21 - Erros e acertos

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Capítulo 21

Lucas

Mais uma vez meu pai entra na minha sala gritando e me ofendendo por coisas das quais eu não tenho controle, meu pai sempre foi estúpido comigo, fui criado a base de gritos e humilhações e isso não mudou depois que cresci, agora ele quer que eu consiga o relatório da auditoria que meu avô contratou, mas eu não tenho como fazer isso e ele não aceita.
Vi quando meu avô entrou na sala, mas ele fez sinal pra eu não falar nada, depois de ouvir boa parte só que meu pai gritava, meu avô o expulsou da empresa, meu avô sempre me tratou muito bem, mas pro meu pai ser como é eu achava que meu avô também fosse assim, Nunca fomos muito próximos.
Depois que meu pai saiu, meu avô pediu um café e começou uma conversa que no início achei estranha, mas depois vi que era minha chance de sair das garras do meu pai.
_ Desde quando seu pai te trata dessa forma? - meu avô começou- Eu sempre percebi que o Paulo não era um pai carinhoso, mas não sabia que era um tirano.
_ Meu pai sempre foi assim comigo, nunca me tratou sequer com respeito, sempre xingando e humilhando.
_ Mas por que você nunca me falou isso, Lucas? Eu nunca ia admitir isso!
_ Mesmo eu nunca tendo visto o senhor agir da mesma maneira com ele, ele sempre me fez acreditar que o senhor também era assim, na minha vida parecia normal.
_ Nunca! Eu sempre procurei ser um pai atencioso, sempre resolvi tudo com diálogo. Seu já te agrediu fisicamente?
_ Vovô, meu pai sempre descontou tudo em mim, ele só parou de me bater quando eu consegui me defender.
_ Eu venho na empresa tentar saber sobre um absurdo e descubro outro maior ainda.
_ Olha, Vovô, eu sinto muito pelo que o senhor viu, eu não queria que o senhor se aborrecesse assim.
_ E eu ia continuar cego sobre o monstro que eu criei? Lucas eu vou acionar uma equipe da minha confiança pra fazer uma investigação minuciosa na vida do Paulo, eu quero saber de cada merda que ele fez aqui e espero contar com a sua ajuda.
_ Seria mais fácil investigar com ele por perto, na empresa. Agindo como se não desconfiasse de nada.
_ Você tem razão, eu vou até a casa dele mais tarde e dou um jeito dele voltar, mas antes vou trazer o pessoal da segurança pra instalar câmeras e escutas em pontos estratégicos da empresa. Quero também que você me dê acesso a todas as contas da empresa. O relatório da auditoria já está comigo e vou enviar a uma pessoa de confiança pra analisar minuciosamente, mas vou deixar uma cópia pra você fingir que ele foi o primeiro a ter acesso. Espero que essa conversa fique somente entre nós dois.
Depois de combinar tudo com o Vovô fui pra casa exausto, ainda no carro, liguei pra Raquel e pedi pra ela ir pra minha casa passar o restante do dia comigo, ela disse que teria um compromisso de trabalho, não poderia ir. Fui até em casa, tomei um banho e saí pra almoçar, visto que era quase duas da tarde e eu ainda não havia comido, fui até um restaurante próximo ao Central Park e quando estava estacionando o carro vi a Olivia saindo do restaurante de mãos dadas com o David, eles não me viram mas me senti incomodado de ver a Olivia tão íntima com outro cara, ainda mais ele sendo meu maior concorrente. Esperei eles saírem com o carro e entrei no restaurante, escolhi uma mesa discreta, fiz meu pedido e fiquei observando o local enquanto esperava.
  Assim que o garçom se aproximou trazendo minha comida, vi Raquel entrar acompanhada de um homem um pouco mais velho, eles não me viram então fiquei observando. Os dois pareciam discutir e ele várias vezes fez sinais como se mandasse ela se calar ela não baixava a cabeça e ele tornava a falar. Depois de cerca de vinte minutos chegou um outro homem a mesa deles, esse parecia bem mais velho e depois de sua chegada o clima de raiva sumiu. Entrei no perfil profissional dela nas redes sociais e descobri que o primeiro era agente dela quando iniciou a carreira, provavelmente haviam voltado a trabalhar juntos.
De onde eu estava, eu conseguia ver os três, mas não era possível ouvir o que conversavam, Raquel era só sorrisos para o velho e o agente que antes brigava com ela, agora a olhava com aprovação.  Eles pediram um champanhe, brindaram, em seguida o velho pediu a conta e saíram os três juntos. Na saída tive a impressão de vê-la entrar no carro do velho, mas não tenho certeza. 
  Mesmo ela estando com o agente, a interação deles era estranha, mais estranho era que esse restaurante não era um local famoso pra almoço de negócios. Parecia mais um local onde não se quer ser visto. Eu gosto, pois costumava vir com a Olivia aqui comer o que eles chamam de comida caseira. Por isso não estranhei quando a vi, mas é um lugar que não tem nada a ver com a Raquel.
Depois de sair do restaurante, resolvi caminhar um pouco no Central Park, estava uma tarde bonita e desde que ainda era casado com a Olivia que não venho aqui. Me sento em um banco perto do lago e fico por um tempo pensando, era tão leve conversar com a Olivia, hoje eu não tenho com quem conversar.
Será que fiz certo em me unir ao meu avô pra desmascarar o meu pai? Por que meu pai me odeia tanto? O quê a Raquel está me escondendo? O quê levou o vovô a empresa hoje de manhã? O quê a Olivia viu no panaca do David? Por que estou pensando tanto na Olivia hoje? São tantas perguntas sem resposta que acabei resolvendo voltar pra casa e mergulhar no trabalho pra tentar não pensar tanto.
  Chegando em casa, encontrei minha mãe na entrada do prédio, pelo visto não estava de bom humor.
_ Onde você estava? - perguntou assim que me viu.
_ Fui dar uma volta, a que devo a honra? - perguntei sem paciência.
_ Vamos entrar, não quero conversar no corredor como uma qualquer.
_ A vontade.
_ Seu pai chegou em casa muito alterado, o quê aconteceu?
_ O vovô chegou na hora que o papai estava exigindo o relatório da auditoria antes que fosse entregue ao vovô.
_ O quê aquele velho gagá estava fazendo lá?
_ Ele quer colocar logo a empresa a venda, foi ver se a auditoria foi concluída pra dar início às negociações. Só que o comportamento do papai fez ele desconfiar que há alguma coisa errada, por isso ele expulsou o papai da empresa, os dois brigaram feio e eu tive que me virar pra acalmar o vovô. Está satisfeita?
_ Você conseguiu acalmar o velho?
_ Acho que sim, pelo menos ele disse que vai conversar com o papai, eu disse a ele que o papai queria apenas que a auditoria fosse concluída logo, que ele havia entendido mal.
_ Seu avô tem que mudar de ideia a respeito dessa venda, e se o Paulo continuar agindo sem pensar vai colocar tudo a perder.
  Depois que consegui convencer minha mãe a acalmar meu pai, ela finalmente foi embora.

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