mas agora, sabendo o que sabia, não teria paz.

Entrou no banho ainda vestido, deixando a água escorrer sobre ele como se pudesse lavar a dor. A sala estava repleta de embalagens de bebida. Ele apenas secou uma parte do corpo e deitou-se no frio da cama. Estava só. Voltou a sentir-se como aos onze anos, quando foi deixado só mais uma vez.

Mas ele sabia que resistiria. Resistiu até ali e não permitiria que dois idiotas o machucassem tanto.

No apartamento, Tay estava sem palavras. Tentava encontrar uma explicação para não ter falado com Tem antes de tudo desmoronar. Só conseguia pensar no ódio que viu nos olhos dele e em suas palavras. Tudo o que ele construiu com Tem, com todo cuidado, foi jogado ao chão.

- Ele vai colocar a cabeça no lugar e vai se acalmar. Vamos resolver isso - disse Time, tentando ser otimista.

Mas Tay sabia que não.

- Nem você acredita nisso.

Realmente ele não acreditava. Nos primeiros dias, Tay demonstrava força, mas no quarto dia, nem levantou da cama.
Ele Não iria voltar.
Eles não poderiam ter filhos com a genética deles e o sonho a três tinha acabado.

À tarde, enquanto Time finalmente conseguiu dormir, Tay levantou e foi de encontro a Tem. Só sairia de lá com ele. E aguardou. Ele estava em casa, confirmou com o porteiro do prédio. Mas ele não abriu a porta, até que o amigo da faculdade apareceu. Aquele com quem eles se estranharam.

- Na paz, Tay. Só vim trazer algumas coisas do Tem que ele pediu.

Tay virou de costas.

- Como ele está?

O outro pensou.

- Vou entrar e sairei em seguida. Entre e tenha uma conversa com ele. Para o sim ou para o não, essa situação não está boa para ambos.

E ele fez isso mesmo. Entrou e logo saiu, deixando a porta aberta. Tay entrou e se deparou com Tem em pé na janela, encarando o vazio.

- Fique aí. Quero que fique longe de mim.

- Tem? Temos que conversar.

- Eu não quero conversar. Esses dias eu apenas conversei comigo mesmo. Eu não quero conversar. Eu não quero.

- Tem... a explicação...

- Para, Tay. Para com isso. Você é pior do que Time. Você! Eu me deixei levar por seu sorriso. Por seu jeito elegante e erótico de ser. Você sempre me atiçando e me seduzindo porque sabia que eu não resistiria.
Quem resistiria a você? Eu, um Zé ninguém. Faça algo que eu sei que você nunca fez: respeite a decisão do outro e saia da minha vida. Vocês estão impedindo que eu continue.

Tay sentiu um nó na garganta. Cada palavra de Tem era como uma faca em seu coração. O pior foi ouvir as últimas frases. Era hora de abrir mão. Ele estava atrapalhando a vida de Tem e, mesmo sendo uma vadia egoísta como Tem achava que ele era, não se permitiria ser assim.

Dando os passos mais difíceis do mundo, voltou por onde entrou.

- Eu sou egoísta, mas estou nesse momento lhe deixando livre como você quer. Nunca me perdoaria por atrapalhar seu caminho.

- Me esqueça.

Tay virou uma última vez, as lágrimas segurando.

- Impossível. Eu e Time nunca vamos esquecer você, Tem. Você sempre será nosso garoto.

Tay saiu e não olhou mais para trás. Tem também não olhou para a porta, mas seus olhos deixavam escapar lágrimas silenciosas.

Pela primeira vez, Tay dirigiu devagar. Ele queria se recuperar antes de chegar em casa, mas não adiantou.

- Onde você estava? - Time perguntou, já sabendo a resposta.

- Na casa do Tem. - Tirou o terno e os sapatos. - E sim, ele me recebeu. Me disse coisas horríveis, acusou principalmente a mim e... E eu vim chorar em casa nos braços do meu marido.

- Tay...

- Ele não vai nos perdoar, ele não vai me perdoar por seduzi-lo. E nós não vamos nos perdoar se continuarmos atrapalhando a vida dele.

Era o fim, era o Time ali, não precisava fingir. Não precisava demonstrar força. Por isso, quando ele se abraçou ao marido, ele chorou. Tudo veio de uma vez: o filho com seus olhos claros que ele nunca vai ter, o filho com as bochechas do Time que ele também nunca vai ter, e pelo Tem, a família que só existia em sua mente.

Cavalgada a três- TAY,TEM, TIME Where stories live. Discover now