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16 de fevereiro

               Não demorámos mais de cinco minutos a chegar ao tal café onde Luke tencionava levar-me a almoçar. O silêncio reinava entre nós desde a pequena conversa que havíamos tido acerca dos problemas amorosos do rapaz de olhos azuis. Continuava espantada com o facto de Luke ter sido tão honesto comigo e, especialmente, com a sua coragem para me contar algo tão pessoal. Ficara surpreendida com as suas palavras, até porque nunca considerei Luke um rapaz que se preocupasse em agradar a uma rapariga. No entanto, as minhas suspeitas estavam certas quanto a Luke ser um rapaz humilde e de bom carácter, e, acerca disso, estava feliz por não me ter enganado. Apesar de ainda não o conhecer a cem porcento, sabia que ele já não era mais uma folha em branco para mim.

               – Queres que eu peça para ti? – Luke questionou, assim que entrámos no acolhedor café. As paredes tinham um acabamento rústico, contudo, a decoração era bem moderna e jovial.  

               – Deves conhecer melhor o menu que eu. – soltei um pequeno riso, ocupando uma das cadeiras de metal com a minha mochila. Do outro lado da mesa havia um sofá azul-escuro embutido na parede, e foi aí que me sentei. Peguei no panfleto que se encontrava em cima da mesa de madeira e observei as imagens tentadoras das variadas sandes. – Esta de frango parece-me bem. – apontei.

               Luke anuiu e pousou igualmente a sua mochila escura junto da minha, caminhando depois na direção do balcão comprido. Um homem na casa dos trintas sorriu-lhe com entusiasmo e parti do princípio que já se conheciam, no entanto, Luke manteve sempre uma distância de segurança, nunca se aproximando demasiado. Quando acabou de fazer os pedidos voltou até à nossa mesa, sentando-se no lugar à minha frente.

               – Desculpa se isto está a ser aborrecido. – Luke mordiscou o lábio enquanto olhava para o seu colo. Franzi o sobrolho.

               – Eu não acho que esteja a ser aborrecido. – abanei a cabeça e retirei do rosto os meus óculos, pousando-os a um canto da mesa. Queria obrigá-lo a olhar para mim mas não podia fazer nada para que isso acontecesse, até porque continuava com medo de cometer alguma asneira e deitar tudo a perder. – Aliás, eu... eu gostava de te agradecer por me teres convidado.

               Os seus olhos finalmente encontraram os meus e um largo sorriso tomou conta dos seus lábios. Ele era demasiado bonito. – Almoço sempre sozinho. Pensei que desta vez podia ter a tua companhia.

               – E pensaste bem. – tentei soar entusiasmada, todavia, os nervos estavam a impedir que eu agisse com naturalidade. – Às vezes também almoço sozinha, ultimamente mais do que o costume. Consigo ser muito solitária.

               O sorriso de Luke acabou por desvanecer e percebi que ele voltara a sentir-se incomodado com algo. – Pois. Eu pensei naquilo que tu me disseste no outro dia, no refeitório. Percebi que tens razão. Eu sou mesmo deprimente. A minha solidão é deprimente.

               – Eu não disse isso para te magoar. – murmurei, chateada comigo própria. Não queria que ele tivesse ficado com uma ideia errada daquilo que eu lhe tentara transmitir. – Eu apenas acho que ninguém merece estar tão sozinho. Toda a gente merece alguém em quem possa confiar.

               – Eu sei, Sophie. – um pequeno sorriso apareceu nos seus lábios, juntamente com umas adoráveis covinhas. Ouvi-o suspirar. – Eu entendi o que me disseste. Por muito que eu não goste, não posso correr o risco de acabar sozinho. Isso destruir-me-ia.

               Fiquei a olhar para ele sem dizer uma única palavra, esperando compreender a profundidade dos seus vocábulos. É difícil fazer isso quando não se está na pele de outrem, quando não se experiência aquilo que o outro experienciou e quando não se sente aquilo que a outra pessoa consegue sentir. E, por muito dolorosos que esses sentimentos possam ser, eu não me importaria de os vivenciar, apenas para puder consolar Luke da maneira que ele precisa.

Naive ಌ l.hWhere stories live. Discover now