Inicialmente De Hoje Não Passa! seria algo curto, que tinha o nome de Flores Roxas e Amarelas. Na verdade, uma historieta. Daquelas que a gente se pergunta: "E aí? Acabou?".
Para mim, teria sido mais fácil ter seguido essa linha. Teria terminado no Capítulo IV. Antes até. Porém, a melhor e a pior coisa do Wattpad é que o sistema permite que os autores postem suas histórias em capítulos. Isso cria uma atmosfera de curiosidade para quem lê e - acredite - também para quem escreve.
O motivo que me fez avançar e, de uma "historieta" transformar em algo maior, foi a minha própria curiosidade sobre os personagens. Quem eles eram? O que tinham passado até aquele momento? Como prosseguiriam suas histórias? Não era justo, pra mim, deixá-los na metade do caminho. Resolvi dar uma carona à Elisa, Laura e Ricardo.
Quando terminei de escrever, vi que havia escrito uma revanche sobre a experiência que passei em 2012 quando estive internada em uma clínica "que mais parecia um hotel". A vida me deu um limão. Era hora de fazer alguma coisa com ele.
Foi uma das melhores experiências dos meus recém completados 36 anos.
Lá, conheci Ricardo.
Longe das alegorias dessa história, o médico existe. De verdade. Tanto que, para não o confundir com o personagem, passei a chamá-lo de "Ricardo real". Seguramente, um dos melhores médicos que já conheci. Uns 15 anos mais velho que o da ficção e muito mais experiente, o que significa que não cometeria os mesmo erros que o meu personagem. Talvez.
E óbvio que nada do que fez você virar as páginas e chegar até aqui, aconteceu. Bom, dizer "nada" é desprezar alguns diálogos reais, lugares reais. Então não vou dizer que "nada" aconteceu. O meu envolvimento com o médico terminava depois que, sempre sorrindo, se despedia com ares triunfante de missão cumprida e, mesmo que não acreditem, não continuava nem na minha cabeça.
Havia convivido por quase um mês, umas duas vezes por semana, talvez três, com um profissional do qual eu não sabia absolutamente nada. Não achava justo. Logo eu que escarafunchava o currículo de todos que, com o pretexto de terem a permissão de um diploma, queriam me tratar. Fosse para uma gripe ou uma cirurgia de colocação de próteses no quadris, como a que eu tinha me submetido dois anos antes.
Ah, esse não iria escapar do meu radar!
E lá fui eu, como um soldado determinado a marcar presença numa guerra inexistente, de posse do nome completo e do registro no CRM, direto para a maior terra-de-ninguém já conhecida: o Google.
Escritor? Como assim, "escritor"? Ele sabia que eu gostava de ler, estava sempre com um livro na mão e... custava ter dito que ele era, além de médico - um ótimo médico, por sinal - escritor e até prêmio ganhou?
Eu estava muito, mas muito indignada com aquela omissão. Pior do que isso era saber que só eu e meu notebook tínhamos conhecimento do meu pequeno protesto diante das informações do Google. Nem o cachorro, que sempre está por perto, presenciou esse momento de extrema irritação.
Como eu deixei essa informação passar? Deveria ter percebido até na forma como ele anotava coisas que, até hoje, não faço ideia do que sejam. Logo eu que era tão observadora quando o assunto era médico!
Tomei aquilo como uma traição! Sim. Eu cheguei ao limite do drama e por lá fiquei sentada uns dez minutos.
Esse foi o tempo que demorei para começar a considerar que, talvez, em algum momento ele quisesse falar e tenha se sentido, por alguns segundos, um bosta por fugir da intenção. Não deve ser fácil para alguém que escreve entre milhares, ver por perto uma pessoa que se interessa por literatura e trancar, dentro de si, a informação de que ele também é um escritor. Talvez faltou contexto. Tempo. Embora contexto se crie e tempo, se arranje!
Mas, sem ressentimentos: resolvi ser inteligente e usar isso a meu favor. Afinal, não é todo mundo que tem como "seu" médico um médico-escritor.
O status de escritor o tira do pedestal acima de tudo e todos no qual todos parecem escalar antes mesmo de entrar na faculdade. O torna um profissional diferente. Naturalmente sensível. Era bom ser atendida por alguém que sabia a importância das letras e, talvez por isso, no receituário, escrevia com letra bonita. É bom saber que fui atendida por um médico que sabe usar a crase e lê Rubem Fonseca.
Quando tive alta da clínica, deixei de ser atendida por ele. Tudo porque ele atendia em uma cidade longe de onde eu moro. O consultório particular ficava, de ônibus, há uma hora para ir, outra para voltar. Sem contar que ônibus para lá tinha apenas em alguns horários bem específicos: se perdia o que precisava, perdia parte da dignidade. Por isso, mesmo para se consultar com um médico que sabia usar a crase, era muito sacrifício.
Porém, depois de alguns processos terapêuticos desastrosos com outros médicos, resolvi ignorar o fator tempo, espaço e transporte público para ter os cuidados dele novamente.
A fama profissional do cara é tamanha que, na cidade na qual ele matém o consultório particular - a que fica meia eternidade da minha casa - mesmo quem nunca consultou com ele, o conhece e elogia.
Lembro que, quando fui pela primeira vez em seu consultório, havia esquecido o endereço do local. No ponto de táxi, falei um nome esquisito, nada a ver com o endereço. Como resposta, o taxista me retornou com uma cara de "sem endereço, sem corrida".
Lá pelas tantas, depois de todas as tentativas frustradas de lembrar do endereço ou conseguir uma boa conexão de internet para procurar, falei o nome do médico. Última tentativa. Santa alternativa. Quatro quadras depois, estávamos em frente ao local que eu queria, com direito a boas referências do trabalho dele.
- O senhor é paciente dele? - perguntei ao motorista bonachão.
- Não, mas ele é bem conhecido aqui. Eu conheço muita gente que se trata com ele e diz que é um bom médico.
Para uma cidade de um pouco mais de 60 mil habitantes é quase um ponto turístico. Pra mim, uma inspiração. Uma pessoa muito responsável, séria, mas de sorriso fácil. Típico de quem faz o que gosta e faz todos a sua volta se sentirem especiais.
Agradecimentos
Em um espaço para agradecimentos eu teria muita gente para agradecer. Muitas pessoas que leem, comentam, favoritam, mandam recados inacreditáveis pelo whatsApp, Facebook, e-mail, inbox e tornaram a jornada da Elisa, do Ricardo e da Laura muito mais significativa para eles e divertida para mim. Não saberia por onde começar a lista porque, sinceramente, não sei onde ela termina.
Mas quero agradecer à TatiLopatiuk (Obras no Wattpad: All Across The World, All Across The World 2 e Invísivel) por ter sido, involuntariamente, a força motivadora que fez meus escritos saírem da gaveta e serem compartilhados.
Hoje a vida segue por aqui. O primeiro de muitos que seguirão e que me possibilitou ouvir a reprodução de uma frase que uma amiga ouviu em uma palestra, a qual eu vou levar para a vida: "O feito é melhor que o perfeito". Então sigamos.
Se quiser:
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Agosto de 2015.
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