Capítulo 25 - Explique os normais

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Coloco minha mão apoiada na testa enquanto procuro por rostos conhecidos nas arquibancadas. As pessoas buscam por lugares com sombra nas arquibancadas ou próximo das mesas do pátio, tudo para evitar o sol forte desta manhã. Outras transitam entre os trabalhos expostos na quadra, antes das apresentações de dança, luta e canto começarem. Um vento leve refresca o ambiente banhado pelo sol, o tempo está tranquilo até. Bem diferente da minha correria desde que cheguei à escola às nove da manhã.

Acordei mais cedo que o normal hoje, segui com Danielle e Arthur para a escola com nossa parte do trabalho de geografia e minha câmera fotografia — há uma semana a coordenadora da escola havia me pedido para fazer as fotos do evento, quando Luís contou para praticamente a escola toda que eu fazia curso e era louca por fotos e tudo mais.

Queria me esconder debaixo das cadeiras do auditório na hora, a Danielle, a qual acabou de tornando uma grande amiga, também, mas por outro motivo. Então os dias foram passando e eu me acostumei com ideia, e ela também. E agora estou aqui, captando tudo com minha câmera — usando do que aprendi nesses quase quatro meses de curso! —, e somando também algumas fotos que poderei usar na Versos e Fotos.

Depois de posicionar minha câmera perto dos olhos, enfim encontro alguém conhecido, que vem na minha direção rapidamente, alisando sua saia azul petróleo de modo nervoso e fazendo seu cabelo curto saltar várias vezes.

— Sabrina! Meu Deus! Se eu já estava nervosa antes agora estou o dobro! — admite e olha para os lados antes de sorrir nervosamente.

— O que aconteceu, Danielle? — pergunto, curiosa. Provavelmente ela deve estar ansiosa por ter que cantar na frente de toda a escola – graças à bocona do Arthur, motivo pelo qual ela queria se esconder no dia da reunião no auditório. — Isso tudo é ânsia por que vai cantar?

— Mais que isso! Já estou até tranquilo com esse trem. Só que... — Um meio sorriso irrompe seus lábios. Suas maçãs cheias do rosto, outrora brancas estão levemente avermelhadas e não sei se foi pelo caminhar rápido até mim ou pelo o que tem a me contar. — O Arth disse que queria falar comigo depois da festa! Acho que a gente vai ficar. Tipo ficar de verdade.

— Sério? — Enquanto meus olhos se abrem mais que o comum, Danielle acena rápido com a cabeça. — O shipper tá vivíssimo! — eu e Consciência dizemos juntas, ela fazendo dançinha e eu tentando agir naturalmente.

Estão ouvindo? Diz que estão! Esse coro de células cantando aleluia.

— O quê?

— Eu torcia para vocês ficarem juntos desde aquele dia que a gente começou a conversar por causa do trabalho de geografia, menina! — revelo e começamos a andar para que eu registre novas fotos. Ela arregala os olhos na minha direção e eu começo a enumerar: — Segurei vela, deixei vocês sozinhos quando fomos entrevistar o povo, fiz dupla com o Choquito naquele teste de matemática pro Thur fazer contigo... Fora quando eu mandava indireta, mais que reta, pro Thur tomar providências.

— Você fez tudo isso? — Seus olhos esbugalhados estão prontos para sair de órbita. Desfaço o arquear de sobrancelha e sorrio. — Tô ansiosa, não sei se é isso mesmo ou se tô criando expectativa demais sobre isso. Por isso com falar contigo. Achei que ele me considerasse só uma amiga. Aquele tipo de amiga nerd, sem graça e ainda por cima gorda.

Uma coisa que notei, quando passei a andar com a Danielle, é que ela se coloca muito para baixo, seja por qualquer imperfeição em seu corpo – daquilo que é ditado como padrão pela sociedade – e pior que isso, sua família não ajuda muito na sua autoestima. Desde então eu e o resto do nosso quarteto – vulgo Arthur e Luís – começamos a tentar mostrá-la que ela não precisa ser perfeita para ninguém, apenas amar-se como é.

Entre o Real e o Virtual (Concluído)Where stories live. Discover now