38-Perda...

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Estou chorando em uma sala de hospital, toda a dor que eu senti no parto da Elizabeth eu estou sentindo de novo, resolvi fazer parto normal assim como o da Elizabeth, e estava tentando não gritar tanto quanto da outra vez, eu estava sofrendo, mas quem também estava sofrendo era o Beck, eu estava apertando a mão dele com tanta força, que eu senti pena dele.
Eu só estava tentando não gritar, mas não adiantou muito, porque cada contratação que eu sentia, parecia um soco na minha barriga, e a cada vez mais a dor piorava.
Eu já estava ali a algum tempo, estava demorando mais do que eu imaginava, já estava começando a ficar sem ar.
Escutei os médicos falarem que estava muito difícil de o bebê sair, e que eles precisariam começar uma cesaria de emergência, e eu fiquei mais preocupada ainda, além disso eles começaram a falar umas coisas que eu não entendi, parecia que eles estavam falando em código, mas também não me forcei a entender, estava sentindo tanta dor que eu não conseguia prestar atenção em nada, e eu até preferia não ter prestado atenção quando um dos médicos falou.

- O parto está muito difícil, e mesmo se a gente começar uma cesaria agora, pode ser que não saia como o previsto, eu não quero assustar vocês, mas as chances de os dois saírem vivos daqui são muito poucas, então vocês querem tentar as poucas chances, ou escolher entre a Jade ou bebê pra sobreviver?

Eu já estava chorando muito, então nem deu pra perceber quando eu comecei a chorar mais com o que o médico disse, mas o Beck, não estava chorando antes, e começaram a cair várias lágrimas dos olhos dele.
Quando eu fiz aquela pergunta pra ele a três meses atrás, eu não imaginava que ela iria se tornar real, eu tomei todos os cuidados possíveis, fiz de tudo pra gravidez seguir bem, mas parece que não adiantou de nada, eu nem sabia o que falar para o médico, e na verdade nem conseguia, estava sentindo tanta dor que o máximo que eu conseguiria fazer era gritar, então o Beck que teria que responder, será que ele ainda tinha a mesma opinião? Será que ele iria responder a mesma coisa que respondeu pra mim a três meses atrás?
Ele me olhou, com os olhos cheios de lágrimas, eu balançei a cabeça fazendo sinal de sim e ele disse.

- As chances são muito poucas né? - Ele perguntou e o médico assentiu. - Então eu quero que a Jade fique bem, eu quero que ela sobreviva.

Se eu conseguisse falar alguma coisa, eu falaria pra ele pensar melhor, pra ele pensar se era realmente isso que ele queria, e se eu soubesse que isso fosse realmente acontecer, eu teria dito pra ele repensar na resposta, eu não queria morrer, mas eu também não queria que meu filho morresse, eu conheço o Beck, eu sei que ele pensa antes de falar, e espero que ele não se arrependa da escolha.
Ele parecia decidido, mas sei que estava destruído por dentro, eu também estava.
Eu nunca pensei que fosse chorar por um bebê, ainda mais por um que nem nasceu, mas eu acho que eu comecei a sentir uma coisa, eu comecei a sentir o amor que as mães tem pelos filhos, e ter que fazer meu filho morrer pra mim sobreviver, eu não acho que isso seja amor de mãe.
Tive que tomar anestesia para o parto cesaria acontecer, enquanto eles tentavam tirar o bebê de dentro de mim, o Beck ficou o tempo todo segurando a minha mão, mas agora ele parecia estar sentindo mais dor que eu, mas não uma dor física, e sim uma dor emocional, uma dor no coração, a dor de perder um filho, uma dor que eu não desejo pra ninguém, porque além dele eu também estava sentindo.
Depois de muito choro e muita dor, finalmente tinha acabado, na verdade eu acho que não, eu iria chorar por mais muitos dias ainda, mas finalmente o parto havia acabado.

- Eu sinto muito. - O médico que tinha falado antes disse e saiu da sala.

Perguntaram se nós queríamos ver o bebê, mesmo ele estando morto, nós assentimos, só pra ver como ele era mas não quisemos tocar nele.
Quando um dos médicos mostrou o bebê mais lágrimas caíram do meu olho, eu pude ver a tristeza do Beck, pude ver que ele estava segurando o choro, provavelmente pra não demonstrar pra mim que estava tão triste, afinal ele teve que escolher entre mim e o bebê e talvez não quisesse que eu me sentisse mal pela morte do nosso filho.
Depois que todos os médicos saíram da sala, eu fiquei sozinha com o Beck, não sabia nem o que falar pra ele, mas na verdade eu nem consegui falar nada, no momento em que ele olhou pra mim eu não aguentei e comecei a chorar mais ainda.
Ele me abraçou com cuidado, eu queria poder retribuir o abraço, abraçar ele com toda a força do mundo, mas a minha barriga tinha sido cortada e depois costurada então não podia me mexer muito.

- Desculpa. - Falei chorando.

- Tá tudo bem Jade, não foi culpa sua.

Em nenhum momento em que estava comigo o Beck chorou, claro que caíram algumas lágrimas, mas não chorou como eu.
O meu pai, a Diana, e os pais do Beck entraram no quarto, então antes que eles pudessem dizer alguma coisa o Beck foi até eles, e aí sim eu percebi que ele começou a chorar de verdade, ele não se virou pra mim para que eu não pudesse ver que ele estava chorando, mas eu percebi, e a mãe dele perguntou porque ele estava assim, ele levou todo mundo pra fora do quarto, acho que porque ninguém sabia o que tinha acontecido, e pra ninguém falar nada que me chateace, meu pai foi o último a sair, então ele que fechou a porta, e antes que ele pudesse fechar eu vi o Beck abraçando a mãe dele, já fora do quarto.
Eu não queria fazer ele passar por isso, era claro que ele estava destruído por dentro.
Depois de alguns minutos, quando eu já tinha parado de chorar, todos eles voltaram para o quarto, menos o Beck.

- Nós sentimos muito filha. - Meu pai disse.

Quando ele disse isso, eu voltei a sentir uma vontade imensa de chorar, mas tentei segurar.

- Deve estar sendo muito difícil pra você mas você tem que ser forte. - A mãe do Beck disse.

- Desculpa, mas eu posso ficar um pouco sozinha? - Falei.

- Claro meu amor, se precisar de alguma coisa você chama. - A Diana disse.

Eles já iam saindo do quarto, mas eu falei para o meu pai ficar um pouco mais.

- Pai, cadê o Beck? - Perguntei.

- Está conversando com uns médicos.

- Como ele está? O que ele falou pra vocês?

- Ele parecia bem arrasado, falou o que tinha acontecido com muita dificuldade por causa do choro.

- Ele quase não chorou aqui comigo, acho que não queria que eu visse ele chorando... era só isso que eu queria falar, se você ver ele, pode falar pra ele vir aqui, eu quero falar com ele.

- Tá bom, e mais uma vez, eu sinto muito pelo que aconteceu.

Ele saiu do quarto e alguns minutos depois o Beck entrou, com o rosto meio vermelho por causa do choro.

- Senta aqui. - Falei pra ele sentar na beira da cama.

Segurei a mão dele.

- Não precisa esconder o choro de mim. - Eu disse e no momento que eu falei parece que todas as lágrimas que ele tinha segurado perto de mim saíram e eu passei a mão no rosto dele enxugando as lágrimas. - Porque você não queria que eu visse você chorar?

- Não queria que você se sentisse culpada por eu estar triste, mas saiba que eu fiz a melhor escolha, não conseguiria viver sem você mas eu queria que o nosso filho estivesse aqui também.

- Eu sei, eu também queria, sei que você tá triste, não precisa esconder o choro perto de mim, esses primeiros dias não vão ser fáceis, até a gente superar tudo o que aconteceu, vai ter muito choro ainda, mas vamos passar por isso juntos.

- Eu falei para o médico que nós vamos fazer o enterro, mas se você quiser cremar o corpo...

- Você escolhe.

- Eu conversei com o médico, ele disse que você vai poder sair daqui amanhã.

- Que bom que eu não vou ficar aqui por muito tempo.

Tudo que aconteceu hoje me fez perceber que a vida nunca é como a gente deseja, três meses atrás me falaram que ida dar tudo certo e que nada de ruim ia acontecer, mas parece que estavam errados, aconteceu uma coisa horrível, que eu nunca na minha vida vou esquecer, mas eu tenho que tentar superar, afinal eu sei que foi para o melhor.

Uma grande mudança (Bade)Onde histórias criam vida. Descubra agora