Capítulo 12: Ódio.

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Lilith permaneceu no jardim, sentando-se de forma desajeitada sobre o chão coberto pela neve fria. Envolta em luvas, ela tocou a neve com as mãos, sentindo um leve arrepio que refletia a frieza presente em seu coração.
Enquanto a neve fria caía ao seu redor, ela silenciosamente fechou os olhos e mergulhou na solidão. Ela se envolveu com a lembrança dos mortos e sentiu que precisava de sua presença. Ela os convocou com uma sugestão cheia de sofrimento.
- Senhora? - Ela ouviu uma voz familiar e rouca. Frankenstein, o mordomo da família Augum, surgiu das sombras. - Há quanto tempo. ..
Ao presenciar a figura que tanto amava, Lilith extravasou-se e seus olhos se encheram de lágrimas. Sem pensar duas vezes, ela se moveu e se envolveu em um abraço apertado, sentindo a familiaridade reconfortante do seu velho amigo.
- Frank, como eu sinto a tua falta! - disse ela num sussurro, sua voz se partindo com a emoção.
Com uma postura imponente e rosto marcado pelo tempo, FrankenStein surpreendeu ao retribuir o abraço com uma gentileza inesperada. Ele deu um pequeno passo para trás, fixando o olhar nos olhos de Lilith com uma mistura melancólica e ao mesmo tempo orgulhosa.
- Minha senhora, a falta que você sente é uma carga pesada, mas também mostra o amor que ainda existe em seu coração - disse ele suavemente. - E esse amor, Lilith, pode ser sua maior aliada na batalha que se aproxima.
Uma onda de emoções percorreu Lilith. Frankenstein, ao estar presente, despertou memórias dolorosas do seu irmão cujo destino ainda perturbava a sua mente. Dentro dela, a versão em relação a Madame Hundred e à Ordem se intensificava como uma chama incontrolável.
- Frank, é esse amor que acaba me destruindo internamente. Meu irmão. .. - Lágrimas preencheram os olhos de Lilith enquanto ela lutava para falar. - Eles o mataram! Como posso suportar isso?
Frankenstein assentiu, demonstrando uma compreensão profunda.
- Lilith, a dor da perda é uma carga que ninguém deveria suportar, no entanto também é um lembrete do poder interior que você possui. Seu irmão sempre confiou em você e não gostaria de ver você se deixar consumir pelo ódio.
Lilith cerrou os punhos, as unhas se enterrando em suas palmas, sentindo uma onda de fúria percorrer seu corpo.
- Frank, de que maneira posso evitar ser consumido pelo ódio? - falando, sua voz tremendo devido à intensidade das emoções. - Meu irmão foi traído, nossa família também! Madame Hundred menciona a necessidade de sacrifícios, mas seu verdadeiro foco é apenas alcançar o poder pessoal. Prometo a ti, prometo ao meu irmão, que buscarei fazer justiça. Vou fazer a Ordem cair, mesmo que tenha um preço alto.
Lilith saiu correndo, deixando FrankenStein para trás, imerso em sua eterna solidão.

Serena estava sentada em frente ao espelho com as mãos trêmulas segurando a escova. Os cachos cacheados de seu cabelo eram uma marca de sua identidade, mas naquela escola implacável e rigorosa, eles foram considerados incorretos. Olhava para os cachos enormes e incontroláveis com o coração pesado. As palavras da Coordenadora Parson reverberaram em sua mente, uma humilhação constante que fazia com que cada fio de cabelo parecesse um fardo.
- Serena, você deve alisar esse cabelo. - A voz da coordenadora soou fria e impiedosa, carregada de preconceito.
Respirou fundo tentando acalmar a emoção transbordante. Cada vez que alisava seu cabelo era como se ela estivesse apagando uma parte dela mesma; era como se ela estivesse cedendo à pressão de negação de si mesmo. Ela pensou em sua mãe, que sempre lhe dizia para ter orgulho de ser quem é e não tributar-se aos padrões impostos pelos outros sobre beleza.
Em 1900, ser uma menina negra na escola implicava enfrentar uma batalha constante em busca de acessibilidade e respeito. Todos os dias, Serena carregava consigo o fardo dessa batalha. Com os olhos cheios de lágrimas, ela começou a alisar seus cachos, enquanto cada movimento da escova modificava sua beleza natural para se adequar aos padrões impostos pela sociedade.
- Mãe, me perdoe. .. - Murmurou ela, sentindo o cabelo se alinhar, enquanto a angústia de seguir os padrões sociais pulsava dentro dela.
Ao passar a escova, Serena era constantemente lembrada dos olhares de desprezo e das sugestões maldosas. A Coordenadora Parson tinha o hábito de criticar seus cabelos, além disso, ela constantemente minava sua autoestima fazendo com que ela duvidasse do seu valor. Para Serena, alisar o cabelo era fundamental para sobreviver, pois lhe permitia evitar a vergonha e o isolamento provenientes da humilhação pública e das reprimendas.
No entanto, Serena carregava consigo uma força indomável, um espírito que se negava a ser completamente desligado. A cada fio de cabelo alisado, ela era lembrada da batalha que enfrentava, mas também vislumbrava silenciosamente a promessa de um futuro onde finalmente seria aceita por quem realmente é. Mais uma vez, ela se admirou no espelho, com os cabelos lisos caindo sobre os ombros; prometendo a si mesma que não abandonaria a luta por sua dignidade e por um futuro em que fosse respeitada sem precisar mudar quem era.
Suspirando pesadamente, Serena deixou o quarto e se preparou para enfrentar mais um dia com a avaliação crítica da Coordenadora Parson. Embora seu exterior pudesse ser ajustado às expectativas da escola, sua alma pulsava com a determinação de uma garota que nunca abriria mão de luta por quem ela realmente é e pela sua liberdade.
Ao sair do quarto, Serena caminhava pelo corredor da escola com passos lentos e pensativos. O eco das palavras da Coordenadora Parson ainda ressoava em sua mente, fazendo-a se sentir menor do que realmente era. Ela olhou para o chão, perdida em seus pensamentos, quando de repente esbarrou em alguém.
- Ah, desculpe! - Serena murmurou automaticamente, levantando os olhos para ver quem era.
Era Lilith, sua melhor amiga e colega de quarto. Serena sentiu um alívio imediato ao ver o rosto familiar e caloroso de Lilith, que parecia sempre emanar uma aura de confiança e força.
- Serena, você está bem? - Lilith perguntou com preocupação, colocando uma mão no ombro de Serena.
Serena hesitou por um momento, os olhos baixos, antes de finalmente responder com sinceridade:
- Estou... - sua voz soou triste, carregada de um peso que Lilith conhecia bem. - E você?
Lilith deu um suspiro profundo, seu rosto denotando exaustão e uma tristeza intensa que ela tentou encobrir com um sorriso invocado.
- Tem sido uma jornada difícil, mas eu vou ficar bem. .. - Enquanto comentava, sua voz trazia um misto de emoção contida e seus olhos deixavam transparecer a intensidade do luto que carregava consigo. - Vamos, precisamos ir para a sala do professor recém-chegado. Mais um reforço para as provas antes dos exames. ..
Serena olhou para Lilith, preocupada com a dor velada que ela tentava esconder sob uma fachada de normalidade. Lilith não tentou demonstrar, mas Serena sabia o quanto a perda do irmão estava afetando-a.
- Lilith, se você precisar de alguma coisa. .. - Serena começou de forma atenciosa, colocando-se à disposição com um suporte discreto.
Com um aceno leve de cabeça, Lilith ficou feliz e expressou gratidão pelo gesto de sua amiga.
- Obrigada, Serena. Eu realmente aprecio isso. - Antes de se recuperar, ela respondeu com sinceridade e um breve brilho de gratidão nos olhos.



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⏰ Última atualização: Jun 22 ⏰

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