Talvez seja o álcool potencializando tudo o que há aqui dentro, mas a vida, ou o que nela habita, não vale a pena ser vivida ou sofrer por ela e sua condição angustiante. Sem esperanças, sigo nessa caminhada há anos. Seria hipócrita se dissesse que não houve fagulhas de esperança ou coisas boas nessa jornada. Sou grato e reconheço as coisas boas que me aconteceram ao longo dessa jornada. Peço desculpas pelo que vou dizer, talvez uma visão já depurada e repetitiva: das dores e angústias, das fagulhas de esperança e amor, já estou cansado, talvez já apático em relação a tudo. Penso nos meus bons amigos e familiares, mas com essa dor não posso viver. Não vejo nada que poderia de fato me tirar deste tormento. Para a angústia que advém da razão ao mundo e à depressão, nada pode curar, apenas há tratamentos e placebos. Quem nasce assim, mais sensível às dores do mundo, nada pode curar ou remediar uma alma fadigada.
Minhas experiências, boas e más, apenas mostram os dois lados de uma única moeda. Da vida, nada se leva, mas o pior da vida é nada levar ou vivê-la em vida. Como um morto-vivo, sigo tentando encontrar essa esperança, mas sabendo que essa angústia e vazio não têm cura. Não quero viver tentando tratar ou mitigar a mim mesmo, pois essa dor também sou eu. Não quero amordaçar, viver de placebos e amordaçado. Me pergunto como os outros vivem a vida sem dor ou anestesiados. É possível ser feliz e pleno em vida sem existir amordaçado e dolorido?
Meu caro amigo, meu nobre, pra você me abro, repito palavras repetidas: já estou cansado. Você me questiona de quê e eu digo: da vida e de mim mesmo. Falo e rogo a ti, não questione os maus hábitos dessa alma sofrida e cansada; me embriago para simplesmente não existir em vida, pois não consigo deixá-la. Sou empático demais, por isso me mato lentamente na expectativa de deixar este plano sem culpas maiores; não quero fazer os poucos ao meu redor sofrerem. Mas se um dia eu for, seja por um motivo ou outro, não chores. Acredite, aqui estou sofrendo mais; apenas o que desejo é paz para minha alma e mente atormentada.
Dessa vida, nada fui ou fiz. Talvez tivesse capacidade para ser um gênio, mas a vida me fez assim, condenado ao sofrimento. Da vida, nada espero além de uma morte tranquila, se possível, ligeira. Um ser patife como eu não era para existir. Vivendo essa vida e diante dos seus dilemas, já estou sem forças. A vida por si só já é demais; a vida em sociedade e suas exigências sobre o homem já são demais para mim, principalmente para um homem como eu, apagado por dentro. A existência e as vivências, experiências, são uma faca de dois gumes. Já sucumbi há tempos a essa tristeza que em mim, sem razão, habita desde meus 11 anos. Hoje, aos 23 anos, já estou cansado e a ela cedi. Cedi por pensar e sentir demais. A conclusão é que aqui seja apenas um estágio do inferno.
Sobre as relações e o amor, tudo são máscaras, e raramente, nesse baile, você encontra pessoas sinceras e dispostas. E mesmo que tenha, terá seus dilemas. Para alguém como eu, apostar não é uma opção. Prefiro hoje pagar para me embriagar e despender tempo numa mesa de bar, ou talvez me entorpecer sozinho, pois sei que meus vícios, meus carrascos e companheiros das noites insones serão sinceros. Nada engana, pelo contrário, mostra e faz vomitar o que há de triste e belo, faz vomitar quem sou através de palavras sem sentido e emoções vorazes. Mesmo que o preço a pagar seja a ressaca e um vazio maior que Deus no dia seguinte. Mas naquele momento, fui apenas eu mesmo, sem me importar, sem pensar e sem sofrer de forma consciente e agonizante.
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Diário de Alguém que Cresceu às Pressas
RandomNum mundo obscurecido pela desilusão e pela introspecção, acompanhamos a jornada de um protagonista atormentado pela lucidez de sua própria alma. Nessa narrativa introspectiva, o protagonista confronta sua própria insignificância e mediocridade, enq...