37

196 52 7
                                    

Hermes

Alguns dias depois

O luto é um sentimento que precisa ser vivido, e Catarina o viveu durante todos esses dias, usando roupas escuras e rezando pela alma de sua amiga em horários específicos. Hoje resolvi trazer ela, Ágata e meus sobrinhos até um restaurante aconchegante perto do nosso apartamento, sei que um passeio com almoço, uma deliciosa sobremesa e uma caminhada no parque farão bem a elas.

– Poderia muito bem cozinhar, meu irmão! Não gosta da minha comida, Hermes?

– Amo sua comida, minha irmã complicada, eu adoro inclusive, mas queria dar um descanso para vocês. Não saem do apartamento para nada, quero que se divirtam, são jovens e bonitas, precisam ver o mundo fora do apartamento.

Ágata olhou para mim tomando um gole do suco rindo logo em seguida apontando para o seu rosto.

– Bonita? Você precisa parar de tentar nos agradar, Hermes, vamos ficar mal acostumadas mas eu e Catarina gostamos de ficar em casa com os bebês, é bobagem sua pensar o contrário, meu irmão. Mas sei que está querendo conversar conosco, diga o que é, sem rodeios, Hermes.

– Às vezes esqueço como você é observadora, então vamos ao que interessa, quero contar sobre a proposta que recebi dos irmãos Tolentino, eles querem que trabalhe com eles em sua empresa de engenharia, mas se aceitar vamos ter que morar aqui de maneira definitiva, isso é um problema para vocês?

Catarina sorriu com seu olhar fixo em um ponto como sempre, depois que soube da morte de sua amiga, parece que seus olhos perderam mais um pouco do brilho, me preocupo com ela e como pode entrar em uma profunda depressão por tudo que houve em sua vida.

– Hermes, onde for, nós iremos! Se não percebeu, não temos ninguém por nós portanto se realmente quiser aceitar a proposta, aceite, meu irmão. Eu e Catarina estaremos ao seu lado no que decidir.

Ágata segurou minha mão em um dos vários gestos de carinho que ela vem tendo comigo desde que aceitou minha irmandade. Sinto de verdade que nossa ligação é algo acima do sangue.

– Vou aceitar! Queria conversar com vocês sobre um assunto importante: sei de tudo que passaram e gostaria de ajudar mais do que já faço. Procurei uma clínica de psicologia, penso que vocês deveriam fazer terapia.

– Não precisamos disso, Hermes! Estamos bem, precisamos apenas cuidar dos bebês e de você. Eu gosto de zelar da nossa família, passar seus ternos bonitos, lavar as roupas e cozinhar, essa é minha terapia.

– Catarina? Não gostaria de ir na psicóloga?

Ela segurava Hércules brincando com suas mãos, sua fisionomia mudou quando falei de terapia.

– Não, estou bem, Hermes! Concordo com Ágata em tudo, agradeço a preocupação. Só preciso ir ao médico novamente, meus calmantes acabaram, assim que terminarmos o almoço poderia nos levar em consultório, apenas para renovar a receita.

Catarina não percebe mas sei que está se tornando novamente dependente química, somente está mudando as drogas ilícitas pelas legais, ela tem pesadelos, chora durante a noite, não tem uma boa noite de sono e sempre parece entorpecida.

– Tudo bem, não vou forçar a barra com vocês, minhas irmãs, mas vou insistir até decidirem por irem.

Ágata balançou a cabeça em negativo mas essa derrota não vai me fazer desistir de tentar. O almoço logo foi servido, conversamos sobre meus planos enquanto elas alimentavam as crianças, de repente vejo Aurélio e Marco vindo em direção da nossa mesa, tento dar sinal para não virem mas é tarde demais.

Catarina Where stories live. Discover now