Capítulo 23

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Sete horas já se passaram. O sol do segundo dia já estava se pondo.

— Que horas são, Garry? — perguntei.

Estava ansioso. Meu coração estava acelerado. Cada segundo, era um segundo a menos de Elizabeth. Sentia que explodiria a qualquer momento, conforme nos aproximávamos de nosso objetivo.

— Cinco e trinta e dois. — Garry avisou do banco de trás.

— Que horas chegaremos lá, Jo? — perguntei.

— Por volta das oito.

— Ok.

Balançava uma perna, freneticamente, além de não parar de roer as unhas.

— Acalme-se, garoto! — Joseph riu.

— Estou tentando! — as pernas moviam-se sozinhas, fazendo Garry gargalhar baixo.

Liguei o rádio para ver se relaxava, mas a cada música que tocava, passava um clipe, em minha cabeça, imaginando como seria salvar Elizabeth e o que encontraríamos lá. Precisaríamos usar nossas armas? Não conseguia me imaginar atirando em alguém, mas se fosse necessário, eu não hesitaria em fazê-lo. Tudo isso me deixava, ainda mais, ansioso, então desliguei o rádio. Nada de música, pois já começava a me sentir um idiota que imagina clipes de resgate olhando pela janela do carro.

— Vocês já jogaram paintball? — Joseph perguntou, sem tirar os olhos da estrada.

— Já. — respondemos juntos.

— Vai ser parecido quando chegarmos lá. Só que dessa vez, serão balas de verdade, então tomem muito cuidado. Usar uma arma, com munição real, é totalmente diferente. Você pode ser o responsável pela morte de alguém, entendem isso?

Assentimos.

— Joseph, você pegou coletes... — Garry começou.

— À prova de balas? — interrompeu. — Peguei. Mas só porque estarão de colete, não significa que não precisam tomar cuidado. Assim como temos armas, nossos inimigos também podem ter.

Assentimos novamente.

— O que você sente em relação ao meu pai, Joseph? — perguntei, repentinamente.

— Seu pai? — foi pego de surpresa.

— É. Vocês são irmãos, ele destruiu sua vida, assim como a de outras pessoas. Você não tem raiva dele? — franzi a testa.

— Seu pai tem o meu sangue, mas nada mudará o fato de que ele é um assassino. Eu não quero ser duro com você, mas já sabemos que você não é mais uma criança.

— Pelo menos uma pessoa da família pensa assim. Você já o visitou alguma vez? — perguntei, torcendo para receber a resposta negativa que queria.

— Sim. — como sempre, curto e grosso.

— Quantas vezes? — meu incômodo era notável, mas eu precisava enxergá-lo sem a sombra de meu pai.

— Algumas. — Joseph sendo Joseph — Soquei a cara dele da última vez, se é isso que quer saber.

Não pude evitar um pequeno sorriso no canto da boca, enquanto olhava pela janela.

— Eu não sou ele, Brad. Espero que um dia você consiga ver isso.

— Eu também. — respondi, sem tirar os olhos da janela.

Fiquei em silêncio. Não havia nada a ser dito, então apenas nos concentramos na estrada à nossa frente.

▪️ ▪️ ▪️

Oito horas.

Estávamos a menos de cinco quilômetros de Elizabeth. Meu coração acelerava, ainda mais, cada vez que pensava que estávamos próximos e todo aquele pesadelo chegaria ao fim. Para nós dois.

— Você não quer pedir reforço, Jo? — perguntei.

— Eles demorariam mais dois dias.

— Talvez eles tenham contato com alguma unidade daqui. — Garry disse.

— Não dá mais, garotos. Agora somos apenas nós três.

Olhei para o banco de trás, onde Garry já encarava-me.

— Tudo bem, então. — encostei-me no banco e fiquei olhando as árvores passarem pela janela.

▪️ ▪️ ▪️

Ainda faltava cerca de três quilômetros para chegarmos, quando Joseph parou o carro.

— Por que paramos aqui, Jo? — perguntei confuso — Temos que chegar logo.

— Vocês precisam treinar e precisamos de uma estratégia.

Saímos do carro e Joseph começou a montar um tipo de percurso com coisas da floresta e algumas tralhas tiradas do carro. Galhos, latas e pedras, faziam parte do nosso treinamento de quinze minutos antes de entrarmos na zona de guerra.

— Isso será tipo uma corrida. Tentem completar o mais rápido que conseguirem. Eu cronometrarei tudo.

Ele tirou as armas do porta malas e nos ensinou a carregá-las, trocar munição e a como segurá-las.

— Não esqueçam de vestir os coletes. Vocês precisam se acostumar com o peso para não perderem o equilíbrio e nem a mobilidade, quando chegarmos lá.

Vestimos os coletes, mas ele não, já que estava familiarizado, o suficiente, com toda essa loucura de colete, balas, armas, bombas, etc.

— Quando eu der a partida, vocês farão o percurso juntos. Depois farão mais uma vez, só que individualmente. Entenderam?

Concordamos e nos posicionamos no início da pista.

— Um. Dois. Três. Agora!

Corremos juntos, cercando um tronco pequeno. Joseph havia o marcado para fingirmos que era o homem de costas para nós. Depois corremos até outro, onde eu apontei a arma em sua frente, enquanto Garry chegava por trás, silenciosamente. Assim que acabamos a primeira prova juntos, repetimos o mesmo processo, individualmente.

— Agora iremos testar a mira de vocês. Atirem nas latas à sua frente. Depois farão mais um percurso com as latas em vários lugares diferentes.

Começarmos a atirar nas latas à nossa frente, derrubando todas. Garry conseguiu derrubar as latas primeiro que eu, sua mira era melhor que a minha.

— Muito bom! — elogiou — Agora para o percurso. Mais uma vez começarão juntos e depois teremos o individual.

Treinamos por mais tempo do que achei que levaria. Tínhamos muitas falhas de execução, posicionamento, cautela, entre outros. Joseph fez o máximo que nossas condições e recursos permitiam. Não estávamos no nível de um agente do FBI, mas já não estávamos mais completamente perdidos e sem saber o que fazer e como agir em determinadas situações.

Tínhamos o básico e tínhamos, teoricamente, Joseph ao nosso lado. O que não tínhamos mais era tempo a perder no resgate de Elizabeth. Cada minuto, desde o seu sequestro, contava e não nos daríamos ao luxo de desperdiçá-los. 

A Garota dos meus SonhosWhere stories live. Discover now