Capítulo 15

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Depois de tudo o que aconteceu, as coisas entre mim e Fushigoro mudaram. Não havia mais aquelas conversas constantes, aquelas trocas de mensagens que pareciam tão naturais. Não, agora havia um silêncio desconfortável, algo não dito entre nós que parecia impossível de resolver. Eu sabia que parte disso era minha culpa, mas não podia lidar com aquilo naquele momento.

Então, quando Shoko me chamou para fazer o curativo, eu inventei uma desculpa qualquer. Disse que seria mais fácil se alguém mais experiente em cuidados médicos me ajudasse, ou que Kamo já estava acostumado com essas coisas. Eu só não queria mais Fushigoro perto de mim daquela forma, tão íntimo, tão... confuso.

Para minha surpresa, Kamo aceitou prontamente ajudar. Ele sempre foi atencioso, e talvez, de alguma forma, quisesse me distrair do que eu estava sentindo. Um dia depois, ele me convidou para sair à noite. Eu sabia que ele estava tentando me animar, tirar meu foco de tudo o que estava acontecendo com Fushigoro. Eu concordei, achando que seria uma boa distração.

Mas, para minha surpresa, descobri que Fushigoro e Mai também tinham combinado de sair no mesmo horário. Claro que isso só fez tudo ficar ainda mais complicado. Eu tentava não pensar muito nisso, mas era difícil. A imagem dos dois juntos, especialmente depois de tudo o que havia acontecido, me deixava inquieta.

O silêncio entre mim e Fushigoro era sufocante, e a ideia de vê-lo com Mai, mesmo que fosse apenas uma coincidência de horários, fazia meu coração apertar de uma forma que eu não queria admitir.

Agora, enquanto eu me preparava para a noite com Kamo, tudo o que eu conseguia pensar era em como as coisas tinham mudado entre nós. Como, de repente, parecia que estávamos em lados opostos, cada um tentando seguir em frente, mas presos na mesma rede de sentimentos confusos e não ditos.

Kamo veio me buscar pontualmente, sempre educado e gentil como de costume. Ele parecia estar tentando aliviar a tensão que pairava sobre mim, e eu estava grata por isso. Fomos a um restaurante aconchegante, com luzes suaves e uma atmosfera tranquila, o tipo de lugar onde você pode esquecer o mundo lá fora por um tempo.

Enquanto conversávamos, me peguei rindo das piadas dele, distraída ao falar sobre minha série favorita. Kamo era bom nisso, em fazer as pessoas se sentirem à vontade, em criar um espaço seguro onde nada parecia tão complicado. Mas, por mais que eu tentasse me concentrar na conversa, havia uma parte de mim que estava constantemente alerta, como se estivesse esperando algo acontecer.

E, então, aconteceu.

No meio de uma risada, vi algo pelo canto do olho que fez meu estômago revirar. Fushigoro e Mai estavam no mesmo restaurante. Eles estavam sentados do outro lado do salão, mas próximos o suficiente para que eu pudesse ver claramente a expressão descontraída no rosto de Fushigoro, o jeito como Mai se inclinava para ele, quase como se fosse natural. Eles pareciam íntimos, mais do que eu estava preparada para ver.

Minha voz falhou por um momento, e Kamo, sempre perceptivo, notou imediatamente. Ele seguiu meu olhar, vendo Fushigoro e Mai juntos, e depois voltou os olhos para mim. Ele não precisou dizer nada; seu olhar dizia tudo. Ele entendia. Entendia o que eu estava sentindo, mesmo que eu ainda estivesse tentando descobrir por mim mesma.

Ele deixou escapar um suspiro e, de maneira cuidadosa, perguntou:

— Sn, o que está acontecendo? Está tudo bem? A preocupação na voz dele era genuína, mas havia algo mais. Algo que dizia que ele já sabia a resposta, mas queria ouvir de mim.

Eu não aguentava mais segurar aquilo. A dor, a confusão, o medo de perder algo que eu nem sabia que queria tanto. E antes que pudesse me conter, as palavras começaram a sair.

Culpa Do Acaso - Megumi Fushigoro Onde histórias criam vida. Descubra agora