Capítulo 1 - Poetizando

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Desde pequena eu sempre gostei de fotografar. Quer dizer, não que eu seja lá muito grande com meus 1,63 de altura e 14 anos no currículo, porém fotografia é, desde sempre, algo que me encanta. Por tudo que consiste em uma imagem num pequeno quadrado, tudo o que há em volta numa paisagem, o que guarda no olhar risonho de algumas pessoas, no que pensam aquelas que são pegas desprevenidas. É uma imagem colorida, ou não, que pode guardar um mundo de possibilidades. O mundo em uma fotografia.

É incrível imaginar onde foram tiradas todas aquelas fotos que nós encontramos na casa de parentes que querem relembrar os velhos tempos. Tantas histórias ruins e boas guardadas em um quadrado. Uma fotografia revelada logo depois de passar por todo aquele equipamento de filmes polaroid, a bolsa de fluídos que passa pelos cilindros metálicos apertados que estouram a bolsa espalhando os fluídos na moldura de plástico em um formato próprio. Pois é, eu amo muito tudo isso.

Um dia, eu li em um livro, numa fala de um velho sábio algo mais ou menos do tipo "não devemos tirar fotos de pessoas, elas ficam presas nas fotografias", mas eu acredito que é muito mais que isso. Não é questão de deixar as pessoas presas em uma mera imagem de uma fotografia revelada ou em uma foto salva no computador, é sobre contar histórias.

Fotos fazem isso. Elas contam histórias sobre uma época, um lugar, um sorriso. E, ainda muito pequena, eu tinha escolhido contar histórias com minhas fotos.

— Fica parado aí, não se mexe! — Corro para tirar minha máquina da minha mochila e levo-a ao meu rosto, focando no quadradinho para ver a imagem a minha frente.

Luís, meu melhor amigo, está diante da minha casa. Sua mochila em um dos lados do ombro e ele encostado de frente para o portão, olhando para cima, nada específico. Um feixe de luz solar o atinge bem no cabelo castanho claro, o que é raro já que o inverno em Belo Horizonte costumava ser nublado e seco, impedindo o sol de aparecer por um tempo. Luís acaba ficando com cara de assustado na imagem e eu sorrio.

— Eu já devia estar me acostumando com essa sua loucura de fotografar tudo — diz ele, quando me aproximo admirando a imagem se formando no filme fotográfico. Perfeita!

— Ei, não é loucura! Só é... Bom, não é loucura. — Rio e lhe entrego minha Polaroid enquanto busco pelo meu bloquinho de post it lilás e minha canetinha preta na mochila. — O que devo escrever?

— Último dia de aula para o recesso de inverno! Amém! — Luís brinca e eu aperto meus olhos o encarando. Ele parece pensativo demais naquele dia, ou de menos, como se tentasse esconder algo.

E isso é estranho.

Eu diria muito estranho.

— Seja mais poético, Luís! — reclamo apertando o passo para andar ao seu lado na calçada, equilibrando-me com minha mochila, o post it, a caneta e o filme fotográfico. Ele ri e segura minha mochila para mim. — E pode ir me contando...

— Contar o quê?

"12 de Julho de 2013
No portão da minha casa, ele se apoiou. Pensando em tudo ou pensando em nada?"

Escrevo rápido no post it, tampo a caneta e colo o papel autoadesivo na parte branca do filme, atrás da foto revelada. Faço malabarismo com o que tenho em mãos e guardo tudo, com exceção da câmara e da foto, na mochila que está com Luís.

— Fala! — insisto pegando a mochila e lhe entregando a foto.

Ele volta a rir quando lê a frase.

— Poética!

Eu assento e rio mais uma vez, colocando um cacho atrás da minha orelha. Essa mania eu ganhei há muito tempo, gostava me esconder sob meus cabelos. Não sei, gosto deles, cacheados, volumosos e longos. É uma luta para deixar arrumado, mas vale a pena.

Entre o Real e o Virtual (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora